Karma: O universo dita as regras [DEGUSTAÇÃO]

Uma espiã demais

Antes do intervalo bater, Karma saiu sorrateiramente da sala de aula, na ponta dos pés como se estivesse indo roubar um banco. Ela desceu os degraus que levavam até o térreo e correu para o prédio da diretoria, olhando de um lado para o outro, desconfiadíssima.

A partir do momento em que pôs os pés naquele prédio começou a olhar para o chão. Kyle não tinha dito os lugares exatos por onde passara, e ela nem conseguia imaginar o que diabos ele tinha feito para perder uma carteira que provavelmente estava dentro do bolso da calça dele. Como ela havia saído de lá exatamente? Ele tinha dado cambalhotas enquanto investigava como se fosse um daqueles espiões de filmes antigos?

Ela foi caminhando até a sala de Edith e quando chegou na porta não tinha jeito: Teria de bater e fingir que tinha algo para falar com a diretora. Karma bateu. Uma. Duas. Três. Quatro. Cinco. Cinco vezes e ninguém deu sinal de vida lá dentro. Ela girou a maçaneta devagarinho, a porta rangeu, e ela colocou a cabeça para dentro. A sala estava vazia. Estranho.

Karma olhou para o corredor atrás de si checando se tinha alguém observando-a, ninguém também, e entrou para a sala da diretora. Apesar de Kyle ter dito que o antigo diretor estivera ali mais cedo, não havia vestígios dele agora, apenas uma mesa ocupava a sala assim como na última vez em que Karma estivera ali. A mesa de Edith, isso era uma coisa boa.

Ela acendeu mais uma luz e se pôs a procurar, não tinha muito tempo então precisava ser rápida. Olhou de baixo da mesa, perto dos armários de metal cinza e nada. Como não havia ninguém ali mesmo, ela mexeu em alguns papéis da mesa de Edith, não achou nada de interessante, nem mesmo a tal ficha de presença em branco da qual Kyle falara, só alguns planos de atividades da escola, lembretes e coisas que Karma não entendia. Até que achou uma coisa. Uma impressão com os nomes dos voluntários ao serviço comunitário da escola. O nome dela estava no topo.

Karma Beatrice Winther - 2b
Supervisora afastada

— Afastada?

Ela virou o papel de ponta a cabeça atrás de mais informações, mas era apenas isso. Ela estava afastada e ponto final. Karma devolveu o papel para a mesa e tentou ajeitar tudo como estivera antes, a sorte era que estava tudo uma bagunça mesmo antes dela mexer. Depois voltou sua caça a carteira.

— Onde será que você está? — murmurou ela semicerrando os olhos para os cantos da sala, a procura da carteira perdida. — Se eu fosse uma carteira e meu dono fosse Kyle, para onde eu fugiria?

Foi quando passos ecoaram no corredor, saltos altos contra o piso polido do instituto. Karma arregalou os olhos e correu para se esconder, pensou em se esconder debaixo da mesa, mas era muito clichê. Olhou para o mastro alto atrás da mesa de Edith com a bandeira do Santa Elena pendurada e se imaginou apenas com metade do corpo escondido e as pernas do lado de fora que nem naqueles desenhos animados. Os passos se aproximaram, estalando cada vez mais perto e Karma se escondeu atrás da porta.

Seu pé encontrou uma protuberância bem no cantinho onde se espremeu. Ela olhou para baixo, erguendo um pouco o pé. Era a bendita carteira. Pelo visto Kyle tivera a mesma ideia de se esconder ali. Os passos vieram e pararam bem diante da porta. Karma prendeu a respiração.

— Mas quem deixou essa luz acesa? — Era uma voz que Karma não conhecia.

A mulher abriu a porta e Karma se espremeu contra a parede, o coração batendo tão forte que ela podia senti-lo na garganta e nos ouvidos. Mas a mulher apenas deslizou a mão pela parede e apagou as luzes, fechando a porta logo em seguida, os passos de salto alto se afastando novamente.