UMA NOVA DIMENSÃO

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Uma luz bruxuleante atingiu o seu rosto, a obrigando a fechar os olhos diante do clarão que aumentava cada vez mais. O colar pesou nas suas mãos e ela sentiu que o objeto começava a esquentar, mas inexplicavelmente, não experimentava nenhum tipo de dor.

Seu coração batia tão rápido, que podia sentir o órgão golpeando contra seu esterno.

De repente, a luz foi ficando mais fraca e o colar esfriando gradualmente.

Agatha abriu primeiro um olho e depois o outro, para verificar se ainda estava inteira. Fisicamente, ela parecia a mesma pessoa, mas algo estava diferente, algo no mais profundo do seu ser. Olhou ao redor e constatou que ainda estava na praia, contudo, parecia outro lugar. Caminhou de volta até o banquinho que ocupara minutos atrás, se sentindo cansada repentinamente.

Foi quando percebeu uma coisa muito importante: a areia não estava mais preta. Ao contrário, era completamente branca. Tão alva como a neve. Pegou um pouco nas suas mãos e deixou que os grãos escapassem pelos seus dedos.

— Mas... como isso é possível? – Indagou a si mesma. Como uma praia inteira mudaria de cor em apenas alguns minutos?

— As coisas nessa dimensão mudam de cor com o tempo. – Uma voz rouca soou atrás dela, arrancando um grito abafado da garota.

— Q-quem é você? – Perguntou assustada, apontado a primeira coisa que encontrou: um débil graveto. O garoto encapuzado olhou para a "arma mortal" segurada firmemente pelos seus dedos delgados e sorriu com o canto da boca carnuda.

— Meu nome é Sam, e eu não vou lhe atacar, se é essa a sua preocupação. – Deu um passo na sua direção e ela deu outro se afastando por reflexo. — Como você chegou até aqui? – Insistiu.

— Eu... moro aqui perto, meu pai já está vindo me buscar! – Mentiu.

— Não acredito em você. – Sam disse, se sentando na pedra e baixando o capuz preto da sua cabeça, revelando sua linda cabeleira completamente azul escura.

— Uau...– Foi o único que a garota conseguiu pronunciar. Ele era muito bonito. — Por que não acredita em mim? – Perguntou saindo do transe causado pela beleza do garoto.

— Porque eu sou o único que habita nessa dimensão.

Agora sim ele parecia um louco. Do que estava falando?

Agatha começou a correr, assustada e com muito medo. Quando chegou no lugar que levava até a sua casa, para sua surpresa, estava completamente vazia. Se ajoelhou na frente do que seria a sua calçada e começou a chorar copiosamente. O que estava acontecendo?

— Eu te avisei. – Sam tocou o seu ombro e ela o abraçou, se esquecendo de todo o medo que sentira minutos antes. O garoto irradiava um calor aconchegante. O mesmo calor emitido pelo colar.

— Espera! Como eu vim parar aqui? É tudo igual, mas é... diferente! – Agatha tentou compreender o incompreensível. Sam segurou o seu rosto com as duas mãos e lhe dedicou um profundo olhar tão azul quanto o seu cabelo.

— Eu vou te ajudar a voltar para casa, mas você tem que me prometer uma coisa. – Os olhos da garota chegaram a brilhar com a possiblidade. Ela apenas balançou a cabeça, concordaria com o que ele quisesse com tal de voltar para seu lar, sua família. — Você tem que me levar junto.

Com os olhos arregalados, começou a negar com a cabeça.

— E-eu não sei! Você tem o cabelo azul!

— E o que isso tem a ver? – Sam sorriu.

— Não faço ideia! – Ambos caíram na risada de repente, como se não pudessem controlar os próprios sentimentos.

Depois de alguns minutos, Sam se levantou e com um puxão, ajudou Agatha a se levantar também.

— Tudo bem, eu te levo, mas como fazemos para voltar?

— Teremos que encontrar a Aurora Boreal. – Disse simplesmente.

— Mas aqui não temos isso! O lugar mais próximo é na... Dinamarca?

— Não se esqueça que não estamos na nossa dimensão. Vamos. – A puxou pelo braço e a levou até uma caverna. Ali havia um colchão feito de palha, alguns vasilhames de pedra e uma colcha de peles.

— Como você veio parar aqui? – Perguntou curiosa enquanto o ajudava a colocar tudo em uma bolsa de lona preta.

"— Sam, você tem certeza disso? – Holly disse caminhando ao seu lado pela praia de Golden Hill, eles tinham prometido que iriam perder sua virgindade ali, na caverna aonde se conheceram. Tudo estava pronto, Sam havia ido antes até o lugar e se certificado de que esta seria uma noite perfeita. Inclusive havia comprado um presente especial: um colar que encontrou em uma loja de antiguidades, a um preço ridiculamente barato.

O dono o entregara rapidamente enrolado em um papel grosso, com algumas escrituras que pareciam ser latim.

Quando o casal chegou na caverna, Sam acendeu as velas e tirou o jantar cuidadosamente preparado para a amada. Comeram e depois se deitaram na cama improvisada. Trouxera a colcha de peles da sua mãe, para não passarem frio. Depois de uma longa noite de amor, decidiu que já era hora de entregar o presente.

Abriu o pacote de papel e quando tocou no colar..."

— Sam? – Agatha perguntou assustada tocando no seu ombro. O garoto tinha um olhar tão melancólico que era capaz de entristece-la mesmo não o conhecendo.

— Desculpa, estava lembrando de algumas coisas... bom, não importa como vim parar aqui, precisamos nos concentrar na maneira de sair.

— Okay. – Respondeu e começaram sua caminhada em busca do portal que os levaria de volta. Depois de várias horas caminhando e sem obter nenhum resultado favorável, resolveram descansar. — Sam... estou faminta! – Seu estômago emitiu um ruído estrondoso em um timing perfeito.

Sem dizer nada, Sam caminhou até uma arvore gigante, tirou algumas folhas, cascas e frutos e colocou na sua frente.

— Coma, não é ruim, eu prometo. – Colocou uma porção do jantar na boca e Agatha fez o mesmo. De fato, tinha um gosto aceitável.

E assim passaram semanas na busca da Aurora, cada dia a esperança se abalando um pouco mais.

"Por que eu tinha que ir naquela maldita praia! " – Agatha pensava enquanto recolhia frutos e folhas para comerem. Sam a olhava com pena e algo de culpa. Em um pulo, Agatha fez um declaração silenciosa: se dependesse dela, ambos saíram dali, nem que para isso levassem uma eternidade.

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