Fuga

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- Meus primeiros dias na penitenciária foram muito estranhos por conta de todo o clima e a rotina. Parecia que todo aquele lugar sabia quem eu era e o que eu supostamente tinha feito. Fiquei junto com mais 6 caras naquela cela.

Outubro de 2016

- Carne nova pra vocês aí – disse o policial e me empurrou pra dentro da cela, com as algemas já abertas. Olhei pra eles trancando a cela enquanto massageava meus punhos, me sentia um lixo – Aproveita a estadia, estrela – e saíram rindo.

Olhei pra trás e vi seis pares de olhos me encarando, todos com uma carranca. Eu só sabia tentar respirar fundo e conter o nervosismo, até que um deles falou

- Sua cama é ali no beliche do canto. Fica tranquilo, a gente não morde – todos soltaram risinhos depois. Só consegui sussurrar um "obrigado" e deitei na cama debaixo do beliche. Estava empoeirado e eu tossi

- Vamos trocar uma ideia, cara. É bom familiarizar, ficaremos aqui por um bom tempo. Ou não né – soltou um riso – diz aí, o que fez pra estar aqui com a gente? – Respirei fundo. Falar daquilo ainda me machucava

- Minha esposa está morta e todas as provas apontam pra mim

- Wow, o cara matou a mina dele – comentou um deles e os outros riram

- EU NÃO MATEI NINGUÉM – sentei rapidamente na cama - Eu nunca faria mal a Liz. Eu só tive um pouco de azar, mas eu vou provar minha inocência

- Fica tranquilo cara, todo mundo aqui é inocente – disse com um sorriso sarcástico. Ele levantou do seu lugar e veio até mim, estendendo a mão – Meu nome é Phillip, Phillip Lawrence, mas pode me chamar de Phill – Agora mais de perto percebi que ele usava um tapa olho. Apertei sua mão um pouco mais relaxado – Aqueles são Phred, Jam, Kam, John e Dugger – disse apontando pra cada um que fazia um aceno diferente pra mim - Phred e Kam acertam as contas por mim e os outros são seguranças. Estamos aqui por causa do tráfico. Eu chefio a maior gangue da coca que você deve conhecer – soltou outro riso sarcástico – Pegou quanto tempo?

- 15 anos – disse cabisbaixo

- Passa rápido. Cada um aqui pegou de 20 a 50 anos – Me surpreendi, deve ser horrível saber que você nunca vai sair daquele lugar.

Passei a andar com a "Gangue da coca", almoçávamos todos juntos, fazíamos o mesmo serviço e passávamos o banho de sol conversando e jogando dominó. Eles me protegiam dos "valentões" da penitenciária, me senti na escola de novo. Depois de quase um mês preso me conformei, era um lugar horrível, porém Deus colocou aqueles caras no meu caminho pra ser menos pior, ou eu pensava que era por aquele motivo.

- Tenho que te contar uma coisa, Bruno – disse Phill, estávamos trabalhando nas instalações elétricas

- Pode falar – disse emendando um fio sem olhar pra ele

- Eu e os caras vamos fugir daqui – parei de fazer o que fazia e olhei pra ele

- Vai se arriscar, cara?

- Não vou ficar 50 anos aqui. Tem gente muito pior solta por aí e eu preciso vingar a minha família

- A guerra do tráfico destruiu sua família não é? – disse com pesar, Phill respondeu da mesma maneira

- As famílias de todos os caras foram destruídas, todos ali perderam quem amava, logo depois caímos na armadilha, fomos condenados e presos. A gente precisa se vingar de quem fez isso e o primeiro passo é sair daqui. Você quer vir com a gente? Vai poder vingar sua esposa – Aquilo me deu um fio de esperança, se tudo desse certo eu poderia saber quem matou a Liz

- Quero. O que preciso fazer?

- Eu vou te contar todo o plano. Não é difícil, tenho 2 contatos aqui no presídio que vão facilitar a gente, porém temos que ser rápidos

- Tudo bem

- Vai dar certo, cara, confia – e de repente bateu a vontade de fazer a pergunta que quis fazer desde que cheguei aqui

- Por que tá me ajudando tanto? – disse descendo a escada e ficando de frente pra ele

- Desde que você chegou, cara, eu percebi que não era um dos nossos. Ali todo mundo já matou alguém, menos você. Phred é o nosso matador profissional, ele disse que você não se parece nada com um assassino, tá pagando a pena de outra pessoa – eu fiquei sem palavras, finalmente alguém me compreendia – e sinceramente eu concordo com ele.

- Muito Obrigado, Phill

- Não agradeça, só vamos meter o pé desse lugar – disse sorrindo e eu sorri de volta.

No dia 12 de Novembro colocamos o plano em prática. Passamos nosso dia de trabalho normal e depois do almoço, fomos para o banho de sol. Phill faz um sinal para Kam, que assentiu e tirou um canivete improvisado da calça, se aproximou de um dos valentões e cravou forte em sua barriga. Saiu sorrateiramente sem que ninguém visse e logo o caos estava instalado. Os parceiros do valentão esfaqueado foi pra cima de outro cara e a briga começou. No meio da confusão os seguranças que tomavam conta do nosso banho de sol se distraíram com a briga e nós aproveitamos pra ir pros fundos de penitenciária, onde tinha um caminhão de suprimentos. Phill fez sinal pra todos subirem no baú do caminhão e meu corpo estremeceu quando um cara com o uniforme dos funcionários da penitenciária apareceu pra fechar o baú, mas ele fez um aceno discreto para Phill e os caras, fechou o caminhão e logo senti que estávamos em movimento.

- Conseguimos! – Comemorávamos dentro do baú do caminhão

- Aí chefe, querem falar com você – disse Phred entregando um daqueles walkie talkies pro Phill. Ele segurou e ouviu o que a outra pessoa disse e respondeu logo depois

- Tudo certo, estamos chegando na base e já vamos ir embora do estado, tenho um amigo pra levar em NY e de lá fugimos pra Londres – ele ouviu de novo e acenou – certo, obrigado Lonnie, te devo uma – e desligou.

O caminhão parou dentro de um armazém bem escondido, as portas foram abertas e descemos de um a um. Phill cumprimentou o motorista e deu algumas ordens.

- Vamos logo trocar essas roupas, manés, a gente tem uma viagem longa a fazer – todos os caras se dirigiram ao fundo do armazém – vem comigo, Bruno, tenho algo pra você.

Fomos pra uma espécie de escritório do Phill, lá ele me deu umas roupas e uns acessórios para disfarce, cortei o cabelo e pus uma barba falsa.

- Denny vai te levar a um lugar no Brooklyn onde você deve procurar por essa pessoa – ele escreveu num papel e me entregou, estava escrito "Megan Jones – Slyv Street, 457 – Brooklyn" – Ela vai te ajudar a encontrar quem realmente matou a sua esposa. Ela é uma ex detetive, é só dizer que foi o Lawrence quem te mandou – peguei o papel nas mãos, li e reli 20 vezes antes de guardar – Boa sorte amigo, você vai conseguir provar que é inocente

- Muito Obrigado, Phill. Eu nem sei como agradecer

- Não precisa, cara. Me vejo muito em você no início dessa loucura toda – nos levantamos e demos um abraço com alguns tapas nas costas – Denny tá te esperando no carro lá fora, vai e prova quem você é

- Pode deixar. Muito obrigado de novo – saí do escritório e logo avistei o carro. Entrei nele e saímos rumo a NY. Foi quando eu conheci Megan Jones.

Who killed my wifeOnde histórias criam vida. Descubra agora