Por que?

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Eu não sei se você já ouviu aquela pergunta que, se pudesse fazer uma ligação do seu eu atual para o seu eu de quando era criança, o que diria à ele? Para mim é mais, se minha versão menor teria orgulho do que se tornou agora. Provavelmente diria que eu estava com a cara suja de graxa e suando; essa era minha visão ao encarar o pequeno espelho parcialmente quebrado da oficina.

Trabalhar com tia Joanne em sua oficina era na maior parte do tempo bom, menos quando ela esbraveja quando um cliente tenta se passar com suas funcionárias, que até o satã teria medo. Uma coisa que ela jamais admitiu foi homem escroto e esses foram um dos, senão o motivo pelo qual se divorciou do tio Anthony. O cara era um verdadeiro pé no saco.

Tentarei ser breve com sua história: ambos se casaram no mesmo ano que completaram 18 anos pelo fato do vovô achar que ela já estava muito velha para ficar só de namorico. Óbvio que ela gostava do meu tio mas não queria casar preferindo que cada um ficasse no seu canto, mas pelo jeito ela não foi levada tão a sério, né?

Particularmente sigo a mesma linha de raciocínio dela. E na verdade nem estava pensando nisso no momento mesmo com papai perguntando quando meu namoro de 7 anos com Evan iria passar para a próxima etapa. Eu não estava pronta para ir enfrentar o chefão.

Assim, eu conheci Evan na escola quando estava cursando o primeiro ano do ensino médio e não foi nada parecido com aquelas fanfics clichês que a menina era tímida e o garoto era popular. Não éramos tímidos e nem populares, apenas invisíveis aos olhos alheios e por decisão do destino ou por qualquer coisa parecida, nos tornamos visíveis um para o outro. Aê! Viva ao amor, bleh. Segundo a minha irmã Nathalie eu era fria e calculista, a coração de pedra sem
sentimentos. Evan discorda, óbvio.


Hoje ele me buscaria depois do expediente para ir num dos seus fastfoods preferido que apelidei carinhosamente de morte lenta. Uma só mordida no sanduíche você adquiria hipertensão para a vida toda, mas como o amor é meio cego sempre vou para vê-lo cuspir metade do refrigerante ao começar a rir contando alguma piada que vira no facebook. Eu realmente o amava e apesar do mesmo ser praticante um príncipe encantado de tão doce, sentia que algo estava faltando porém como eu andava um ser humano preguiçoso deixei isso para lá.

Ainda usava o macacão do dia quando vejo o garoto chegar em sua brasilia que herdara do pai quando tinha seus 17 anos. Mesmo sendo uma relíquia que deveria estar em um museu ele dirigia aquilo como se fosse uma BMW. Algo me dizia que ele tinha aprontado alguma coisa, meu Deus será que pôs fogo na casa  fritando ovo? Não duvido, ele é péssimo na cozinha. Quando já estava no banco do carona o sinto puxar-me para si e encostar seus lábios nos meus dando um beijo afobado. Retribuo apesar deste ato tão repentino, nem havia colocado o cinto de segurança! Sorrio sem jeito, fitando-o.

- Amor, podia esperar eu ter tomado banho. Estou fedendo e... -

Sou interrompida dessa vez por um breve selinho. Já o sentindo dar a partida com sua múmia ambulante. Relaxo no encosto do banco de olhos de fechados. Sentia seu olhar discreto sobre mim.

-Eu acho que você está linda, sempre foi a mulher mais maravilhosa que já vi em toda minha vida. Claro, apenas atrás da minha mãe. Mas e aí, como foi o trabalho?

- Ah, nada demais. O de sempre. Titia anda com a macaca essa semana, sabe aquela história toda da Ravena ter feito a mão lisa no caixa? Então, ainda tá lhe rendendo uma boa dor de cabeça. O prejuízo foi grande...

- E isso quer dizer?

- Quer dizer que receberemos menos esse mês, o movimento  já não tinha sido bom. Um dos fornecedores de peças cancelou contrato com a gente, ela espera que essa parte de correr atrás de outro seja comigo.

Suspirei, estava realmente cansada. Não tinha contado para Evan mas as coisas na oficina não iam bem, estávamos correndo risco de fechar por tempo indeterminado, tia Joanne estava praticamente declarando falência. Finalmente chegamos à morte lenta e assim que descemos do carro ele já tratou de pedir uma porção de fritas. Sempre pedíamos batatas primeiro era o nosso ritual, como está dirigindo pediu um refrigerante e eu uma cerveja. Ao sentarmos em nossos lugares Evan mais mais uma vez me olhou como se tivesse aprontado algo, aquilo estava realmente me deixando curiosa.

- E aí, vai me dizer o que aprontou ou só  me olhar com essa cara? Ó, já tô na metade da cerveja. A hora é agora.

Eu ri dando um gole em minha cerveja enquanto o olhava, esperando sua resposta. O conhecia tão bem que sabia que estava acontecendo algo em sua cabeça só pelas suas expressões faciais, via as engrenagens funcionando. Ele mexia em seus bolsos e vejo agora uma caixinha em sua mão me atingindo em cheio, sabia o que pretendia. Mas eu não sabia o que dizer, a garrafa estava à meio caminho dos meus lábios e aí que ele aproveita a deixa.

- Stefani Germanotta...você é o amor da minha vida, acho que nunca amarei outra como amo você. Então, quer continuar sendo minha?

- Evan...e-eu. Você sabe que...querido...

Respiro fundo pousando a garrafa sobre a mesa, ficando de cabeça baixa e pensando em como diria isso. Claro, eu o amo mas casar? Era um passo muito grande para dar.

- Sabe que o amo, não é?  Mas essa de casar...é um salto grande. Eu não sei se me sinto preparada, na verdade, nem sei se um dia ficarei.

A partir do momento que pronuncio o restante da frase seu semblante fica temeroso, a caixinha ainda erguida na altura dos meus olhos. Evan estava praticamente estagnado em seu último movimento e via em seus olhos lágrimas brotarem, e a rolar por suas bochechas, ele estava chorando e aquilo era como se cravassem uma faca em meu peito. Minha intenção nunca foi fazê-lo chorar.






PS: Se verem há uma piada ali no meio sobre fics clichês. Como eu disse, é apenas uma piada! Nada de críticas, até por quê todos nós somos um pouco clichê, né? E por favor, sempre comentem o que acharam. Indiquem pros amiguinhos. 💕

A Mulher Além do EspelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora