CAPÍTULO: 9 ✓

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"Espero que tenha conseguido o que queria." Demi comentou com o tom sem interesse enquanto esperava Maite terminar de assinar o cheque.

"Ele concordou em depositar uma quantia por mês para as despesas médicas." Maite respondeu também sem muito interesse.

"Já viu o menino?"

"Não."

"Não?" Demi ficou intrigada. Ele ia depositar dinheiro para uma criança que nunca vira?

"Não quer conhecê-lo." A voz de Maite sumiu quando um caroço subiu pela garganta. "Pediu um teste de DNA e, quando foi confirmado, pediu que eu mandasse os dados de uma conta eletrônica."

"Crápula." Demi ecoou as palavras de seu amigo. "Bom, pelo menos terá ajuda com o dinheiro para o tratamento."

"Sim, mas não era isso que eu queria. Eu só queria que ele conhecesse o filho, que passasse algum tempo com ele, que dissesse que tudo daria certo e que, um dia, iriam jogar beisebol juntos."

"Homens como ele nunca farão isso." Demi comentou baixinho, com medo de perturbar muito a mulher com suas palavras.

"Eu sei agora." Maite enxugou uma lágrima e entregou a folha de cheque para a ex-mulher.

Mais uma vez, Demi se viu com opções. Ela podia ignorar a conversa, afinal, a história não tinha nada a ver consigo, não mais. Ela podia dar uma resposta sarcástica sobre a demora dessa percepção. Ela podia desejar boa sorte para a mulher à sua frente. Mas ela optou pela solução mais horrível para ela.

Foi por isso que encontrou-se batendo à porta da casa dos Herrera mais tarde naquele dia. Ela não conseguia ficar longe, não importa o quanto tentasse. Talvez buscasse ela mesma um encerramento para tudo aquilo.

"Meu Deus, você ainda não está satisfeita com o que já fez?" Allyson indagou ao abrir a porta. Os funcionários pareciam estar tendo um dia de férias, porque ela não teve que subornar ninguém na portaria.

Não, ao que parecia, ela não estava satisfeita. "Preciso falar com o senhor Ogletree."

"Não." Foi a resposta rápida.

"Sei que ele não quer me ver, mas eu tenho algo para falar."

"Ah, então agora é você quem quer falar? Diga-me, você vai ficar satisfeita quando nossa vida ficar completamente destruída ou você só está fazendo isso por diversão?"

"Senhora Ogletree, creio que teve a imagem errada de mim. Eu não quero interromper sua vida ou algo do tipo, eu só preciso falar com seu marido."

"Eu juro que se você não sair agora eu vou chamar a polícia."

Ela teria que chamar, porque Demi não planejava sair, mas Ogletree apareceu na porta com um taco de beisebol. Bom, pelo menos Maite estava correta em algo, ele iria jogar beisebol, mas seria com sua cabeça.

"Senhor Ogletree."

"Você ouviu minha esposa. Saia daqui ou é melhor ter se despedido de sua família."

"Não sei o que impregnou na cabeça de sua esposa, senhor Ogletree, mas não acho que ela ficaria satisfeita com um assassinato bem na frente da sua porta. Então, por favor, escute-me por um segundo."

Sua bochecha ardeu mais do que na primeira vez, apesar do tapa ter sido praticamente o mesmo. "Como ousa vir em nossa casa e acusar meu marido de..."

"Só mantenha em mente, senhor Ogletree, que seu filho precisa de um pai agora. Ele precisa que alguém segure sua mão e diga que tudo vai ficar bem. Ele só tem dois anos, não pode esperar que ele passe por tudo aquilo apenas com a mãe. Eles não têm mais ninguém, talvez você devesse considerar entregar o dinheiro pessoalmente, pelo menos." Sua voz adquiriu um tom cheio de raiva e ela não tinha certeza se era o tapa ou a cara de paisagem do homem à sua frente.

"Do que está falando?" Allyson questionou um pouco confusa.

Demi observou sua postura e sua expressão facial. Ela não sabia. Não tinha ideia. Sua reação era perfeitamente natural se ela não sabia que o menino estava praticamente morto. "Você não contou a ela?" Demi encontrou em si um pouco mais de nojo por aquele homem. "Não me admira que ninguém parece gostar de você."

Ele avançou com o taco de beisebol balançando perigosamente perto de seu rosto, com o rosto parecendo muito roxo para ser considerado normal. "SAIA DAQUI!"

"Eu vou, senhor Ogletree." Demi tirou algo do bolso, não se preocupando com um possível ataque. Ela saberia se defender se acontecesse. Sua mão esticou um pedaço de papel quadrado, não muito grande, mas nenhum dos dois se manifestou para segurá-lo. A detetive deslizou o papel pelo buraco do correio na porta e ajeitou o paletó. "Mantenha em mente que ele está morrendo de medo e nem entende o que está acontecendo com ele. Esse garoto já teve um começo duro."

De dentro de seu carro, ela viu quando a esposa se abaixou e pegou o papel. Demi estava prestes a buscar uma nova folha de pagamento para Raven. De algum jeito, ela havia conseguido uma foto de Robert menos de duas horas depois de seu pedido.

Não havia mais nada que pudesse fazer. Aparentemente, seu caso estava finalmente fechado. Demi arquivou o bloco de notas do caso com outros tantos e pegou a pasta de outro cliente. Este queria ter certeza que seu filho ia direto para a casa depois da escola. Ela ficava impressionada em quão pouco as pessoas podiam confiar umas nas outras. Impressionada, mas convencida que estavam certos.

A confiança é relativa.

•Demally• √ E͟y͟e͟  F͟o͟r͟  A͟n͟  E͟y͟e͟Onde histórias criam vida. Descubra agora