a ansiedade me convidou para dançar. equívoco. a ansiedade não convida. a ansiedade vive em modo imperativo. a ansiedade ordena, manda, controla, governa, rege; sinônimos. a ansiedade me tirou para dançar algo que eu nunca nem tinha ouvido falar. rodopiei, tropecei, caí, cansei. a ansiedade não se saciava. queria sempre mais. eu não sei dançar!, eu repetia. pouco importava, ela me dominava. do pulmão ao coração. pensei que o tremelique nas mãos era algum novo passo de dança. equívoco número dois: era apenas a ansiedade fugindo com minha temperança. o suor no canto da testa, a gagueira para dizer alô, as unhas ruídas até o talo: a festa acabou. a ansiedade me ordenou a dançar pelo resto da noite. exausta, eu estava exausta, mas dançava pelo travesseiro, pelo chuveiro, pelo dia inteiro. a ansiedade me tirou para dançar. a ansiedade dançou comigo. eu dancei com minha ansiedade. eu dançava só.
ansiedade era eu. eu era ansiedade. e ambas dançávamos por linhas tortas de quem ainda tinha pulso.