CORRA!

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Eles peregrinaram semanas ou talvez meses, o cansaço era evidente em ambos e o cabelo de Agatha começava a adquirir uma tonalidade arroxeada.

— Ah não... – Murmurou quando viu o seu reflexo em um riacho enquanto tomava o terceiro banho do dia. Sam ficara de guarda, porém sempre a espiava sem que a garota percebesse. Ele começava a nutrir sentimentos por ela, mas não tinha coragem de se aproximar. Agatha era durona e com um caráter que dava medo na maioria das vezes, entretanto, ela também tinha um grande coração e sabia se virar sozinha. — SAM! – O garoto entrou correndo no riacho ao escutar o grito apavorado.

— O que foi? Se machucou? – Perguntou, tentando não desviar o olhar do seu rosto, já que o corpo à sua frente estava completamente desnudo.

— Algo passou pelos meus pés! Acho que é um bicho! – Exclamou. Alguns minutos depois percebeu a situação em que se encontrava. — Oh meu Deus, feche os olhos Sam! – Rogou envergonhada, mas ele não conseguia obedecer a esse comando. Aquela era uma visão demasiado linda para que ele se privasse. Tomando iniciativa, foi se aproximando até que seus corpos estavam tão perto que ele conseguia sentir a respiração acelerada da garota.

— Agatha... – Sussurrou esperando que ela entendesse seu pedido silencioso. Criando coragem, Sam colou seus lábios nos dela, se deliciando com o doce sabor do seu beijo. Alguns minutos depois ingressaram em uma dança frenética, entre beijos e toques, cada um expressava seus sentimentos de uma maneira diferente. Quando ambos precisavam do ar para respirar, se afastaram e Sam encostou sua testa na de Agatha, respirando com dificuldade.
— Me desculpe o atrevimento, mas não podia resistir mais nenhum segundo.

— Não precisa se desculpar... –Sussurrou enquanto o abraçava apertado, a vergonha ficando no esquecimento.

Depois de se vestir, os dois empreenderam novamente a caminhada.

— Promete que quando sairmos daqui você vai me procurar? – Pediu e ele balançou a cabeça em concordância. — Okay.

Andaram e andaram pelo que pareceu um longo tempo, lançando olhares cheios de significado um ao outro e de mãos dadas. Estranhamente, Agatha se sentia feliz por não estar ali sozinha, além do mais, Sam era uma ótima companhia. Um sorriso brotou no seu rosto ao lembrar da cena do rio. Ele sabia como beijar.

Tocou seus lábios com a mão livre, esperando com ânsias quando poderia beijá-lo novamente.

De repente, foi obrigada a parar pelo puxão que recebeu do garoto que invadia cada vez mais os seus pensamentos.

— Agatha, olha! – Sam apontou para uma montanha, sinalizando aquilo que eles tanto buscavam: a Aurora Boreal.

Correram como se suas vidas dependessem disso, e na verdade dependia. Ao som de gargalhadas, os dois se aproximavam cada vez mais do fenômeno causado pelo plasma solar em contato com o campo magnético da terra.

Eles precisavam saltar de um penhasco em direção à grande faixa multicor. Parecia algo muito simples, mas era totalmente o contrário. Se não conseguissem chegar até a Aurora, cairiam em um penhasco e provavelmente não sobreviveriam para contar a história.

— Agatha, você tem que correr o mais rápido que conseguir! Não olhe para trás e não diminua o passo, não importa o que aconteça! – Sam aconselhou e ela concordou. Por sorte, sempre gostara de correr.

Estavam por pegar velocidade, quando uma sombra se moveu dentre os arbustos, chamando a atenção da garota.

— Sam, o que é isso? – Apontou para o galho verde que ainda se mexia.

— Deve ser apenas algum animalzinho assustado com a nossa presença. – Tentou tranquiliza-la, contudo, percebeu que seus olhos se arregalaram de repente focando em algo atrás dele. Se virou lentamente e sua respiração falhou ao ver o enorme animal parado, esperando para dar o bote e garantir sua refeição. — Agatha, – Sussurrou. — Fique calma, eu vou distraí-lo, corra o mais rápido que consiga e não olhe para trás.

— Eu não vou deixa-lo fazer isso! – Sua voz saiu meio esganiçada, ela estava com muito medo.

— Confie em mim, por favor. Vai dar tudo certo! – Garantiu, segurando seu rosto com as duas mãos e depositando um beijo rápido na sua boca que agora começava a tremer, por causa da sua insistência em segurar o choro.

— Promete que vai conseguir?

— Eu prometo. – Deu um leve empurrãozinho na garota, em um sinal claro para que ela começasse a correr.

Agatha moveu suas pernas tão rápido quanto era possível. Podia escutar os gritos de Sam. Ele estava distraindo a fera, dando tempo para que ela pudesse sair dali com vida.

Quando chegou quase no meio do caminho, não conseguiu obedecer às ordens do garoto e olhou para trás. A pior decisão da sua vida. A fera estava em cima de Sam, suas garras arrancando pedaços da sua roupa, podia ver rastros de sangue na terra branca.

— SAM! – Gritou enquanto corria de volta, pensando em uma forma de ajuda-lo.

— AGATHA, NÃO SE ATREVA A VOLTAR! CORRA! – Ela podia ver a suplica nos seus olhos e decidiu finalmente acatar ao seu pedido.

Com lágrimas nos olhos, correu até que pequenas feridas surgiram nos seus pés. A dor que sentia no seu coração era bem maior à dor física.

Quando avistou a ponta do precipício aumentou a velocidade e pegando impulso, pulou atravessando a Aurora, dando uma última olhada para o garoto que ganhara o seu coração, ainda lutando contra a fera maldita.

Aurora BorealOnde histórias criam vida. Descubra agora