Arthur, herdeiro de Camelot

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    Depois de alguns anos, já desistente de que conseguiria um herdeiro com a jovem rainha e sua esposa, Vortigern se tornou mais cruel, usando como pagamento de dívidas as crianças dos pobres e miseráveis que não lhe pagavam os impostos. Já que o Rei não teria herdeiros ele demonstrava sua raiva e ódio naqueles que poderiam ter. Enquanto sua ira não atingia sua amada esposa, a Rainha Eleonora, a tristeza e solidão de um digno esposo a fazia pensar cada vez mais no amigo e primeiro amor de infância, Arthur. Como única amiga dentro do castelo, Eleonora ficara mais próxima de sua enteada a princesa Catia, a qual tinha um espírito bom e simples como o da rainha e que muitas das vezes encobria as visitas da rainha ao povoado.
    Como de costume, Eleonora se mostrava cada vez mais íntima daqueles que eram massacrados pela ira do esposo. Ela se vestia como uma plebéia, soltando os cabelos negros e usando vestidos furados e sujos, tudo para que visse o que seu povo era sujeito pelas ordens de Vortigern. Ela caminhou pela feira naquela tarde, fingiu comprar algumas frutas e pães e deu àqueles que pediam por misericórdia nas ruas. Encarava toda aquela gente como sua família, a qual precisava ajudar mesmo contra a vontade de seu esposo. Caminhando distraída, Eleonora sentiu algo esbarrar em si debaixo de sua cintura, e olhando para baixo a garota encarou pequenos olhos castanhos de um pobre e sujo menino.
    - Desculpe, Senhorita...- disse o garoto, ao olhar para cima. Porém, o mesmo entreabriu a boca ao perceber o rosto conhecido. - Minha nossa, você...
    - Shhhh!!- disse a rainha tampando a boca do menino de forma delicada e abaixando-se para nivelar seu olhar, sussurrou:- Não conte a ninguém que estou aqui.
    - Mas você é nossa rainha... O que está fazendo aqui?- sussurrou ele ao admirar a beleza de Eleonora.
    A mesma sorriu e mostrando-lhe a cesta com frutas e pães, disse-lhe:
    - Te dou esta cesta se der meia volta e não contar a ninguém que teve um encontro com a rainha.
     O menino sorriu e pegando a cesta, admirado com o alimentos que tinha ali, assentiu veemente com a cabeça.
     - Qual é o seu nome?- disse a rainha.
     O menino entreabriu a boca e o que saiu, não foi a voz do garoto, mas do homem que estava atrás dele.
     - Blue!?- disse o homem alto, com ombros largos e braços musculosos a mostra. Tinha um rosto com barba e cabelos loiros cortados de maneira rude, apesar de toda a arrogância, o homem tinha um aparência bela e olhos profundamente azuis.- O que está fazendo aqui, garoto?
     O menino foi puxado para  trás do homem e silenciosamente, Eleonora se levantou e olhando para cima, encontrou os olhos do homem.
     - Não... é... possível...- disse o homem, ao encarar o rosto de alguém que há muito não via.
      - Art...- sussurrou Eleonora, igualmente surpresa ao ver o homem a quem amara.
      - Arthur, tem homens do Rei vindo em nossa direção!- disse Blue, puxando a mão de Arthur.
      - Venha!- disse Arthur ao puxar Eleonora e Blue para um beco paralelo a feira movimentada do centro da cidade.
       Encurralados, os três se estreitaram nas paredes e esperaram para que os guardas reais passassem. Enquanto Blue olhava a beira do beco, Arthur levou Eleonora para a parte mais escondida e encurralando-a contra a parede, lhe retirou o capuz e a encarou, perplexo.
      - Como conseguiu fugir?- perguntou ele, a encarando.
      - Catia,  a filha de Vortigern, encobre minhas saídas enquanto eu tento ajudar o povo em que ele destroí.- disse Eleonora.- Por favor, Arthur, se ainda me considera alguma coisa em sua vida, não me entregue aos guardas! Vortigern me trancaria dentro de uma cela se soubesse disto.
     - O que acha que eu sou? Uma espécie de aborto de seu amado esposo? Não sou um monstro como ele é!- disse Arthur, irritado.
     Ele se afastou dela e andando de um lado para o outro, pensou.
      - Por que está tão inquieto?- disse Eleonora.- Depois de todos esses anos, é assim que me retribuí?
      - Acha que é fácil lhe dar com isso? Se lembra da última vez que nos vimos, Nora? Lembra-se? Do penhasco? Da velha floresta? Do carvalho? Tá lembrada disto??- disse ele se aproximando de Eleonora. Ele segurou o rosto dela e sussurrou:- Aquela cena, o gosto do seu beijo e a sensação de estar dentro de você. Quebrando aquele pequeno lacre que a tornou uma mulher... Aquilo nunca saiu da minha mente desde que você me deixou, Nora.- Arthur se afastou e disse:- E de repente, anos depois... você surge no meio de uma feira comerciante, disfarçada de uma simples plebéia dizendo que ajuda o povo que seu próprio esposo destroí e humilha?
    - Você sabe que eu não tive culpa de deixá-lo. No momento em que eu voltei, meu pai me mandou para o castelo de Vortigern, e me obrigou a viver na corte. Sabe que eu o amava, Arthur, você sabe disto.-disse Eleonora.
    Arthur mordeu os lábios e se aproximando dela, segurou-lhe os punhos e elevou sua mão para perto dele.
     - Você escolheu seu caminho quando decidiu colocar esta aliança no dedo. Aliás, como anda o casamento com Vortigern? Aposto que ele faz a janta para vocês todas as noites...- disse Arthur em tom sarcástico.
     - Ele não é você, Arthur... nenhum homem é igual a você.-disse Eleonora suavemente.
     Arthur a encarou e sentiu uma pontada de orgulho subir em seu coração.
     - Desde que Vortigern descobriu que ele não poderia me dar herdeiros, tudo tem se tornado um inferno. Ele não me aborrece, mas maltrata a todos ao nosso redor e isso de um jeito ou de outro me entristece a cada dia.
       Arthur suspirou e tocou-lhe as bochechas, sentindo a pele quente e suave de suas bochechas. Em seguida ele olhou para os olhos de cor castanho avermelhados, debaixo das grossas e arqueadas sobrancelhas que deixavam-nos ainda mais bela. Ele inclinou-se e tocou lentamente os lábios de Eleonora, que fechou os olhos e sentiu os lábios de quem um dia foi a pessoa mais importante de sua vida. O beijo se tornou mais sentimental quando ela tocou-lhe o pescoço e sentiu o quanto Arthur se tornará um homem, e o mesmo puxou-lhe para perto, apertando-lhe a cintura e depois os glúteos. Despertando em Eleonora, um suspiro  alto, descolando seus lábios de Arthur que olhara para o rosto da mulher que suspirava resistindo ao prazer que ele provocava nela.
    - Eu nunca deixei de te amar e de pensar em como deixei você escapar por entre meus dedos.- disse Arthur.- Deveria ter te sequestrado depois daquela tarde.
     Eleonora sorriu e tocou-lhe os braços que ainda seguravam os glúteos dela. Deslizando e sentindo a força e vitalidade dos músculos de Arthur, o que provocava desejos dentro da mente da rainha.
     - O destino as vezes nos prega peças. Olha como estou, jogada nos braços de um homem enquanto meu marido tenta destruír tudo o que amo.
     - Diferente de tudo o que você é, ele é ganancioso e cruel. Por que casou com ele, afinal?- disse  Arthur.
     - Vortigern descobriu que não descansaria enquanto não pudesse me ter para ele. Meu pai estava velho demais e foi comprado por mais terras e um título mais nobre em troca da minha liberdade. No começo Vortigern era um outro homem, depois que soube que nunca teria um filho, ele se tornou bruto e intolerante, mas nunca me maltratou.
     - Fala dele como se o amasse...- disse Arthur.
     - Você sabe que sempre foi o único que eu já amei.- disse Eleonora, segurando o queixo de Arthur.- Até mais que meus ausentes pais...
      Arthur sorriu, e beijando-me uma última vez, sussurrou em seu ouvido.
      - Encontre-me no mesmo carvalho em que você se entregou a mim, em duas semanas.- disse Arthur, e beijando-lhe o dorso da mão, piscou e saindo, pegou Blue nos ombros e desapareceu pela multidão.

      Mais a tarde, quando Eleonora entrou escondida no castelo pelos fundos da cozinha, encontrou Cátia a esperando com as roupas e as joias reais.
    - Meu pai notou a sua ausência e está furioso lá em cima. É melhor irmos depressa.
    Eleonora suspirou e virou-se antes que alguém descobrisse sobre o que a rainha andava fazendo nas horas vagas. Ela subiu em companhia da enteada, que morria de medo do pai. Ela ergueu o queixo e suspirando, virou-se para Catia e disse:
    - Não fale nada, deixe que eu responda para o seu pai. Eu saberei o que falar para acalmar seus nervos.
     Catia apenas concordou com a rainha e seguiu-a para dentro do salão, onde Vortigern gritava com todos e derrubava pratos de comida sobre o chão. Ele parou quando viu Eleonora a frente de Catia,  ele franziu as sobrancelhas e endireitando-se andando espaçosamente se aproximou lentamente da esposa e disse:
    - Vejo que resolveu sair sem avisar o seu rei, minha bela esposa. Diga-me... O que estava fazendo o qual eu não poderia saber?
     - Majestade eu...
     - Diga-me, Eleonora!!!- gritou Vortigern
     Eleanora suspirou e piscou lentamente, sem qualquer raiva, disse:
     - Acho melhor termos esta conversa a sós, meu amado marido.- disse a rainha.
     - Por mais que seja tentado a aceitar suas doces palavras, prefiro que me fale aqui e agora.-disse ele pausadamente.- Onde você estava?!.... Catia!!
     - Sim, pai.- disse a moça, ajoelhando-se aos pés do pai.
     - Diga-me, o que Eleonora estava fazendo? Se sabe de alguma coisa essa é a hora de falar-me.
     Catia hesitou em abrir sua boca, olhava para o pai, que com seus olhos azuis demonstravam que perderia sua paciência em poucos minutos. Os lábios já estavam comprimidos como ele sempre fazia quando estava pronto a mostrar do que era capaz com relação a punição que dava aos seus súditos e soldados. Porém, antes que Catia entregasse Eleonora, por medo e tremor diante do pai, a rainha deu um passo a frente e olhando fixo para Vortigern, que agora desviava-se da filha e olhava para a esposa.
    - Meu Rei, não é preciso torturar a pobre Catia, ela estava guardando minha ida à cidade. Não foi culpa dela.- disse suavemente ao rei.
    - E com que autorização você saiu do castelo? Por acaso esqueceu-se de que pertence a mim como todos nesse reino???- gritou Vortigern.
    Eleonora piscou e disse como um sussurro:
    - Eu fiquei sabendo de que uma velha senhora cuidava de bebês dos quem não tinha pais. Pensei que depois de tantas tentativas de termos o nosso, procurei outras formas de lhe dar um herdeiro. Ah, meu rei, tinha que ver, havia um que tinha seus olhos!- disse Eleonora tocando o rosto de Vortigern, e encarando aqueles olhos azuis, a rainha sorriu e sussurrou:- Não precisa se irar contra mim...
     Vortigern mordeu os lábios e abaixou a cabeça, franzindo as sobrancelhas e segurando as lágrimas. E de súbito, abraçou Eleonora e apertando-lhe contra o peito, chorou discretamente.
     - Como posso merecer uma mulher como você, Eleonora?
     A garota sorriu e arqueou as sobrancelhas, suspirando, agradeceu por Vortigern a amar mais do que outra pessoa, por isso confiava em tudo que Eleanora dizia, mesmo não sendo uma verdade.
    

Sombras da Paixão: A Lenda do Reino de CamelotOnde histórias criam vida. Descubra agora