Capítulo 17

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O mundo parecia ter parado para ver aquelas três garotas passando pela porta giratória. Os homens pararam de ler os jornais, os empregados pararam de carregar as malas, e o recepcionista deixou a pessoa com quem estava ao telefone falando sozinha. Era mágica pura.
Maria parou, avaliando o espaço e adorando ser olhada daquela maneira. Aiala parou ao lado direito, sorrindo e achando que ali era o lugar certo para ficarem. Kara parou ao lado esquerdo de Maria, ficou vermelha e ajeitou o óculos.
— Vamos lá, garotas! É aqui que nós vamos ficar. — Maria anunciou, começando o desfile.
Aiala a seguiu com a mesma pose "eu-sou-a-melhor", distribuindo sorrisos simpáticos.
A única estranha no ninho era Kara, que não estava vestida para conseguir um quarto num hotel, nem tinha pose de top model, mas ela tinha peitos e os estufou. Ela era mulher também. Era bonita e estava com duas cheerleaders de respeito, não é?
Oh! Mas ela não contava com a lei de Murphy, que a fez tropeçar nos próprios pés e cair feito uma jaca madura no chão.
Ok. A cena em câmera lenta tinha acabado neste momento.
— Ai, meu Deus! — Aiala reclamou para si, rolando os olhos, mas, como era a mais próxima de Kara, deu a mão para ajudá-la.
— Segura, senão, cai! — Um cara ruivo, de cabelo liso, em um estilo parecido com o dos meninos, apoiou Kara também.
Com Kara já de pé, Aiala se deu ao prazer de encarar aquele gato à sua frente, sem nenhum remorso. Parece que a nerd lhe trouxe um presente.

Maria nem percebeu o que tinha acontecido e encostou-se no balcão, ao lado de um loiro oxigenado que parecia ter perdido o tempo da tinta e ficou com o cabelo mais descolorido impossível.
— Oi. — Maria sorriu, chamando ainda mais a atenção do recepcionista e do loiro. — Será que você não tem dois quartos disponíveis?
Ela olhava dentro dos olhos do cara, deixando-o hipnotizado e sem reação.
— E-espera aí — foi a única coisa que ele conseguiu falar, antes de ver se tinha um quarto ou não.
— Você não é daqui — o loiro afirmou para puxar conversa. — Veio ver o festival?
Ela o olhou, sem dar muita importância, e voltou sua atenção ao que o recepcionista estava fazendo.
— É... — sibilou, sem dar muita importância e nem querendo dar continuidade àquela conversinha.
— Então não esquece de ver o show da minha banda, , e aproveita, e dá uma passada no meu backstage. Você tem passe livre lá. — Ele piscou um olho.
— Com você ou sem você, eu tenho passe livre — ela disse, olhando-o da cabeça aos pés de um jeito esnobe e se perguntando quem ele pensava que era.
— Você vai tocar? — O loiro pareceu surpreso.
— Claro que não. — Maria continuava com seu tom arrogante. — Mas meus amigos vão.
— Nossa! Que legal! E quem são?
Para a surpresa de Maria, quem voltou não foi o recepcionista hipnotizado e, sim, uma mulher. Ela deixou o loiro falando só e prestou atenção nela.
— Desculpe-me, senhorita, mas nosso hotel está lotado — a moça falou calmamente, forçando-se a ser educada.
— Hum... Tudo bem. Eu estava falando com o mocinho ali. — Maria apontou para o cara com quem tinha falado. Ela tinha certeza que ele daria um jeito de acomodá-las em algum lugar daquele hotel.
— É que ele acabou de entrar no horário de almoço. — A mulher encarou-o feio.
— Mas são 11 da manhã! — Maria segurou-se no balcão, indignada. Qual era o problema daquela lambisgoia?
— Nossa! Bom saber que você aprendeu a olhar no relógio!
Maria ficou boquiaberta.
Mas lá atrás o cara levantou a mão direita, mostrando um anel enooorme no dedo anelar, o que fez Maria imediatamente olhar para a mão direita da moça. É... Ela tinha se deparado com mais um típico caso de ciúme.
— Querida... — Ela sorriu cinicamente e explicou pausadamente: — Você sabia que existe uma linha tênue entre o ciúme e a insegurança? Pois é, meu bem. É uma pena que nem toda mulher saiba esconder essa insegurança e sempre deixa transparecer que a outra é melhor que ela. — Maria piscou um olho para a mulher e saiu cheia de si.
— UAU! Beijos! Me liga! — O loiro oxigenado encostou-se no balcão, impressionado, seguindo Maria com o olhar. — Fica no meu quarto, se quiser.
— Vaca! — A recepcionista se segurou para não falar mais nada alto.
Maria fingiu que não ouviu nenhum dos dois.

— Vamos embora! Este lugar não é para gente. — Maria chegou, arrastando Aiala e Kara, que conversavam animadas com o ruivo que tinha as ajudado e mais outro estranho de cabelo comprido.
— Calma, calma. — Aiala tirou a mão de Maria do seu braço. — O que aconteceu com o 'é aqui que nós vamos ficar'?
— Ué... Não é mais aqui que nós vamos ficar!
— Por quê? — Kara questionou inocente.
— Porque eles não têm boas instalações a oferecer.
— Hum... Claro que não. — Aiala rolou os olhos ironicamente. O hotel era quase cinco estrelas. — E mais o que?
— Ai, tá! — Maria a fez vir ao seu lado, que, por um acaso, dava de cara com a recepção, e apontou para lá. — Tá vendo aquela mulher?
Aiala tentou ignorar o loiro, que olhava para elas, e focou no olhar de ódio da mulher.
— Ela é uma ridícula, mal vestida, que acha que eu nem sei olhar as horas. Ciumenta idiota.
— Aaaah! Agora, já entendi. Por um acaso, o recepcionista trabalhava com a namorada e que, por outro acaso, é essa mulher, que, por mais outro acaso, resolveu ter uma crise de ciúme...
— Mais ou menos. Eles são noivos.
— Só uma dúvida. — Aiala virou-se para Maria, colocando o dedo indicador na bochecha. — O loiro ali não teve nada a ver nessa escolha?
— Vamos dizer que ele contribuiu...
Ninguém percebeu, mas o cara de cabelo cumprido e o ruivo fingiram estar tossindo enquanto se acabavam de rir do que as garotas falavam: o loiro.
— Cá entre nós... — Maria puxou para falar alguma coisa no ouvido de Aiala. — Quem é esse ruivo gato?
— Caleb. — Aiala riu. — O resto da história eu conto depois. Só digo que Kara me serviu para alguma coisa!
As duas deram risada juntas.
Elas se despediram dos dois garotos e quase tiveram que arrastar Kara para ela se desgrudar de Caleb.

— Eu posso perguntar uma coisa? — Alex falou de vez, assustando Jack, que estava distraído com o som do fone no seu ouvido.
— Vai em frente, ué!
— A Holly... — Ele pensou se deveria falar ou não. Alex não teve muito tempo para pensar sobre isso, mas não saber o incomodava muito mais. Era mais que curiosidade: era necessidade. — Não disse se viajaria para um lugar mais longe ou algo assim?
— Como eu disse, Alex, a gente, eu e ela, só conversávamos sobre a gente, ou seja, nós todos. Por quê?
— E será que ela não tinha planos para te fazer uma surpresa?
— Bem, é surpresa. Eu não deveria saber, né? — Jack respondeu como se fosse óbvio.
— Sei lá! Tem gente que gosta de fazer suspense.
— Não a Holly. Até porque, você sabe, se a gente insistir mais um pouquinho, ela conta tudo. Mas, de novo, por quê?
— Sei lá. Já que ela decidiu mudar tanto. Talvez, ela tenha aprendido. — Alex, de repente, achou que tivesse tido uma boa ideia. — Ei! Você não tem o número dela de lá, não? Talvez, você devesse ligar e perguntar se não tem nenhuma surpresa.
— Rá! — Jack apontou para Alex com um sorriso malicioso no rosto. — Espertinho. Acha que eu vou cair numa besteira dessas? Claro que não! Depois, você vai mexer no meu celular e procurar o número, e mexer com ela.
— EU?! — Alex respondeu cínico, até porque Jack tinha adivinhado mesmo. Talvez ele ligasse só para poder ouvir a voz dela e pegasse no pé por alguma coisa que ela fez ou deixou de fazer, só para ouvi-la reclamar e brigar com ele. — Nunca pensei nisso! Eu só acho que ela tem uma surpresa para você.
— Sim, mestre dos magos. Mesmo que tenha, Holly pode parecer meio desligada, mas não é. Ela não me deu o número dela e, quando liga para o meu celular, é número confidencial. Acho que ela também sabia que você poderia roubar o número, vai saber. Mas como que você tem tanta certeza que ela vai fazer uma surpresa pra mim?
— Eu?! — Ele apontou cínico para si de novo, deixando Jack um pouco desconfiado. — Nada. Não tenho certeza nenhuma.
— Uhum. Tá bom, Alex. E eu nasci ontem. Você viu alguma coisa ontem no meu computador, não foi?
— Não, não...
— Tá certo.
Jack não insistiria mais. Uma hora ou outra, Alex falaria, mesmo sem querer. Era só fingir que não estava curioso e que nada tinha acontecido, e, pimba!, ele diria. Era a mesma coisa que Holly. O mesmo jeito de não aguentar guardar segredos tão facilmente. Nisso, os dois pareciam as mesmas pessoas.
Jack deu de ombros e voltou a cantarolar baixinho alguma música que rolava no seu iPod.
Alex acabou de se recostar no banco, para tirar um cochilo, quando a porta de trás da van abriu de vez, fazendo-os levar um susto enorme.
— Vocês querem me matar! — Jack colocou a mão no coração, por ter levado outro susto em menos de 30 minutos.
— Eu odeio este festival! Odeio as pessoas desta cidade! Odeio AQUELA mulher! — Maria entrou, reclamando.
— Mas eu adorei o Caleb. — Kara pensou alto, fazendo todos a olharem estranho. — É... Pois é... Vocês conseguiram algum hotel? — ela desconversou.
— Olha a cara deles! É óbvio que não! — Aiala se jogou de qualquer jeito no banco.
Os dois se encararam, pensando a mesma coisa: "Ela nos chamou de losers?!".
— Todos lotados. — Jack respondeu, ainda pensando na frase anterior de Aiala.
— Todos lotados não! — Alex levantou a voz e com um olhar de acusação para cima de Jack. — Se não fosse esse espertão aqui, a gente conseguiu, pelo menos, um quarto duplo pra dois de nós dormirem.
— Jack, pelo seu bem, torça para Rian e Zack terem achado um hotel para nós. — Maria continuou de mau humor.
— Falando neles, por que será que tá demorando tanto? — Aiala ficou preocupada.

— Cara, tem alguma coisa de errado com essa velha. — Rian cochichou com Zack, ao ver a velhinha entrar novamente na recepção e sentar na cadeira, sem se importar com a presença dos dois.
Zack deu de ombros e foi falar com ela:
— Ei, senhora! — Ele deu um cutucão nela.
— Seus moleques insolentes! — Ela levantou, gritando, e apanhou um guarda-chuva que estava perto. — O que vocês querem desta pobre velhinha indefesa? Não tem vergonha na cara, não?!
Só assim os meninos descobriram para que ela queria o guarda-chuva. Em meio aos palavrões e lições de vida, ela ia dando um monte de "guarda-chuvada" nos meninos, que, sem saber mais o que fazer, só se defendiam dos ataques daquela velha doida.
— O que está acontecendo aqui? — Um senhor grisalho apareceu sabe-se lá da onde.
A velhinha parou no meio de outro ataque para cima de Zack e Rian, que continuavam sem saber o que fazer naquela hora. Ela abaixou o guarda-chuva, como se não estivesse acontecendo nada, e perguntou:
— Novos hóspedes, filho?

Show Girl [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora