Capítulo 2 - Victor

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“Meu destino tava distraído
Não olhou pra frente, olha só no que deu
Bateu de frente com o seu”
- Siga a seta, Marcos e Belutti

Observei a caloura sair de vista, batendo o pé como uma menina irritada. Isso só me fez rir ainda mais. Se não fosse pela Beatriz, uma garota  do meu período, que saiu a arrastando, talvez eu ainda pudesse me divertir bastante. Fiquei lembrando do sotaque dela brigando comigo o que tornou tudo ainda melhor. Qual era a graça de pregar um trote se o alvo não ficava irritado.
- Viu, Victor, falei que valeria a pena vir para cá hoje. – Renato, um dos meus amigos desde o primeiro período, colocou a mão sobre o meu ombro.
- Confesso que foi divertido. – Coloquei as mãos dentro dos bolsos, esquecendo que elas estavam sujas de tinta.
- O que acha de irmos no Custódio tomar uma cerveja.
- Cara, eu tô de carro. – Torci os lábios.
- Como se você se importasse com isso.
- Mas depois minha mãe torra a minha paciência.
- E você liga?
- Não. – Dei de ombros e caímos na gargalhada.
- Então vamos lá.
Segui com o pessoal pela avenida principal da faculdade até o bar que ficava do outro lado da rua depois da portaria. Era um lugar copo sujo que sempre estava cheio. Bem diferente de qualquer festa da empresa ou lugar que meu pai me levava.
- Pega aí um copo. – Ele me estendeu um lagoinha enquanto abria a garrafa para servir nós dois.
- Valeu. – Tomei um gole. – Isso continua horrível!
- Ah, seu mimado, da próxima vez trás para gente um daqueles uísques caros da adega do seu pai.
- Não é tão melhor.
- Fraco!
Tomei o copo de uma vez e fiz uma careta. Renato riu ainda mais.
- Ah vá te catar.
Ele deu de ombros e encheu meu copo outra vez.
- E aí aquela caloura, Vic, não pareceu gostar nem um pouco do trote.
- E quem liga. Se tivesse gostado não seria tão divertido.
- Tomara que ela não vá até o reitor, depois das novas regras podemos nos encrencar.
- Nada que um cheque do meu pai não resolva. – Dei de ombros e tomei mais um gole da cerveja.
- Cíntia, não faz isso!
Ouvi o grito e me virei para a porta e dei de cara com a caloura bufando como um touro. Ela roubou o copo da minha mão e jogou no meu rosto antes que eu pudesse reagir.
- Foi divertido agora, babaca?
- Ficou louca?! – Cuspi a cerveja gelada que escorria pelo meu rosto.
- Desculpa, Victor. Ela é nova por aqui.
- Ela é louca. – Sequei o rosto na minha camisa.
- Vamos nessa, Cíntia! – Ela saiu arrastando a caloura outra vez.
Minha vontade foi esfolar as duas. Mas não fiz nada, talvez fosse por que eram mulheres, porque juro que tinha todos os motivos para dar um soco.
- Nervosinha essa daí. – Renato se contorcia para engolir o riso.
- Fica na sua ou vai sobrar para você. – Fuzilei ele com o canto de olho.
- Não tá mais aqui quem falou.
- Vou nessa. Preciso de um banho. – Sai bar agora.
- Eu, Victor é você quem tem dinheiro. – Ele deveria estar falando da conta, mas não dei a mínima. Precisava de um banho ou voaria em alguém.

Nunca te esqueci (degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora