O motivo pelo qual a fera caminha na terra.
No ano de 1249 antes do nascimento de Cristo, no norte da Grécia antiga, Licáon, rei de uma região posteriormente conhecida como Arcádia, desafiou os deuses com sua crueldade. Os estrangeiros que porventura pusessem os pés em seu reino eram sacrificados a mando do tirano.
No entardecer avermelhado, sobre um penhasco onde as rochas perdiam a cor escondidas sob o sangue espirrado das degolas comandadas por Licáon e seu punhal de oferendas, os corpos despencavam com suas cabeças separadas do tronco. Aqueles que não morriam pela lâmina fria nas mãos desse rei de coração negro, que espelhava a linha do horizonte na garganta limpa dos pobres estrangeiros, eram forçados a mergulhar para a morte num mar de rochas pontiagudas.
O coro dos desesperados era alto e os berros da agonia fizeram tremer os pilares de mármore no paço divino do Monte Olimpo. O choro daqueles que morriam para satisfazer os desejos sádicos de um tirano incomodou Zeus em sua morada. Diante dos rumores constantes sobre as atrocidades cometidas por Licáon, a divindade suprema da mitologia se disfarçou como um simples mortal e desceu da casa dos deuses em uma noite enluarada, de céu estrelado, para averiguar pessoalmente se os boatos eram verídicos.
Zeus trilhou a estrada dos estrangeiros como qualquer outro viajante até chegar à Arcádia, terra comandada com mão de ferro pelo rei. Na noite em que chegou ao palácio real, com o pretexto de pernoitar para continuar viagem na manhã seguinte, Licáon estava oferecendo uma de suas festas dionisíacas regadas a comida, danças e ótimo vinho. O deus, vestido em túnicas desgastadas pela extensa viagem, caminhava despercebido entre os convidados, como um simples mortal. Mas, durante sua peregrinação solitária, tinha revelado sua divindade a alguns camponeses e habitantes do reino em troca de comida e abrigo, sendo obrigado a cumprir funções biológicas que não eram de seu costume divino. Alguns desses camponeses haviam comparecido à festa e o suposto viajante, naquele cenário luxuoso tão avesso à imagem pobre que exibia, foi identificado, logo sendo venerado como o ídolo máximo do Olimpo.
A visita de um deus já era aguardada para investigar as crueldades que estavam ocorrendo no reino. O boato de que o próprio Zeus caminhava no festejo à procura dos sinais da brutalidade de Licáon chegara ao ouvido do rei, que, incrédulo quanto à presença do maior dos deuses em seu banquete, zombou do seu povo e resolveu testar a suposta divindade do viajante maltrapilho.
Licáon caminhava pela sua festa obcecado em expor a farsa daquele homem com trajes imundos. Alguns dos crédulos de que Zeus realmente estava entre os mortais tentaram persuadir o rei a venerá-lo, mas sua resposta ecoou no salão para quem quisesse ouvir:
– Todos sabem que os deuses são imortais. Basta eu matar esse viajante e todos verão como foram tolos!
Durante a noite, o rei planejava apunhalar o estranho até a morte para então exibir o cadáver do impostor. Mas o momento nunca chegava. Impaciente, e talvez influenciado pela maior invenção de Dionísio, Licáon arquitetou o mais perverso dos planos.
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Licantropy - Intersex ✔️
FanfictionLauren caça seres sobrenaturais desde que tragicamente perdeu seus pais, nunca se aliou a nenhum deles, mas quando uma sedutora vampira faz uma proposta irrecusável trazendo a tona segredos que podem mudar a sua vida, Lauren precisa decidir o que é...