O tempo dos ingratos

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eu parei hoje
e senti o vento
ouvi minha própria respiração

novos ares estão indo e vindo
junto de questões
cujo ainda não há respostas concretas

indecisão, tensão e um peso
às vezes, acordo assim

hoje acordei
apenas parei
e senti o vento
o tempo

vi pessoas com a pressa por conta do atraso
vi alguém se arriscando atravessar fora da faixa de pedestres
alguém tomando um café com toda calmaria
alguém me dando bom dia
alguém me sorrindo
alguns carros parados no sinal olhando tudo e observando quase nada
vi também a moça repondo pães de uma padaria e logo senti aquele cheirinho tão gostoso
eu ouvi uma buzina
um assobio
alguém gritando e fazendo propaganda oferecendo produtos
senti o cheio de fumaça de um cigarro vindo de alguém sofrendo com a ansiedade
apertei o passo pra atravessar a rua antes que o sinal abrisse
subi uma rua e transpirei
respirei
parei.
senti o tal do vento
e fui grata pelo ventiladorzinho natural dado pela mãe natureza

sabe,
somos ingratos com a vida
queremos tudo e temos tão pouco
que o pouco que temos
não é valorizado

somos seres pensantes
mas pensamos tão pouco
temos olhos e nem sequer observamos o que a vida está nos proporcionando

ingratos sejam os que não valorizam o padeiro
a moça que repõe pães
o cigarro que não é lá uma das coisas que nos oferecem mais vida, mas alivia a tal da ansiedade
a calmaria do homem tomando seu café e a pressa de alguns correndo contra o tempo
as pessoas, mesmo que impacientes, deixando você atravessar uma avenida cujo semáforo demora a fechar

ingrato seja eu
seja tu
eles e nós
por não pararmos um minuto e sentirmos o ventiladorzinho natural que acalma a alma
e dá leveza respirando
sentindo
e sendo.

Setembro e outros mesesOnde histórias criam vida. Descubra agora