3

8 0 0
                                    

MICHELLE

Essa última semana passou voando, tudo em um piscar de olhos, já era sexta-feira e eu e o Arthur decidimos passar esse fim de semana na casa da minha mãe, fazia tempo que não nos reunimos dessa forma.
Meu filho adora a avó, principalmente quando ela faz a vontade dele, eu não lembro de nada disso na minha infância.

— Filha, você trouxe a roupa de banho do Arthur? - ela me olha daquele jeito de sempre, como se eu fosse incompetente até pra isso

— Sim, dona Marta, está na minha bolsa

— Já peguei, já peguei - Arthur diz todo animado com a sunga de banho em mãos

— Vem querido, vamos colocar a sua sunga

As vezes eu não reconheço minha mãe quando ela está com o meu filho, é uma mulher totalmente diferente, ama o neto mas odeia o pai, ela nem toca mais no assunto, dou graças a Deus, mas as vezes penso que ela está aliviada pela morte do Richard.

A novela das 18:00 já tinha começado, "Ódio e Paixão", nada que uma novela mexicana para aliviar a tensão, Arthur já tinha dormido de tanto brincar, era raro ele dormir a tarde, o ruim é que ele provavelmente irá ficar acordado de madrugada.

Com o fim da novela, me vejo aos prantos, o personagem acaba perdendo a sua família, um por um, eu já não estava me sentindo bem, e esse final já vem com uma marreta pra cima de mim.
O noticiário já tinha começado, tragédia atrás de tragédia, até agora não tinha nada que possa me alegrar.

~Tv~
Os suspeitos do incêndio da empresa Alvares's e da morte de Richard Alvarez, acabam de ser levados a delegacia, seus nomes são, Carlos Silva, Marcos Santana e Mário Lacerda, eles afirmam que tiveram mais pessoas envolvidas, a equipe de investigação está preparada para ir atrás de mais respostas...

Um nome desses me é familiar, Mário Lacerda, quando mostraram o rosto fico espantada, esse homem já esteve tanto com a minha família quanto na minha floricultura.

— Mãe, você viu isso? - Olho pra ela espantada

— Claro, claro, não acredito que tivemos envolvimento com criminosos, eu sabia que a simpatia dele não passava de uma máscara - ela fala com o olhar cheio de ódio

— Não pode ser verdade

— Está vendo isso querida? Não esqueça que ele é amigo do seu marido, aposto que cada um influênciava o outro de maneira errada

— Será que dá pra ficar quieta pelo menos uma vez? Não admito que fale do meu marido, o pai do seu neto desse jeito, já aguentei muita saliva sua em relação a ele, se esse cara fez isso com Richard, que Deus dê a ele o que ele merece, tanto ele quanto o resto de pessoas que estavam envolvida

Ela olha para mim atenta a cada palavra que sai da minha boca, Richard já fez muita coisa pra mim, me fez ser uma parte da mulher que sou hoje, tenho coragem para defender aquilo que amo, prometi isso a ele, e tenho o maior orgulho de cumprir.

— Irei deixar o Arthur com a senhora nesse final de semana, não posso ficar nessa casa e me estressar dessa maneira - falo pegando a minha bolsa e colocando-a no meu ombro direito

— Michelle...

— Não mãe, essa discussão tem que acabar, principalmente pelo bem do Arthur, imagina se ele souber que você odeia o pai dele, irá ficar devastado, e se ele quiser manter distância, eu não irei me intrometer - falo a deixando sozinha na sala

As lágrimas rolavam do meu rosto sem medo, não tem um dia que eu não pense no amor que sentia por aquele homem, sei que nem tudo era as mil maravilhas, porém, eu o ama, sem pensar duas vezes.

Minha cama não esquentava de jeito nenhum, estava se acostumando a ficar fria, ninguém jamais deveria sentir isso, é doloroso, e queima de um jeito inexplicável

Minha cama não esquentava de jeito nenhum, estava se acostumando a ficar fria, ninguém jamais deveria sentir isso, é doloroso, e queima de um jeito inexplicável

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

"Comece a agir sozinha"

Era o que dizia a carta misteriosa, essa já era a segunda, e mais uma vez com cheiro de café, e sem assinatura, eu não gostava nem um pouco disso, era agonizante, não reconheço a letra de jeito nenhum, e muito menos tenho ideia de quem possa ter mandado. Nenhuma dessas frases faz sentido pra mim, e seria muito assustador se fizesse, meu coração acelerava cada vez mais se essa opção fosse realmente verdadeira. Com as duas cartas em mãos, rasgo elas de uma vez, não passava de uma brincadeira estúpida, e eu não estou com cabeça para querer ficar pensando nisso, tenho coisas melhores para fazer, como organizar as encomendas das flores, parece que muita gente resolveu presentear alguém com algum buquê, ou muita gente deve estar perdendo pessoas queridas, e ainda tem as reuniões na escola do Arthur, eles tá começando a ficar arteiro, tanto que me assustei, nunca tinha recebido uma reclamação, preciso conversar muito sério com ele sobre isso antes que eu enlouqueça e esqueça que preciso ter paciência.

A cada dia que passa meus ombros pesam mais, a responsabilidade é grande, e a saudade, é mais ainda.
Não estava preparada para seguir uma vida assim sozinha, tinha planejado tudo junto com o Richard, não é justo, não tem como a gente amar incondicionalmente e planejar como vai ficar no final, muita gente convence a si mesmo de que vai ficar tudo bem, isso não passa de uma mentira esfarrapada, uma tentativa de superação.
Tenho que parar de lamentar, infelizmente, já foi, não volta mais, estou desperdiçando lágrimas, mas felizmente, todas as noites, mesmo que seja por um breve momento, ainda sinto a sua presença no meu coração.

— Você precisa ser forte, Michelle, antes que caia em um abismo de escuridão eterna.

Volto para a realidade e caminho até o meu quarto, olho aquela cama de casal que parece bem maior do que antes, suspiro bem fundo e solto ar, como se estivesse liberando todas as minha dores e todos os sentimentos que pensavam no meu peito, preciso me livrar dessa depressão que aparentar ser infinita.

Deixe QueimarOnde histórias criam vida. Descubra agora