Karma: O universo dita as regras [DEGUSTAÇÃO]

Dois lados de uma história

Tudo começou no dia 14 de Setembro, quando Karma viu as fotos dele estampadas em todos os jornais da cidade. Ele cara a cara com um policial, a boca e o nariz cobertos por uma bandana preta, o olhar cheio de rebeldia e seu dedo do meio a dois centímetros do rosto do oficial.

Não era o primeiro movimento ativista em que ele ia e muito menos o primeiro em que arrumava confusão, mas era o primeiro em que aparecia na mídia, mostrando rosto, nome e até a escola onde estudava e para piorar a situação, ele aparecia desrespeitando uma autoridade. Aquilo não era bom, era acostumado a fazer esse tipo de coisa, mas dessa vez tinha ido longe demais. E você deve estar se perguntando "Okay, o que Karma tem a ver com ele?", bom, antes do dia 14 de setembro, nada, depois disso, tudo. Vou explicar desde o começo.

Existiam cinco escolas que se destacavam na cidade de Santa Elena, elas são chamadas de As Cinco Originais pois foram as primeiras escolas a serem construídas na cidade. São elas: Academia de Ensino São Cipriano, Instituto Acadêmico Charles Darwin para garotos, Organização Estudantil Sophie Germain para moças, Estúdio de Artes Cênicas Charlie Chaplin e Instituto Educacional Santa Elena.
Karma estudava no Instituto Educacional Santa Elena, que antigamente também costumava ser uma escola apenas para moças até que esse garoto, Kyle, ganhou uma causa na justiça para poder estudar lá. Motivo? Aparentemente o cara era tão indisciplinado que as escolas normais ou não queriam aceitá-lo em suas instituições ou ele era expulso delas. Então, depois que Kyle foi expulso até das escolas particulares da cidade, ele começou a entrar para As Originais, escolas públicas, mas que eram difíceis de se entrar por serem fundadoras. Primeiro ele foi para a São Cipriano, expulso, depois conseguiu entrar e ser expulso em tempo record da Charles Chaplin, dois meses, e por último foi reprovado e expulso da Charles Darwin. Como as opções estavam acabando e agora só restavam escolas destinadas apenas para meninas, ele escolheu uma: O Instituto Educacional Santa Elena. E foi brigar na justiça para entrar. Depois que Kyle ganhou a causa, vários outros garotos conseguiram admissão para o Santa Elena e hoje a escola é praticamente dominada por homens.

Então no dia 14 de setembro as mulheres do Santa Elena resolveram reagir, naquele dia quando Karma chegou na escola deu de cara com vários cartazes e banners espalhados por todo lugar com os dizeres "Faça como uma garota". A ideia era pegar as líderes de turma de cada sala e as incentivarem a fazer coisas em que só meninos eram considerados bons ou melhores que as garotas, e provar que as meninas podem ser tão boas quanto eles.

Ela estava no corredor do segundo ano procurando alguma letra miúda no cartaz que dissesse "Fique tranquila, a participação não é obrigatória", mas como era de se esperar as letras miúdas não existiam. As imagens estampadas nos cartazes eram variadas, o que estava na frente dela carregava o símbolo do feminino e do masculino com um sinal de igual entre eles, Karma observou por um instante lendo as informações que o cartaz fornecia; O projeto duraria quatro meses, haviam várias categorias que seriam apresentadas na culminância e as instrutoras seriam todas mulheres.

— Karma! — Anna chamou a menina com entusiasmo ao vê-la lendo o cartaz. Karma virou a cabeça e viu a mulher saindo de uma sala de aula. Alta, magra, loura e sorridente, usava jeans e uma blusa fina cor de rosa, os saltos faziam barulho contra o piso polido. Anna era jovem e confiante, uma combinação que quase não se vê mais por ai. — O segundo ano ficou com o "Você luta como uma garota", sua sala é o 2B não é? Acabei de fazer um comunicado sobre o projeto lá, você perdeu, as meninas estão tão animadas.

Ai meu deus, pensou Karma, luta? Desde que tinha posto os olhos no cartaz tinha cruzado os dedos e desejado baixinho "luta não, luta não". A menina respirou fundo e tentou não parecer tão desanimada com a ideia.

— Ok, mas o que você quer dizer com "o segundo ano ficou o 'você luta como uma garota'?" nós não vamos ter que... lutar, lutar, não é? Eu não vou ter que bater em alguém ou machucar alguém, vou?