Prefácio

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Algo que me fez ver os meus erros, por mais graves que fossem, foi ouvir. Sinto que independente da gravidade dos mesmos e da variação do quão repreensível cada ato deva ser, o importante, acima de tudo, é a capacidade do outro de poder ouvir. Você pode dizer a alguém que está errado que ele errou, pode processá-lo, prendê-lo, torná-lo escárnio. Tudo isso será em vão ou mera vingança se o problema não for consertado de fato. Não é só na sociedade, é no interior daquele indivíduo também. Afinal de coisas, como bom fã do horror, há algo que aprendi: não há nada mais temível ou surpreendente do que a condição humana, e às vezes essas duas coisas se misturam.

Ver humanidade até no desumano é complicado, às vezes impossível. Especialmente dependendo do caso. Porém, este não é um romance sobre isso. Este texto se equivale a outros que escrevi em um sentindo. Não sinto que ele me representa. Não como pessoa, não em sentimentos, não em validade. Nem toda obra é produzida por um bom artista, moralmente falando. No entanto, para não me divagar ainda mais sobre isso, esta obra vai além de uma espécie de confissão levemente adulterada para se tornar parcialmente fictícia. Não, ela não é só algo que veio de um sonho como tantas outras histórias de minha autoria. Porque, antes de tudo, não é uma narrativa sobre mim.

Eu não sou o protagonista desta história, nem mesmo um dos personagens. Na verdade, procuro me distanciar cada vez disso no que escrevo – e sinto que isso é para o melhor. Só que não é sobre distanciamento ou uma avaliação própria de consciência. É sobre representatividade. Antes de tudo, apesar da história não ser contada do ponto de vista da figura que considero ser mais importante, julgo ser vital partir desse ponto para compreender como pequenos eventos podem ter grandes consequências na formação social de alguém. E como isso pode ajudar outras pessoas nos processo.

No momento, este texto é escrito por alguém que não se encaixa em um ou mais dos assuntos abordados. Isso pode mudar. E se há algo que aprendi nesse meio tempo, é que há muitos romancistas interessados em lucrar com assuntos que, além de fugirem de sua vivência, não são explorados a fundo por esses autores e, pelo mesmo motivo, acabam por ser ausentes de uma verdadeira pesquisa e cuidado. Falta tato. Falta contato humano. Falta amor. Arte é isso.

Reitero que eu me responsabilizo pelas informações aqui trazidas. Além disso, caso as mesmas estejam sendo representadas da maneira errada, eu já disponibilizo minhas mais sinceras desculpas por qualquer assunto que abordei de forma indevida ou inadequada. Também afirmo não dizer isso como uma maneira de me dar um passe livre para dizer o que eu estiver afim, não. Redigir isto vai além de enfrentar meus demônios pessoais, além de enfrentar uma possível hipocrisia e represália justa.

Ao longo dos anos, pude conhecer muita gente, ouvir seus pontos de vista e suas histórias. E o que mais me valeu para mudar como vejo o mundo foi este último fator. Independente de qualquer ideologia ou posição política, nada pode mudar o fato de um cotidiano; é impossível adulterar o que se viveu, suas emoções e sua individualidade. E é isso que espero poder ter respeitado com cautela. É falar de uma identidade que não é minha, mas certamente pode ser de alguém que lerá. E que essa pessoa possa não só sair entretida, mas saber que há ao menos um ser humano que a compreende e a trataria como gostaria. Faria com que se sentisse bem-vinda, em paz consigo mesma e seus arredores.

Esta história fala da atual geração. Ela falará de temas bem recentes e, para alguns, polêmicos. E espero tratá-los com esmero e transparência. Não serei imparcial no que defendo e acredito – e consigo imaginar pessoas que não ficarão nada felizes com o que está escrito aqui. Talvez não estejam certas sobre isso – e para mim não estariam, mas a filosofia deixa bem vaga a noção conceitual de certo e errado; de bem e mal. Quando tentei escrever minha primeira obra que considerei ser um trabalho sério, tive graves problemas narrativos e com o aspecto sociopolítico da mesma. Agora, mais velho e mais sábio, espero ser mais sucinto e certeiro nisso. Reconheço não possuir todas as respostas, mas opto por acreditar em um mundo no qual a igualdade possa ser tão prioritária quanto liberdade.

Espero de coração que as pessoas que lerem isto possam refletir sobre todas as temáticas abordadas, sem preconceitos ou julgamentos. Que possam, acima de tudo, praticar empatia e aprendizado. E que com essa história, cresçam e abram seus olhos para um mundo que vai muito além do preto e do branco. Ele é colorido. E por isso é infinito e magnífico.

Por fim, dedico este livro, em especial, a três pessoas, agora já falecidas. Não revelarei os seus nomes por motivos pessoais, mas espero que elas possam encontrar sua paz. E acima de tudo, que as comunidades e pessoas que encontrei nunca precisem passar pela mesma dor que meu coração apertado sente só de pensar nessa tristeza. Que encontrem a felicidade e que um dia toda essa desgraça tenha fim.

EM HOMENAGEM A

K. , Y. & M.T.

IN HOMAGE TO

K. , Y. & M.T.

Nova GeraçãoWhere stories live. Discover now