Depois que te Encontrei.

1

Amanda

As melhores coisas da vida podem vir das surpresas e situações inesperadas, que surgem, logo depois que algo deu muito errado...

Ontem à noite saí de Austin — cidade do Texas — e agora estou a caminho do Colorado. Não tenho a intenção de ficar por lá. Eu só precisava ir para longe. Comprei uma passagem para o primeiro lugar que me tirasse dali o mais rápido possível. Saí de madrugada, quando meu marido dormia, depois de mais um porre. Beber, ultimamente, tornou-se parte da rotina daquele homem. Estou decidida, não voltarei e não quero que me encontre.

Se eu pedisse o divórcio, colocaria minha vida em risco, Brian revidaria sem piedade. Aliás, sempre que tentava tocar nesse assunto meu marido, parecendo adivinhar meus pensamentos, era taxativo: "Não aceito me separar de você"; e o olhar doentio enquanto dizia isso prometia muito mais violência. Ele era um homem que sabia exatamente o que estava fazendo.

Já me arrisquei certa vez e claro que, ao invés de fugir, fiquei presa por praticamente uma semana em casa. Só não estou presa agora porque ele estava bêbado demais para se lembrar. Não sei porque aquele sentimento de culpa me domina agora. Não era para ser assim.

Meu marido já foi preso uma vez por me agredir, mas saiu incólume depois de pagar uma gorda fiança. Mesmo que vizinhos tenham chamado a polícia, insistia em ficar comigo, em me coagir a ficar. Queria "dar outra chance a nós", mas faz tempo que suas "boas intenções" me soam como convite para uma estada no Inferno. Seu suposto amor, para mim, sempre traduziu um misto de paixão e ódio. Se eu pensar nos detalhes de um relacionamento doentio, ele sempre foi estranho mas demorei para perceber isso.

Brian é de família rica e quando eu tinha dezoito anos, fui  praticamente vendida a ele. Meu pai fingia não perceber a diferença de idade entre nós, dizia que nascemos um para o outro, mas na verdade, ele estava afundado em dívidas, além dos tratamentos caríssimos da minha mãe, que sofre de Alzheimer. Desde que minha mãe foi internada, não pude visitá-la, pois, segundo meu marido, isso estava atrapalhando nosso "relacionamento". Vê-la daquela forma me deixava triste, o que o desagradava. Fosse como fosse meu inferno, não poderia interferir ou privá-lo da minha atenção, então ele me proibiu de vê-la. Isso foi o começo das piores coisas que estavam por vir. Sempre acatei suas proibições por medo. Muito medo. Era como se ele tivesse um controle remoto que obrigava como eu deveria agir.

Na primeira vez que me viu, Brian parecia obcecado. Eu havia acabado de completar dezoito anos e, em troca do nosso relacionamento, ele sanaria todas as dívidas que tínhamos. Procurou meu pai, que não pensou duas vezes, já que estávamos vivendo em condições ruins. Não protestei muito. Brian era um homem incrível, bonito, sedutor, e eu não via a diferença de idade como um problema. É sempre assim, no começo, a vítima nunca percebe que está caindo em uma armadilha, principalmente quando o cara é gentil, educado, carinhoso. O homem que  dizia coisas lindas para uma adolescente que não sabia nada sobre a vida. Na verdade, qualquer mulher adulta se apaixonaria por ele.

Mesmo tão jovem, eu acreditava  que poderia ser feliz ao seu lado. Ele me encantou e me levou a um mundo que eu desconhecia; acabei me apaixonando de verdade, mas com o passar do tempo, ele foi se mostrando cada vez mais agressivo, ciumento e obsessivo. Ele me traiu muitas vezes, e eu era obrigada a aceitar calada. Ofensas eram comuns. Tocar o meu corpo sem meu consentimento, também. Quando me dei conta já estava em um círculo vicioso onde não sabia como sair.

Claro que ele jogava sujo quando eu queria me separar. É ele quem paga todo o tratamento da minha mãe. A condição financeira era sua arma contra mim. Quando eu, raramente, me queixava com meu pai, este dizia que eu apenas deveria obedecer ao meu marido e agradecer a Deus a sorte de ter encontrado um homem tão bom quanto Brian. Meu pai se rendeu a ele por dinheiro.