Prologo - Cíntia

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“Em outra vida
Eu faria você ficar”
- The One That Got Away, Katy Perry


Dei um passo hesitante na direção do ônibus. O coração batia apertado, minhas pernas estavam bambas. Ainda podia ouvir a respiração pesada dele alguns metros atrás de mim.
- Cíntia? – Ouvi a voz grave sussurrar meu nome.
Engoli em seco e apertei as alças da bolsa que eu segurava entre meus dedos escorregadios pelo suor gelado. Virei devagar e o encontrei parado próximo ao meio fio, com as mãos dentro dos bolsos, olhando para baixo. Os olhos cor de mel estavam vermelhos, ele continha as lágrimas assim como eu. 
Meus pais estavam um pouco atrás dele é apenas nos observavam. Era noite e única fonte de luz eram os postes da praça, alguns estavam queimados então pareciam desaparecer nas sombras.
- Você tem certeza de que é uma boa ideia ir? – Ele engoliu um soluço é uma lágrima escorreu pelo seu rosto.
Ver aquilo estilhaçou meu coração em vários pedaços. Era minha oportunidade de ouro, mas eu não queria deixar o Leonardo para trás.
- Sim... – Fui breve para não gaguejar. – Eu preciso ir estudar, se não vou acabar como dona de casa ou trabalhar na roça. Quero ser uma advogada Léo...
- Mas...
- Léo, não! – Impedi que ele continuasse. Tinha medo de que se ele dissesse qualquer coisa eu mudasse de ideia.
- Cíntia...
- Por favor, não faz isso.
- Não vai.
Ele deu alguns passos até mim e segurou meu pulso. Meu coração disparou naquele instante, senti um gosto amargo na boca e todas as lágrimas que eu havia segurado até o momento caíram de uma única vez.
- Cíntia, por favor...
Ele enterrou os dedos em meu cabelo e afundei o rosto em seu peito.
- Eu preciso ir. – Tentei me afastar, relutante, mas ele me segurou e me puxou de volta.
Quando seus lábios tocaram os meus o mundo a minha volta parou. Deixei de ouvir o irritante barulho dos grilos e das cigarras e o motor do ônibus ligado. Eu dizia para mim mesma muitas vezes que não queria aquele beijo. O que no fundo não passava de uma mera ilusão, porém aquele beijo poderia mudar toda a minha determinação em partir.
Eu precisei de toda força do mundo para empurrá-lo e fazer parar, porque tudo o que eu não queria era parar de beijá-lo.
- Leo, chega. Nós terminamos.
- Mas não é porque deixamos de gostar um do outro. Só cismou que vai embora.
- Eu preciso ir. – Dei passos cambaleantes para trás.
- Cíntia, espera!
Sai correndo na direção do ônibus.
- Adeus, Léo.

Nunca te esqueci (degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora