Hans Krauss sempre estava neutro. Isso o fazia ser a pessoa mais racional do nosso grupo. Mas nem por isso ele era bom, era traiçoeiro e gostava de se aproveitar de algumas situações... se elas envolvessem dinheiro. Sabe, ele tinha alguns problemas financeiros em casa, então, fazia o possível para ajudar sua família (mesmo que isso fosse, de algum modo, imoral). Essa história é sobre ele.
Peter Heinz, Kaiser Schmidt, Hans Krauss e eu nos encontramos no dia 01 de março de 1989. Era Inverno.
Morávamos em Stuttgart, um lugar bem modesto. Nos shows* de Krauss, eu e os meninos procurávamos um local para que ele invadisse. Era divertido vê-lo fazer tudo com certa indiferença, como se não ligasse para sua própria vida.
Dessa vez o palco* escolhido foi o Hospital Psiquiátrico Amelie Schülz, apesar do nome bonito, sabemos que isso significa só que lá é a casa de loucos de nossa cidade.
— Kaiser! Cuidado! Não quero que Krauss morra atropelado por uma bicicleta, quer acabar com nosso artista? — disse Peter, ao ver Schmidt avançando sua bicicleta em direção à Krauss.
— Fica tranquilo. Só vamos apostar uma corrida, idiota. — respondeu Kaiser, em um tom debochado.
Eu observava a conversa e me perguntava oque estava fazendo no meio desses dois idiotas. Talvez eu estivesse salvando o grupo com Hans.
Chegamos ao hospital psiquiátrico. Lá era um dos lugares mais bonitos da cidade, apesar de meio melancólico... Seus muros eram altos e seus portões eram fortes, grossos. Era seguro o suficiente para prender maníacos em seu interior, mas não ameaçadores o suficiente para afastarem de Krauss a ideia de uma invasão perfeita.
— Está pronto, Hans? — perguntei para ter certeza de que ele queria mesmo fazer aquilo.
Ele só assentiu com a cabeça.
Sabe, eu ficava um pouco preocupada, Hans nunca levava nada que pudesse o proteger. Nadinha mesmo, nem um canivete para caso algo dê errado. Ia se aventurar só com as roupas do corpo. Eu o admirava.
Krauss pulou o muro com nossa ajuda, ele era bem magro, coisa que facilitava bastante para nós. Após a entrada dele, ficamos o espiando pelo portão. Víamos três ou quatro guardas perto da grande porta de madeira que dava passagem para o manicômio. Todos gordos e preguiçosos, com seus cassetetes ao lado de seus corpos gigantes, dando a eles uma falsa sensação de segurança, como se tivessem algum poder. Tolos.Krauss sumiu de nossa vista, pela distância e também pela neblina, mas tínhamos pedido para ele nos trazer algum objeto que provasse que ele esteve no interior de Amelie Schülz...
*Shows= eram como os adolescentes chamavam as aventuras de Hans, com esse nome bem sugestivo, era claro que, para eles, aquilo era um bom entretenimento, talvez um pouco sádico.
*Palco= o lugar onde Hans cometeria seus delitos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Er Möchte Mich Doch Hier Erlösen - ele gostaria de me redimir
RandomAlemanha, Stuttgart. 1989. Hans Klauss se vê, pela primeira vez, diante de uma situação que o faz sair de sua zona de conforto. Acostumado à tirar vantagens, desta vez, cai em uma das trapaças do destino. Ninguém é imune. Ninguém. Após invadir um...