alice

10.3K 861 8
                                    

ALICE

A mãe do Lucas me fez tomar um banho rápido e me deu um vestido confortável para vestir.

Eu não sei dizer o que tinha acontecido, depois que conversei com o Lucas no Jardim eu fui para o quarto, comecei a pensar no que ele disse, de nunca terem cuidado de mim, e as lembranças da infância acabaram vindo. Mamãe costumava fazer isso muitas vezes quando eu era pequena, a Felipa tentava me ajudar mais não podia, o máximo que ela conseguia era contrabandear alguma comida para que eu não ficasse até dias com fome. Ainda sim as vezes não era possível.

Nessa época eu ainda tinha esperanças de ser aceita, de que minha família me amasse, mais depois de um tempo essa esperança foi morrendo e com isso os castigos foram acabando, eu deixei de sair do quarto como mandavam, deixei de lutar porque não acreditava mais que podia ser feliz, então não tinham motivos para me castigarem não é? Eu já estava quebrada afinal.

Eu não tinha essas crises a muito tempo, acho que porque eu evitava ao máximo me lembrar, por isso, agora que passou fiquei muito surpresa por ter acontecido de novo, e com raiva também, sentia vergonha por ter perdido a cabeça justo aqui como uma garotinha assustada.

Sem contar que isso não é uma coisa para as pessoas ficarem sabendo, mamãe e papai sempre falaram pra não contar a ninguém, que ninguém tinha nada a ver com o que acontecia na nossa família. Nessas horas eles lembravam que eu era da família, pensei com amargura.

Mais apesar de tudo, eu não queria o mal da minha família, se essa história se espalha seria um grande escândalo, eles estariam arruinados.

E eu não queria que me vissem assim, como a garotinha quebrada e assustada que nunca pode se defender , eu não queria a pena de ninguém. Não, ninguém poderia saber, eu iria falar com o Lucas, essa história não iria se espalhar.

Eu não poderia viver a vida toda assim, com pena de mim mesma, eu nem ao menos vivia, eu tinha que mudar, talvez o Lucas pudesse me ajudar com isso, e se um casamento sem amor fosse o preço tudo bem, eu sabia que era arriscado, que podia me machucar mais ainda, mais estava disposta a correr o risco. Sem contar que eu duvidava muito que um dia ia aparecer um príncipe encantado, eu tinha vivido minha vida inteira sem amor e tinha sobrevivido, poderia continuar.

Porque para o bem ou por mal, minha vida ia mudar.


AQUELES OLHOSOnde histórias criam vida. Descubra agora