Capítulo 20

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— UOU! Aqui tem mais gente do que eu imaginei, cara! — Alex comentou boquiaberto ao ver o público pela grade que separava o estacionamento das vans do espaço para as pessoas ficarem.
— Isso vai ser muito legal! — Rian bagunçou o cabelo do amigo e passou na frente.

Os meninos ficaram trancados no backstage, antes do show. Eles poderiam, mas preferiam não sair de lá antes de tocar, para evitar confusões, atrasos e essas coisas. Mas as meninas? Elas eram livres para ir e vir aonde bem entenderem, e ficar naquela sala, esperando-os subirem no palco, era a última coisa que queriam, então aquela era a hora de passear pela floresta.
— Para que lado nós vamos? — Aiala ponderou.
— Para o lado negro da força.
Maria esboçou um sorriso maldoso ao avistar alguns garotos do outro lado do corredor.
— É muito errado eu achar alguém bonito? — Aiala enrubesceu.
— Não, se for o Caleb. — Kara respirou profundamente ao vê-lo no meio daqueles garotos.
Maria suspirou ainda mais fundo. Guiou as garotas até o fim do corredor. Não iria perder a oportunidade de se mostrar para aquele cara lindo que estava à sua frente.
— Não sabia que você vai tocar aqui hoje. — Maria se pôs de frente para ele, atrapalhando a conversa que estava tendo.
Caleb não pôde segurar o queixo quando viu aquela garota linda falando consigo.
— Pois é. Depois da próxima banda, subimos no palco. Espero que possa nos assistir...
— Não perco por nada! — Maria falou animada.
Só então, Caleb se deu conta de que outras duas garotas estavam junto com ela.
— Espero que vocês também nos façam companhia! — ele disse, deixando Kara com o coração disparado.
Todas estavam encantada com Caleb e não se deram conta de que outros garotos prestavam atenção nelas, até que um deles abraçou Maria.
— Não vou deixar você se arrepender por ter ficado, doçura — o loiro aguado sussurrou no ouvido dela, fazendo todo seu sangue subir à cabeça.
Maria afastou-se o máximo que pôde, fazendo cara de nojo.
— Sério. — Levantou as mãos para o céu. — Sério. Por que, meu Deus?
— Para, Kyle. — Caleb interveio. — Não querem dar uma volta com a gente por aí, não?
— Ótimo! — Maria se postou ao lado dele, satisfeita com o convite.
Kara relaxou os ombros, decepcionada. Se Maria entrasse na parada, não teria a menor chance.

Os quatro estavam tensos dentro do camarim. Faltavam menos de 30 minutos para subirem no palco. Os corações estavam batendo desesperados.
— Cadê as garotas? — Alex perguntou preocupado. — Achei que elas estariam aqui, antes da gente se apresentar.
— Boa pergunta. Tô tentando ligar para a Maria, mas ela não atende. — Jack respondeu, fitando o celular com o nome de Maria na tela.
— Vou dar uma volta, procurando. — Alex comunicou, indo em direção à saída e dando tempo apenas de ouvir Rian gritar para ele não se atrasar.
Havia muitas pessoas apressadas passando pelo corredor, naquela euforia da produção para fazer o festival ocorrer tudo bem. Alex procurava os rostos conhecidos, sem muito sucesso. Já perto da saída para o público, avistou uma silhueta conhecida, que há tempo não era vista. Ele se recusou a acreditar.
Alex não conseguia ver o rosto, mas estava certo de que se tratava de Holly. Ele jamais confundiria aquele cabelo grande e preto, nem o jeito de conversar com outra pessoa. Era ela. Mas o que ela faria ali? Por que estaria acompanhada de um cara mais velho?
Hesitou em chegar perto e, como uma epifania decisiva, lembrou-se de todo o sofrimento que a fez passar. Era realmente a hora de seguir em frente?! Não conseguia ter certeza. Ficava ainda mais apreensivo ao pensar que, talvez, nunca tivesse. Tudo o que sentia era cruel a um nível desumano.
Será que ela havia voltado para eles novamente? Será que voltaria a ver aquele rosto suave diariamente?
Ficou imóvel, sentindo o coração tentar sair do peito, enquanto a silhueta se perdia pelo público.

— De todos os lugares do mundo, eu tinha que enfiar meu burrico justo aqui? — Maria rolou os olhos com toda a insatisfação em estar ao lado daquele loiro aguado.
Aiala e Kara dividiam a atenção de Caleb, numa conversa super animada. Apesar de relutante, Aiala tinha que admitir: Caleb estava interessado mesmo era em Kara. Não seria tão fácil, mas toda vez que ele olhava a amiga, não conseguia disfarçar seu olhar interessado e via que era recíproco. Não conseguia evitar as lembranças do seu eterno-em-conflito-ex-atual-namorado Zack. Sentia saudade de conversar com ele, de participar da sua vida, ainda mais deste momento tão especial que estavam passando: esta experiência inesquecível de tocar em um festival para uma multidão. E a troca de olhares de Caleb e Kara significava muita coisa para ela. Significava que não precisava se preocupar com a questão Kara/Zack, não precisava mais sentir ciúme... Significava, ainda, que Kara era realmente o que Zack falara: uma amiga. Querida e inocente. Talvez fosse sua missão torná-la mais "apresentável".
Foi aí que a luzinha se acendeu.
— Eu tive uma ótima ideia! — chamou a atenção de todos. — Por que, depois do show, não saímos para comemorar?
Maria ficou boquiaberta com a proposta.
— Tá doida?! Eu não fico ao lado desta coisa branca aguada nem mais 5 minutos! — exclamou, afastando-o.
— Ah, qual é, gatinha?! Você me adora! — o loiro disse, tentando abraçá-la.
Caleb e Kara se olharam, complacentes, adorando a sugestão.
— Então... — Aiala puxou as duas garotas para si. — Encontramo-nos depois do show, ok?
O mais rápido que pôde, levou as duas de volta ao camarim, onde os meninos, incluindo um Alex confuso e pensativo, esperavam.

— Acho que estou apaixonada! — Kara suspirou.
— Também quem não estaria? Até eu, que acho o Zack o suprassumo da beleza, tive que rever minhas concepções depois de Caleb. — Aiala comentou.
— Pena que eu nunca teria uma chance com ele. Eu não tenho chance alguma perto de vocês.
Aiala e Maria concordaram mentalmente.
— Mas não é assim também. — Aiala refletiu a melhor forma de falar aquilo que estava pensando: — Até porque tem aquela história de que não existe mulher feia, só mulher mal cuidada. A gente já nasceu linda, é verdade, mas a produção ajuda também.
— Aposto que, se você se arrumasse um pouquinho mais, faria uma grande diferença. — Maria aconselhou.
— Gente, por favor! Só Deus operando um milagre para eu conseguir chegar perto do que vocês são!
Aiala e Maria, mais uma vez, concordaram mentalmente.
— Maria... — Aiala cochichou no ouvido da amiga: — Eu tenho uma ideia!
Esta era a hora de Aiala colocar seu plano em prática.

— Cara, o que é que essas meninas estão aprontando? — Rian tentava escutar atrás da porta, sem sucesso. — Nós temos que ir!
— O jeito será deixá-las aí. — Alex sugeriu, dando de ombros, indiferente com qualquer coisa que acontecesse ao seu redor.
Ele sabia que deveria estar animado com a situação e estava, até encontrar aquela silhueta conhecida, e ficava cada vez mais difícil levantar o humor, lembrando-se toda hora de Holly e afundando-se com a possibilidade de ela estar tão perto novamente.
Os outros três não se opuseram a ideia de ir sem elas e quando o primeiro quase passava pela porta, Aiala saltitou para fora do banheiro.
— Esperem! Esperem! Eu tenho uma surpresa e preciso da opinião de vocês!
Os quatro se entreolharam. Talvez Aiala tivesse surtado de vez.
— O que foi desta vez? — Zack perguntou.
— Prometam que não desmaiarão, se assustarão ou terão nenhuma reação que atrapalhem vocês depois, neste dia tão importante para todos, pois vão presenciar o nascimento de um novo mito e...
— É pra hoje? — Rian impacientou-se com o discurso.
Aiala não desanimou pelo jeito rude pelo qual foi interrompida.
— Maria, Kara, podem vir!
Assim que as duas pisaram para fora do banheiro, só foi possível ver os queixos caindo.
Era inacreditável, espantoso, surpreendente, extraordinário, incrível, inimaginável.
Faltavam palavras para descrever aquilo. Os quatro olharam boquiabertos para aquela pessoa nova que estava de frente para eles. Irreconhecível. Essa era a palavra que melhor se encaixava para Kara, naquele momento. Era quase impossível de acreditar que aquela nerd desarrumada que só usava roupas bregas estivesse ali. Não era possível.
— Quem é essa? — Uma fagulha de ânimo acendeu em Alex, que sorriu, indo abraçá-la.
— UAU! — Rian ainda tentou formar uma frase, mas nada seria o suficiente para demonstrar toda a sua admiração. Kara estava estonteante. — O que fizeram com a Kara que eu conhecia?
Maria lhe emprestara uma roupa que trouxe de reserva, caso alguma coisa acontecesse, que consistia em uma blusa preta de musselina, um tecido leve, com pequenas caveirinhas ao redor do pescoço e do braço, com um corte que levantava seu busto e mostrava seu decote, que caiu muito bem por ter uma comissão de frente muito bem servida, mas que só andava coberta, e um short jeans cintura alta, simples, com alguns rasgados. Aiala e Maria ainda tentaram convencê-la de usar uma sapatilha, mas Kara não largou mão do seu converse.
Pela primeira vez, Kara havia passado uma sombra, o que fez as meninas optarem por um estilo básico, uma maquiagem para o dia, para não causar um estranhamento tão grande por parte de Kara. Ela precisava entrar nesse mundo do rímel, esfumador e curvex aos poucos.
E, por fim, o cabelo. Que não deu tanto trabalho. Kara tinha um cabelo bonito, mas que só andava amarrado, então, quando o soltou, fez toda a diferença no visual. Além de terem desaparecido com o óculos que usava. Ela não morreria se ficasse sem enxergar por poucas horas.
— O quê? Você não gostou? — ela perguntou receosa. Estava se sentindo bem, mas tinha medo das reações que as pessoas teriam; principalmente, vindas dos seus amigos. Ainda havia o fator Holly, que, apenas de olhar para Alex, não poderia esquecer. E se achassem o que Aiala pensava no começo? Que roubaria o lugar da amiga deles? — Eu disse que não era uma boa ideia!
— Ih! Para, Kara! — Maria se intrometeu. — Não tá vendo que eles adoraram?
Os garotos ainda ficaram paralisados por mais alguns segundos, apreciando a beleza que estava escondida em Kara, até a produção os chamarem para subir no palco. Aquela era a hora.
— Por que você fez isso? — Zack parou Aiala.
— Kara precisava da minha ajuda, então... Fiz o que pude. — Ela sorriu.
— Bom trabalho, amor. — Puxou-a para um abraço, finalizando com um beijo em sua bochecha.
Era a vez de Aiala ficar paralisada, com uma cara de boba, segurando sua bochecha, com medo de que aquele beijo fugisse dali.
Respirou fundo. Precisava pedir desculpas e deixar de ser boba, mas era tarde. Zack já havia alcançado o seu grupo de amigos. 

Show Girl [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora