Capítulo 8

19 7 4
                                    


  — Eu vou à biblioteca. — Alex deu dois tapinhas em Rian ao saírem da sala, antes que o amigo pudesse sequer abrir a boca para questionar aquela atitude estranha, que estava repetindo-se mais uma vez. O sinal do intervalo acabara de tocar, e todos os alunos desesperados corriam por um lugar ao sol.
Exatamente ao contrário de Alex. Que, quanto mais os dias passavam, mais se escondia das pessoas. Não tinha mais paciência para ter que lidar com qualquer ser que se encaixava como 'humano'.
O que era extremamente difícil de se fazer naquele colégio. Nem o armário de vassouras, nem em um box trancado no banheiro, ele tinha sossego. Sempre aparecia alguém para perguntar o que tinha acontecido a ele, se estava tudo bem, o que havia acontecido... Não sabia mais como fugir de tantas perguntas. Estava odiando sempre ser rodeado de pessoas esses dias.
A biblioteca tornou-se o lugar em que menos o incomodavam. Lá, ele assistia alguns NERDS discutindo sobre a física quântica, teorizando sobre as milhares de dimensões do universo. Foi até numas discussões que o fim do mundo começou a preocupá-lo. Depois que ele ouviu aquele grupinho estranho falando sobre uma tal experiência que estavam fazendo para tentar recriar o big bang e encontrar as partículas que deram origem ao universo, e que, se aquilo tivesse dado errado, formaria um buraco negro que nos engoliria.
Alex até chegou a conversar sobre isso com eles, mas os NERDS não tinham muita paciência de explicar todos os termos científicos para Alex, e acabou desistindo de manter uma conversa trivial. Os NERDS nunca se acostumavam quando alguém potencialmente famoso chegava para conversar.
Na biblioteca, Alex também via o pessoal do xadrez, já que aquele recinto era o lugar menos barulhento de todo o colégio. Chegava a impressionar a concentração que aqueles garotos e garotas tinham na hora do jogo. Houve uma vez em que ele passou quatro dias observando uma dupla. A mesma dupla, no mesmo jogo, ou, pelo menos, ele imaginava, já que, quando o sinal batia, a dupla saia, falando as posições de cada peça do tabuleiro, e, no outro dia, lá estavam os dois de novo jogando. Alex até comemorou quando um dos garotos deu um xeque-mate. Era enervante assistir aquilo.
Existiam aquelas pessoas que apareciam com frequência na biblioteca para ler um livro ou estudar.
Porém, existia uma garota que sempre sentava-se à mesa mais afastada e sempre estava escrevendo em seu caderno. Alex tinha certeza que ela não estudava, só ficava ali, escrevendo e escrevendo sobre sabe-se-lá-o-quê.
Ele chegava a sentir-se incomodado, tamanha era a sua curiosidade. Precisava fazer alguma coisa para desvendar aquele mistério de vez.

— Tá tudo tão estranho, né? — Aiala encostou a cabeça no ombro de Zack.
O casal estava num canto, sozinhos, no pátio do colégio. Lá, eles conseguiam ver tudo o que acontecia ao redor e sem serem incomodados. Todo mundo sabia que, quando os dois resolviam ir lá, era porque queriam conversar, ou, simplesmente, passar um tempo a sós.
— Estranho de que jeito? — Ele acariciou o cabelo dela.
— Desde que a Holly resolveu viajar, sabe? Ninguém se fala direito... E olha só! — Aiala afastou-se para olhá-lo nos olhos, apontando para o lugar em que eles costumavam sentar. — Cadê a Maria? Ninguém sabe! Todo dia, ela inventa um problema pra resolver. E foi a primeira vez, desde que eu a conheci, que eu passei um final de semana inteiro sem vê-la! Aliás, sem ver a turma toda junta. Cada um foi pra um canto diferente... Alex, então, nem se fala!
— Isso é o mais estranho. O cara nunca mais saiu da biblioteca. E olha que, antes, ele nem sabia onde ficava! — Zack estava começando a se preocupar com a integridade dos seus amigos.
— POIS É! Ainda tem o Jack, que não fala mais direito com o Alex. Todo mundo anda tão cabisbaixo... — Ela abaixou a cabeça. — Isso acaba comigo. Eu achei que nada poderia nos afastar desse jeito, mas... Parece que eu errei. Eu não entendo como tudo aconteceu, não entendo.
Zack puxou Aiala para um abraço.
— Quem consegue entender? Eu só queria saber o porquê a Holly brigou com a Maria... Tinha algum motivo, amor?
— Sabe o que é pior, Bililico? Eu não faço ideia. Holly só me disse que a gente iria descobrir mais cedo ou mais tarde e que era melhor que Maria contasse... Só que Maria não quer contar. Então, a gente tem que ficar na curiosidade.
— Nenhum palpite?
— Nem de longe. — Ela suspirou fundo. — Sério.
— Mas o Alex e o Jack sabem.
— Eu daria muita coisa pra descobrir... Não sei mais o que fazer para arrancar a verdade dela.
Aiala deu um selinho no namorado e tornou a encostar a cabeça nele. Já havia quase uma semana que Holly tinha viajado e parecia que nada voltaria a ser como era antes. Não para eles.
— Mas não fiquemos tristes! — Zack levantou o astral. —Tudo na vida passa, até uva passa!
Aiala não conseguiu segurar o riso.

— Oi. Com licença. — Alex chegou perto da menina. — Você tem um papel pra me emprestar? Ou me dar, no caso.
Ele passou as primeiras aulas decidindo se falaria ou não com aquela menina. E decidiu que verificaria o que ela fazia de um jeito sutil... Aquela foi a pergunta mais cabível que ele conseguiu encontrar, porém agora que tinha entrado em ação, pareceu muito estúpido o que estava fazendo.
— E uma caneta também, se não for muito incomodo. — Claro, ele não tinha o que fazer com o papel, se não tivesse uma caneta.
— Tudo bem, toma. — Ela entregou a folha de papel e a caneta, que estava em suas mãos.
— Mas você tava escrevendo, eu não quero incomodar. — Alex, de vez em quando, sabia ser muito educado e recusou a caneta.
— Eu tenho outras aqui, pode ficar — A garota sorriu com simpatia, e Alex retribuiu com outro sorriso.
Ele voltou à mesa que ocupara e não tinha ideia do que iria fingir que escreveria... Até que Holly passou pela sua cabeça e, quando percebeu, estava escrevendo para ela.
Escrevia sem parar, pensando desde o dia em que a conheceu, até hoje, e, quando estava terminando o verso da folha, largou a caneta em cima do papel. Não podia se torturar assim.
Aquilo era idiotice. Que ideia imbecil! Para que ele estava escrevendo aquilo? Ela nem mesmo iria ler uma linha daquelas palavras que ali estavam, então qual era o motivo daquilo? Nenhum.
De repente, ficou irritado, levantou-se bruscamente da mesa e foi devolver a caneta. Se pudesse, devolveria até o papel, mas já havia um destino especial para ele: a lata do lixo.
— Obrigado. — Ele tentou manter a simpatia no rosto e saiu rápido. Não conseguiria fingir por muito tempo.
E quando passou pela primeira lixeira da biblioteca, atirou o papel amassado com raiva, sem olhar se havia acertado ou não.   

Show Girl [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora