PLUS SIZE (CONCLUÍDA)

TESSA

 ― Você está perfeita!

Meu sorriso vem fácil quando recebo das mãos do meu empresário a nova edição da Vogue americana. A confiança que aprendi a dissimular tão bem é suficiente para que eu concorde com ele.

Observo durante longos minutos a mulher que aparece na capa, tentando encontrar partes de mim mesma.

Quem é ela?

Linda.

Alta.

Gorda.

Antes do ensaio, passei dias recebendo elogios. Atendendo a inúmeras ligações de felicitações.

"Você está revolucionando a indústria da moda", eles diziam.

Mas eu não me deixo enganar. Eles não me querem ali. Eu sou uma anomalia. Uma exigência do mercado. A quebra definitiva dos padrões que eles tanto idolatram.

Mas também sou o resultado da luta de mulheres como eu por um espaço. O grito de guerra de todas elas. "Olhe pra mim, eu existo, eu sou linda sim. Eu amo meu corpo. Eu amo a mim mesma".

E foi por elas que eu decidi enterrar minhas inseguranças. Por cada uma delas que enfrentei batalha por batalha até me tornar a primeira modelo plus size a conquistar o impensável. A primeira Victoria Secret's Angel completamente fora dos padrões de medidas.

O problema é que isso significa uma coisa que ainda me apavora: a exposição quase completa do meu corpo.

Meu corpo cheio de curvas e imperfeições.

Sozinha, abro a revista. Meu coração acelera por alguns segundos e eu sei muito bem o porquê. Ainda sinto o estranho nó se formando na boca do estômago quando me lembro daquela tarde. Do quarto... Daquele homem.

De alguma forma, ele conseguiu. Ele realmente conseguiu.

Quando me vejo através das lentes dele — dos olhos dele — me sinto verdadeiramente linda.

O homem com certeza tem experiência nisso. Também... ele sim parece um modelo. Os fios de um loiro bem claro, alto, a barba por fazer dando-lhe um ar sexy sem parecer displicente, a cor dos olhos escondida por baixo dos óculos escuros. Parado no lobby, com a máquina fotográfica na mão, parecia o tipo altamente profissional.

Ele olhou bem na minha direção e parou de limpar a lente da câmera. Eu vi quando a sua postura mudou, a surpresa. Era sempre assim quando a modelo gordinha se aproximava. Por isso mesmo, segurei forte a mão do meu irmão. Alex Grey era o único que me conhecia inteiramente. Só ele sabia que por baixo da atitude de menina sexy e confiante, se escondia uma garotinha insegura, que assaltava a geladeira de madrugada.

— Ei, vai ficar tudo bem! Você é linda. Nunca permita que te façam acreditar o contrário. – uma piscada de olho do meu irmão e meu mundo se encaixa novamente. Tudo no lugar. Certinho. Eu amo aquele grandão.

Foi depois de me despedir dele e me virar para o fotógrafo que quase caí do salto e paguei o maior mico da história. Eu tropecei. Eu literalmente tropecei, quando ele tirou os óculos escuros e sorriu.

Ok, além daquele conjunto todo de homem, ele tinha os olhos azuis. Assim era covardia. O jeito de olhar charmoso, confiante. Se um de nós pertencia àquele lugar, era ele e não eu.

Ainda sorrindo e um pouco sem graça, o loiro me perguntou:

— Acredito que seja a Tessa. Tessa Grey, certo? Está tudo bem? — me limitei a concordar com a cabeça, ainda procurando me equilibrar. — Muito prazer, sou Taylor Hanson, o fotógrafo.