Capítulo 4: Pretexto a Poesia

48 3 1
                                    


Não eram recentes estas minhas poesias, há muito que peso minhas ideias no papel. Onde discurso sem plateia, sem rancor, sem medo, sem julgamento; as pessoas podem não aceitar todas as suas ideias, mas a mãe escrivã sempre lhe acolherá no seio dos acentos e parágrafos, na escrita, sou livre.

Sempre dediquei minha vida as palavras, estas que me decifravam o mundo. Na infância li um livro chamado: "Paris em Versos" - Um livro de poemas dedicado, e detalhado; sobre Paris e suas ruas coloridas e bem enfeitadas, nunca cheguei perto nem da Europa, mas eu poderia lhe descrever as ruas de Paris com todos os detalhes que lá existem, graças aquele livro. Isto é, se já não se acinzentaram as cores, neste caso eu mesmo irei lá para reescrever, mas deixemos isso para outro momento mais oportuno.

Já pensou sobre isto leitor? Sobre a perfeição que se cabe a cada livro? Cada livro tem sua história, todas diferentes; alguns carregam informações brutas, sem alteração, a bruta realidade, outros, fantasiosos, que carregam um reflexo duvidoso e falso da bondade e imaginação humana. Gosto de pensar nesta hipótese que li em algum lugar que já não me cabe a memória; Se este mundo se acabasse em chamas, e só restassem os livros, quais livros a nova geração que surgisse aceitaria como o verdadeiro passado? As maravilhosas, porém falsas fantasias, ou a dura realidade, esta qual no instante que se admite, você admite a crueldade do homem, seus vícios e avarezas...

Qual realidade seria mais confortável a mente de quem lê, e aos ouvidos de quem ouve? Talvez seja apenas uma banalidade cogitar isso, mas você quem lê entende o que estou dizendo, afinal, de nenhuma outra maneira escolheria este livro, "Amargura & Época" de sua prateleira. Muitos dizem que não se julga um livro pela capa, vulgo engano, mesmo o melhor dos prólogos não é capaz de apresentar o livro com sua glória e seu enorme conteúdo, no final, todos escolhem pela capa, mesmo inconscientemente. Quando vais à biblioteca, seu subconsciente processa tudo o que você, consciente, não nota; a cor, a textura, o cheiro...

Fico honrado de ter escolhido este dentre tantos outros, e por ter escolhido este, és um melancólico como eu, lhe saúdo por isso, pois como eu, sabe muito bem como este mundo é podre e irrecuperável, como tens visto por agora no livro, mas acalma-te, ainda não pesei nada, se está se sentindo mal, sugiro que abra um conto de fadas, este livro é para aqueles que gostam de explorar a realidade e confronta-la, não para aqueles que querem fugir dela.

Eu nunca quis fugir de minha realidade, e meus pais sempre me apoiaram nisso, lembro-me de incomodar meu pai com perguntas do tipo: "Pai, se os Dragões existem, como que é possível que cuspam fogo pela boca? Não deveriam eles queimarem as línguas no fogo ardente?" - E meus pais respondiam: "É por que eles não existem filho, e se existissem o homem já haveria de tê-los exterminado da face da Terra".

O que? Acha minha criação ruim? Meus pais me amadureceram do melhor jeito possível, tenho certeza de que os seus filhos mal sabem como pagar as contas, dar valor no que possuem, ou realizar atividades básicas, como a leitura; antes de julgar meus pais, criem o seus filhos direito, ora essa. Após essa conversa sobre as tais criaturas fantasiosas e ridículas, pedi aos meus pais que me ensinassem a escrever, detalhe, há diferença entre ser alfabetizado e saber escrever, por mais que muitas pessoas não concordem, ser alfabetizado não era o suficiente.

As aulas de minha mãe eram ótimas, ela me ensinava a contextualizar, a criar, e por mais que não fosse meu objetivo na escrita, a criar histórias. Por mais absurdas que eram as minhas histórias de infância, eu amava escreve-las, sonhava em um dia escrever um poema melhor do que "Paris em Versos", então sempre praticava, tanto a escrita usada em livros, como a usada em poemas.

Mesmo trabalhando na lojinha eu escrevia, dei minha vida às palavras, sem nunca apreciá-las da maneira devida, me sinto como Beethoven, que escrevia suas composições sem ouvi-las.

O que me lembra também de um conto sobre um carpinteiro cego, que não via o resultado de suas obras, e não podia dizer se estava do jeito que imaginava, contava com a opinião dos outros, que poderia sim ser mentirosa, mas ele não deixava de entalhar nem de cortar, e parou de mostrar suas obras aos outros, pois assim, qualquer peça que ele fazia, ficava do jeito que era idealizado em sua mente. Era assim que eu me sentia, escrevendo meus poemas sozinho, sem apresentar a ninguém, desta forma, eles permaneciam da maneira que eu recitava, eu me tornava meu próprio juiz.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Sep 11, 2019 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Amargura & ÉpocaOnde histórias criam vida. Descubra agora