O Mar

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Meu pai me esperava no portão. Por certo, já tinha me procurado por todo o bairro.

Quando se certificou de que era eu que me aproximava com o grupo, passou a mão pela cabeça, num gesto de alívio. Mas tinha a cara fechada, os lábios apertados, indicando raiva.

A moça que me acompanhava explicou:

- Ele ia sozinho para a praia. Tomamos conta dele e ele se portou direitinho. Nem entrou na água.

Meu pai agradeceu a seu modo a gentileza da moça e empurrou-me para dentro.

- Seu filho da puta!

Puxou-me as orelhas, deu-me coques na cabeça, gritando:

- Vagabundo! Ordinário! E se o mar te puxasse e você morresse afogado, hein!?

Disse bem. Morrer no mar! Eu não tinha pensado nisso: o mar levantar a sua onda mais alta e me tragar numa linguada só, rolar comigo na areia, levar-me em seu abraço para o abismo de suas profundezas, para depois devolver-me à praia de olhos fechados, sem nada ver, sem respirar, sem sentir dor, sem ouvir os gritos de meu pai.

Aliás, meu pai poderia estourar os pulmões naquele dia com seus xingamentos. Eu mal os ouvia. Suas pancadas não doíam tanto. O olhar cúmplice de JooHyun não me irritava. Eu tinha visto o mar. Sentido o mar. Admirado o mar.

Aprendi mais tarde que o mar é grande poder. Do mar vem a chuva que molha os campos e faz transbordar os rios. Do mar vem a tempestade que destrói possantes embarcações e faz tremer corajosos marinheiros. Do mar vem o furacão que derruba casas, postes, árvores, que vira carros e arrasa cidades.

Aprendi também que o mar é o longo caminho de água por onde passaram portugueses e espanhóis em busca do Novo Mundo, trazendo degredados, ladrões e assassinos e levando ouro, pedras preciosas, madeira.

Aprendi ainda que o mar é fonte inesgotável de alimentos. É alcova que encobre muitos mistérios.

No mar estão sepultados homens destemidos e suas embarcações possantes.

E tirei de tudo minhas próprias conclusões assim definidas: o mar é uma sereia que seduz feito mulher; é um monstro que mata sem piedade, tragando pessoas, com língua voraz; é doce mãe, porque alimenta.

Resumindo: o mar é saúde, é vida, é morte.

Recolhi-me num canto e dormi feito um cão vira-latas em que se bate ou que se enxota, quando não precisa de seus latidos.

Na minha cabeça o barulho do mar: Chuá! Chuá! Chuá!











...

Eu só escrevo cap novo dessa fic quando to triste.

Neko ama vocês ♡

Dong YoungOnde histórias criam vida. Descubra agora