Mal havia pressionado a campainha, quando a porta do apartamento se abriu e lá estava Pops parado e apoiado na muleta, segurando sua perna G.I. na outra mão. — Que droga, isso não serve para nada! — ele acenava com a perna em nossa cara e Sandy se encolheu voltando para o corredor.
— Pops! — falei, abaixando seu braço e cochichando: — Por favor, não faz isso, você está assustando Sandy.
— Hã? — ele parou de exibir ostensivamente a perna e me encarou, confuso. Sorri de volta esperando que seu cérebro acompanhasse o que os olhos viam. Levou um segundo. — Pequenininha! — ele me abraçou o melhor que pôde, considerando as circunstâncias.
Peguei a prótese e a sacodi de volta para ele, sorrindo largamente. Pude ver de esguelha que Sandy olhava para todas as direções, exceto para nós. Abaixei a perna e levei Pops rapidamente para dentro. — Deixa que eu ajudo a colocá-la de volta — Guiando-o para sua poltrona preferida, perguntei: — O que você estava fazendo na porta daquele jeito?
— Ataque militar. Tinha policial no prédio inteiro, achei que vocês eram eles voltando de novo — ele se acomodou na almofado. — Não tive tempo de colocar minha perna de volta — Apontando para a parte de cima da perna, ele disse: — Tem alguma coisa incomodando aqui.
Sempre tinha alguma coisa ali. A perna inteira era desconfortável, como dizia vovó. Ajoelhei-me ao lado dele e esfreguei para fora aquele ofensivo pedaço imaginário e, em seguida, inspecionei seu coto. — Parece bem, Pops — entreguei-lhe a perna de volta. — As propagandas foram silenciadas hoje no centro e a Resistência fez um discurso. Deve ser por isso que houve uma busca do ataque militar.
— Acho que sim — bufou ele. — Pelo visto há AntiCons na casa. Nós somos velhos pra burro para sermos AntiCons — ele apertou as faixas da prótese, colocando-a no lugar. — Não que eu quisesse, fique sabendo, se eu tivesse as partes de meu corpo. Alguém precisa colocar o Conselho Regente (CR) em seu lugar. O mundo vai acabar no inferno em...
— Pops, pare. Se o apartamento for alvo de inspeção, aquela policiais poderão voltar num segundo. Além disso, não queria que Sandy o ouvisse falando sobre querer ser um AntiCon — ela já estava incomodada o suficiente perto dele do jeito que estava.
Felizmente, ele percebeu que ela ainda estava parada no corredor. — Desculpe, mocinha, não queria assustá-la.
— Eu estou bem, Sr. Oberon — ela entrou, mas deixou a porta aberta.
Ela estava com uma expressão respeitosa, isto é, sem expressão alguma e com os olhos arregalados. A mesma que eu usava quando tinha que ouvir a mãe dela falar interminavelmente sobre seu peso e sobre qualquer que fosse a dieta que estava tentando fazer. É o que as amigas fazem, tentam ignorar os malucos da família da outra.
— Onde está vovó? — perguntei.
— Ela volta daqui a pouco. Harriet a chamou depois que os cabeças-xadrez foram embora.
Ai, Pops! Por que ele tinha que insultar os policiais na frente de Sandy? Ele sabia sobre o pai dela. Eu arrisquei uma olhada. Ela não deve ter ouvido.
— Não teve aula hoje, pequenininha?
— É o Dia do Fim das Guerras. Tivemos a chance de escolher hoje ou o Dia da Colonização da Lua para folgar. A classe escolheu hoje porque tudo está aberto e há muitas coisas para fazer.
— E outra coisa — Sandy finalmente fechara a porta atrás dela —, nós já temos no dia da CL uma festa gigante na escola e o AVP está sintonizado com a escola que fica no Lado Escuro. Minha tia é professora lá. É o único momento em que consigo vê-la.
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A inocência termina aos XVI
Ficção CientíficaEm 2150 , quando as meninas completam dezesseis anos, elas são obrigadas a receber uma tatuagem no pulso com os números XVI, significando que elas são autorizadas legalmente a fazer sexo e, normalmente, querem fazê-lo, pois é isso que todas as prop...