Desventuras de um submisso

1.9K 169 39
                                    


 Me olhei no espelho e suspirei ao me ver sonolento e cansado outra vez. Quando foi que tive uma boa noite de sono mesmo? Ahhh sim, quando eu ainda tinha um Dom.

Eu me chamo Kim Jongin, 23 anos, aluno de direito na universidade de Seul e o mais miserável cara que conheço. Miserável no sentido de tonto mesmo, porque azarado e desastrado nem era mais relevante a essa altura das coisas.

E ah, eu sou um submisso.

Okie, para quem não sabe o que é isso, é basicamente uma pessoa que gosta de ser cuidada por outro alguém e obedecer na cama, ou em qualquer outra superfície horizontal que exista e olha só, eu era bem feliz nessa vidinha pacata de submisso light de um bom DOM legal, mas tudo isso terminou quando meu Dom teve de mudar de país por causa do trabalho e pá! Eu fiquei. Eu não ia largar meus estudos, não podia fazer isso, e ele não podia ficar, então tive que decidir e fiquei em Seul. As vezes só penso que por mais certa que foi minha decisão, eu ainda me sinto sozinho e cansado, porque não consigo ter um namoro "padrão". Só de pensar sinto arrepios, e arrepios ruins sendo bem sincero. Se um cara me colocar na cama e apenas me sair beijando assim, sem nada a mais eu perco a vontade total e acreditem, eu já testei, foi horrível.

Resumindo: Quase um ano depois de solteirice forçada, cá estava eu, parecendo um morto vivo sem vontade de sair de casa no único dia que tinha de folga das aulas. Domingo.

Ainda penso nele como meu Dom, ainda que não tenhamos mais contato físico, contudo ele me liga uma vez por semana para saber como estou indo e claro, ainda paga minha faculdade, minha estadia e tudo que gasto morando aqui, no pequeno apartamento próximo do campus. Não era bem o que eu queria, mas a faculdade exigia muito de mim e eu não podia me dar o luxo de perder horas preciosas de estudo com trabalho de meio período e ele... Por ter sido ele a me deixar, ainda se responsabilizava por mim até que eu encontrasse outro dono. Sim, dono, é assim que nos referimos aos nossos Doms. Donos, e eu... Meu deus tudo o que eu queria era um novo Dom para chamar de meu. Para usar uma coleira com seu nome, para me dar carinho, para eu pertencer a alguém além de mim mesmo...

Eu precisava daquilo como parte de mim, mas não podia sair por aí panfletando meus desejos... Não era assim que as coisas funcionavam.

Meu antigo Dom era solitário ou seja, não tinha amizades com outros e nem eu, logo não conhecia outros submissos naquele cidade, não sabia como procurar... Estava perdido naquele mar cheio de pessoas desconhecidas.

Vejam bem, Seul, assim como muitas cidades do mundo tinham seu pequeno grupo de LGBT, mas eu não era apenas gay, eu era um gay submisso muito do submisso por sinal, logo era um grupo ainda mais seleto que viviam tão bem camuflados que era quase impossível você saber como chegar até eles. E eu definitivamente não sabia nem por onde começar... E aquilo sempre estragava o meu dia. 

Por isso eu usava o único recurso que dispunha e que sabia que era uma linguagem universal para Dom/subs de qualquer lugar do mundo. Uma coleirinha fina de couro marrom com a sigla NO, de No owners, sem donos e sempre quis colocar a letra H de hope junto, já que esperança é a última que morre, mas daí perderia o significado né...

Então lá estava eu, naquela manhã de domingo apático, pensando onde eu poderia ir para mostrar a minha figura por aí e topar com alguma boa alma dominante que queira um submisso em sua vida, eu tinha que manter a fé, fé movia montanhas afinal, ou algo assim e definitivamente eu precisava de um milagre. Mas meu corpo desmotivado só queria voltar para cama, assistir um filme deprê e amaldiçoar a minha má sorte.
Kim Jongin era mesmo deplorável...
— Vamos, precisa sair desse quarto, Kai, coragem!
Disse a mim mesmo com um sorriso forçado e então deixei cair os ombros. A quem eu queria enganar?
Foi quando meu celular tocou a música suave que meu dom mais adorava, 'Glória de Mozart' e eu sorri, era ele, como um legitimo inglês pontual. Ele nasceu em Londres embora viveu boa parte da vida na Coreia, país natal da mãe, mas era um londrino, isso era certo.
Me joguei na cama ainda desarrumada e sorri ao atender o telefone, a voz grave me recebeu com seu típico bom dia suave:
— Bom dia, bebê!
— Bom dia – Respondi sorrindo e suspirando – Como foi sua semana?
— Cheia de horas extras e nada excitante e a sua?
— Estudo estudo, estudo, prova e estudos... - Disse em um muxoxo e então ouvi o riso típico do outro lado e então um estalar de língua que sempre me fazia estremecer, ele estava decepcionado, fechei os olhos – Me desculpe, mas eu estou tão cansado... Eu quero você comigo, eu quero carinhos...
— Eu consegui um contato, bebê, acho que tenho uma boa indicação.
— Hein?
Abri os olhos encarando meu espelho de forma chocada, não... Não podia ser...
— Consegui contatos com um clube exclusivos de doms em Seul, Kim Jongin, não foi fácil, mas eu ando muito preocupado com você, não posso deixar que fique doente por causa disso – Ele suspirou – Me garantiram que é seguro e que vão te encontrar um bom Dom. Estou enviando por e-mail seu convite para hoje à tarde e vá com aquela calça de couro que lhe dei, ela é bonita e te valoriza.
— S-sim, Kyungie...
Disse meio tonto devido ao choque, a animação desenfreada e a confusão mental. Ia para um clube de doms? Iam achar um Dom para mim, ai deus! AI DEUS!
— Para de tremer e respira fundo, eu quero que me ouça, se sentir que algo está estranho, se não confiar no ambiente, se sentir que tem algo errado você vai sair de lá imediatamente, fui claro? Eu ainda sou seu Dom e sabe bem qual é sua ordem máxima, não é?
— Cuidar de mim acima de tudo.
Sussurrou.
— Exatamente, e você sabe bem o que é bom e o que não é, não deixe que sua empolgação atrapalhe seu discernimento, eu não estarei com você, por isso toda atenção é pouca. Observe, seja educado como sempre foi e conheça os doms disponíveis com calma. Sem afobação, com racionalidade e segurança. Combinado?
— Sim, Kyungie.
— Ótimo, agora tire a manhã para ir em algum salão e se dê alguns mimos, você está precisando. Eu vou ficar com o celular por perto hoje, se precisar me ligue. Se tiver dúvidas lá no clube ou algo nesse sentido me ligue também, eu falo com o Dom que estiver interessado, ok? Vamos manter o foco e tudo vai dar certo.
— Obrigado, Kyungie... Eu te amo!
— Claro que ama, você é meu gatinho fofo e até decidimos seu próximo dom, ainda tem que me amar!
Eu ri e logo ele riu comigo. O que eu disse sobre DOM legal? Aquele era o Kyungsoo. Conversamos mais um pouco e logo eu desliguei para obedecê-lo. Eu ia me deixar lindo para aquela tarde e teria foco na busca do meu Dom, o que de mais poderia acontecer a não ser eu sair de lá ainda sozinho outra vez?




Dia seguinte




Eu acordei com a maior ressaca da minha vida e totalmente desnorteado. Em princípio não entendi nada do que via ou do que acontecia, mas então as coisas foram se focando e eu perdi um pouco da minha alma no segundo em que me sentei e que me dei conta de que estava em uma cama enorme e desconhecida, entre dois corpos que amém Jesus, estavam vestidos e com o meu celular tocando frenético em algum lugar.
WTF?
— Kim Jongin, desliga esse aparelho, ainda são seis da manhã, volte para a cama, suas aulas começam só daqui há duas horas e eu já te disse que vou levá-lo, hun?
Uma voz sonolenta e firme soou e eu me virei para o loiro de frente a mim que permanecia de olhos fechados, deitado de lado e semi coberto pelos lençóis brancos e macios. Eu usava uma camisa desconhecida de botões e mais nada.
Eu não lembrava de nada também, nada... Q-quem era ele...?
— Neném, volte a deitar, vai ficar resfriado fora das cobertas.
E então outra voz rouca, essa mais suave soou antes de um corpo forte se prender as minhas costas e as cobertas voltarem a cobrir minhas pernas até a cintura. Logo uma das mãos se embrenhou na minha cintura e de forma leve me fez deitar sobre ele até eu ficar esparramado no corpo maior que o meu. O celular voltou a tocar, mas dessa vez o loiro se ergueu e atendeu meio irritado:
— Pelo amor de deus, Do Kyungsoo, são seis da manhã aqui, ok? - Eu ofeguei ao ouvir aquele homem chamar meu Dom daquele jeito impaciente. Eles se conheciam? Eu os conhecia? – Sim, ele está aqui, acabou de acordar com a sua insistência.... Eu já disse, vamos cuidar dele, ele nos aceitou, assinou os papéis, ele é nosso agora, para de se preocupar... Eu disse isso, ele vai morar aqui e passamos para pegar as coisas dele depois da aula, sim, sim... Só dormimos é claro, ele estava exausto, não devia ter bebido... sim, já sei, nada de álcool, sim... Ele mal acordou, dê um tempo para ele, certo? Depois ele te liga, agora vai trabalhar e não me estressa! É, para você também, manda um oi para os meninos aí, ok! Bye! - Ele desligou e colocou o celular na cabeceira vindo para mim enquanto mexia nos cabelos aparentemente tentando se controlar – Como conseguiu ser um sub dele por quase quatro anos, neném? Ele é exasperador!
— Você conhece meu Dom?

— Ex dom, Kim Jongin, ex. Agora você nos pertence, a mim e ao meu irmão, Seokjin ou Jin se preferir, ontem à noite você estava muito cansado, apático e caindo de sono no clube, e ainda aceitou a margarita do Baekhyun. Aquilo é puro boa noite cinderela, ainda bem que já tinha nos escolhido e pudermos te trazer para casa. E sim, respondendo a sua dúvida, sim eu conheço Do Kyungsoo, fomos amigos de faculdade, eu nunca imaginei que ele seria um dom, mas ele sempre foi muito calado de toda forma. Não force sua mente, logo o efeito vai passar e você vai se lembrar, volte a deitar sim? Ainda é bem cedo, eu e Jin não temos horários nas manhãs de segunda feira, então vamos te levar para a faculdade e depois passar no seu apartamento para fazer as suas malas. Não se preocupe com nada, neném, agora você é nosso e vamos lidar com tudo isso - Eu me sentia meio tonto e confuso, mas o loiro me sorriu tranquilo e então voltou para a cama me abraçando de forma que eu ficasse entre os dois e ainda assim tivesse espaço para movimento – E meu nome é Yoongi, Min Yoongi. Seja bem-vindo ao nosso lar, neném, essa é a sua casa a partir de hoje.

Eu recebi um beijinho na testa e então ele voltou a fechar os olhos e eu só consegui pensar no que foi que eu fiz noite passada e em como ele era cheiroso para caramba. Min Yoongi e Seokjin? Eu tinha saído em busca de um dom e terminei com dois?

Como assim, meu deus?

Um dom para chamar de meuOnde histórias criam vida. Descubra agora