Não conte ao Rei

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   Por dias após Vortigern descobrir os planos inventados de Eleonora para despistar o marido de suas verdadeiras intenções nas indas e vindas da cidade, o Rei não fez questão de incomodar sua rainha, continuava a dormir com ela todas as noites e a tê-la para si ao invés de procurar concubinas. Vortigern achava que nenhuma delas seria dócil como Eleonora era entre quatro paredes, e muito menos apreciável do que ter uma jovem Rainha ao seu lado todas as noites.
    E chegando no dia das duas semanas que combinara com Arthur, Eleonora pegou seu cavalo, o qual era exatamente igual à égua que tinha quando mais jovem e vestindo roupas menos chamativas, cavalgou pela madrugada enquanto todos no castelo dormiam e fora visitar o amado antes que Vortigern voltasse de sua viagem às terras mortes onde Vikings se instalavam.
    As cordilheiras que cortava à antiga floresta do Vale Sombrio, onde ficava o penhasco que costumavam se encontrar, era íngreme e repleta de cascalhos. Por algumas horas, a mente de Eleonora vagava entre o passado e o futuro que estava prestes a encontrar. Podia se negar a acreditar, mas Arthur ainda lhe causava uma insegurança que faziam suas pernas tremularem,  os olhos azuis penetrantes eram o que ela mais gostava nele são mesmo tempo evitava, pois ela poderia ceder a tudo com . Ele estava mais forte, mais velho e mais maduro, algo que ela notava quando se tornara mais velha, era como se ele estivesse sempre em seu caminho quando ela conseguia se esquecer do seu passado.
    Ao despontar da montanha, o Sol cegou-lhe os olhos fazendo com que Eleonora cobrisse-os com o antebraço, e finalmente ela chegou ao penhasco que tinha cabanas e fogueiras apagadas.
    - Minha nossa.- sussurrou ela.
    E do outro lado, sentado na cabana, Blue avistou o cavalo preto de raça e a jovem encapuzada. Com medo da ameaça, ele correu para dentro da caverna e gritou acordando os outros:
     - Ele nos descobriu!!! VORTIGERN NOS DESCOBRIU!- gritou o menino, correndo até a cama do pai.
     - O que está falando, Blue?!- disse Black Lack, o pai do garoto, tentando tirar da cama o corpo gordo e cansado.
     - Tem uma mulher encapuzada, lá fora, montada em um dos cavalos do Rei.- disse Blue, assustado.
      Arthur se levantou e puxando o braço do garoto, em meio a todos já se aprontando para atacar, ele sussurrou:
     - Era um cavalo negro com patas brancas?
     Blue franziu a sobrancelhas, estranhando como Arthur descobrira a aparência do cavalo mesmo não tendo o visto. Ele correu para fora, mesmo descalço e pulando a todos para chegar primeiro à campina que precedia os limites dos acampamento. E o que ele achou, foi uma garota encapuzada de pé, ao lado do cavalo ao qual ele conhecia como predileto dela. Ele sorriu e indo à frente, elevou a mão para que todos abaixassem suas armas contra a garota que parecia assustada.
    Arthur olhou fixo para ela, com as sobrancelhas arqueadas e tentando encontrar seus olhos avermelhados debaixo da sombra do capuz. Ele sorriu e ficou de um joelho apenas, a alguns metros da garota.
     - Seja bem-vinda, Vossa Majestade.
     Ninguém do acampamento entendeu o porquê Arthur estava se curvando. Porém o jovem Guerreiro, elevou a cabeça e disse:
      - Pode abaixar o capuz, não vão fazer mal a você.- e em seguida abaixou a cabeça.
       Eleonora elevou as mãos delicadas até a borda do capuz e abaixou-o. Revelando o cabelo negro solto, e a franja presa a uma tiara simples de pérolas. Assim que os demais viram o rosto que estava sempre ao lado de Vortigern, todos se inclinaram em reverência. Eleonora sorriu e em seguida olhou para Arthur, que sorriu e ficando de pé, pegou a mão da jovem e beijando-lhe o dorso, disse:
    - Bem-vinda a resistência, Rainha Eleonora.
   
     Eleonora estava sentada na mesa rústica que abrigava Arthur e os líderes daquele grupo que chamavam de Resistência. Na sua mão direita estava uma caneca rude com um conteúdo alcoólico em pequena quantidade. Blue os servia, enquanto os líderes falavam com a rainha.
     - Os demais acham que não será uma boa opção ter a rainha como aliada. - disse Benevire, um homem negro forte e que há muito anos era o melhor súdito do Rei Uther, pai de Arthur.
      - Reconheço a fama em que meu esposo praguejou durante todos esses anos.- disse Eleonora, docilmente.
      - Mil perdões pelo que vou falar, Majestade, mas seu marido pregou crueldade e ódio por todo o país em seu reino. Mesmo que você tenha feito  um trabalho totalmente ao contrário nesses últimos anos, você ainda é a esposa do Rei.- disse William, o arqueiro com olhos estreitos e castanhos. Ele tinha um sorriso um pouco malicioso e vestia-se com camiseta que cobriam o pescoço.
      - Eleonora não é como Vortigern...- disse Arthur, confiante e defensivo.
      Um silêncio se sustentou na mesa, até Blue se pronunciar sobre o assunto.
       - Como tem certeza,Art?
       Arthur sorriu e mexendo no talher sobre a mesa, disse:
       - Essa eu deixo para que a nossa rainha nos conte.-disse ele, e piscou um olho para a jovem.
        Eleonora estreitou os olhos, como se o culpasse por toda aquela confusão, e em seguida olhou para Blue e disse:
       - Eu nem sempre fui Rainha. Houve uma época em que eu era apenas a filha única de James Heahmund, um nobre ao norte de Londinium. Tínhamos uma vida bastante rica, mas meus pais nunca estavam dispostos a me fazer companhia, foi então que eu e Arthur nos conhecemos.
     - Isso é interessante...- disse Rubio, um jovem branco demais com cabelos ruivos demais para o corpo magrelo. Ele sorriu e piscou para Arthur, e o mesmo esmurrou seu ombro.- Aí!
     Eleonora sorriu e arqueando as sobrancelhas voltou a olhar para a bebida em sua mão.
     - E o que você ganharia se Arthur eliminasse seu esposo e tomasse a coroa? Essa é a minha dúvida.- disse Black Lack, o homem gordo e com rosto simpático, cujo filho era Blue.
     - Liberdade. Não para mim, pois Vortigern nunca se quer aborreceu-me, mas ele maltrata o povo, e isso eu não consigo me conter. - disse Eleonora. - Quando Arthur me convidou para estar aqui, achei mesmo que vocês iriam desconfiar de que traria um exército comigo.
      Ninguém se pronunciou e então a Benevire, olhou para o lado, onde estava uma mulher magra pálida e que encarava a todos.
      - Maga... conte nos o que acha.
      A garota chamou a atenção de Eleonora que a olhou com certo receio.
       - Você diz a verdade, mas não acho que não tenha algo contra Vortigern. A todos ele aborrece, mesmo à Vossa Majestade.-disse a Maga. Eleonora desviou o olhar e olhou para Arthur. - Você quer algo que o destino lhe tirou, algo que com Vortigern vivo e sobre o trono, você jamais terá.
    Arthur franziu as sobrancelhas e olhou para Eleonora, que imediatamente olhou para baixo.
   
    Mais tarde, quando todos resolveram que a garota não era uma ameaça e que lhes ajudaria a derrotar Vortigern, Arthur resolveu ter uma conversa a sós com Eleonora, num lugar longe de todos. Eles andavam lado a lado, pisando sobre as folhas úmidas do chão da floresta, ao seu redor estavam árvores e mais árvores.  Arthur se sentou sobre uma pedra um pouco alta, de forma que apenas as pontas de seus pés encostava sobre o chão, ele observava Eleonora a alguns metros, observando a movimentação das águas que eram abastecidas pela delgada cascata ao alto de um pilha de pedras.
    - Acha que tem coragem de agir contra ele quando a hora chegar?- disse Arthur.
     - Eu dei minha palavra, não posso voltar a trás.- disse Eleonora, sem olhar para ele.
     - Você o ama?- disse Arthur.
     Eleonora elevou a cabeça e fechou os olhos, respirando lentamente. Ela sabia qual era a resposta, mas não queria declarar a frente de uma situação como aquela.
     - O gato comeu sua língua, Majestade?!
     Eleonora não queria discutir, a muito não sentia paz como estava sentindo naquele lugar. Ela ignorou a pergunta de Arthur, retirou a tiara e deslizando o vestido sobre os ombros, abaixou as vestes até ficar nua e desceu às águas do lago. Arthur ficará boquiaberto ao ver a cena em que Eleonora se despira a sua frente. Ele apenas se desencostou e se aproximou do lago, onde ele emergia com os cabelos molhados e sorrindo para ele nadou até a cachoeira.
    - Porque não me responde?- perguntou ele.
    - Você sabe a resposta.
    - Não não sei...
    - Então porque insiste nisto?- perguntou ela, olhando para cima, onde ele estava a beira do lago.
     - Porque eu ainda a amo, não mais da maneira em que eu a amava desde criança ou quando adolescente. Eu cresci, você também, somos adultos agora e você sabe que o que eu quero é muito mais do que aquele beijo que você me deu naquele dia em que te vi na cidade. O qual eu jamais me esquecerei...- dizia ele enquanto se abaixava a beira do lado, e estando apoiado nas pontas do pés, colocou as mãos sobre os joelhos, enquanto olhava as gotículas realizarem sobre a pele branca de Eleonora.
       Eleonora o encarou e ao fim, sorriu, dando um discreta risada. E arqueando as sobrancelhas, disse:
       - Você sabe da resposta, sempre soube. Porém a situação é complicada, coloque algo em sua mente, Arthur, mesmo que queira... Eu sou algo inatingível para você. E ponto.- disse ela com certa arrogância em sua voz, apesar de estar certa do que dizia. Ela era casada e ele jamais poderia tocá-la mais do que um beijo.
    Arthur franziu as sobrancelhas e se levantando devagar, retirou as botas, rapidamente a calça e a blusa, estando nu em frente a ela, pulou no lago, derrubando água sobre Eleonora, que deu um passo para trás e colocou o braço contra o rosto.
     - Art??- disse ela quando notou que Arthur desaparecera quando pulou no lago, ela deu meia volta em seu próprio eixo e gritou mais uma vez:- Art?
     Arthur emergiu das águas atrás de seu corpo. E pegando-a pelo braços a trouxe para perto, tocando seus corpos.
     - Em primeiro lugar, antes de se casar com aquele imundo, deixa eu te lembrar do que eu era na sua vida.- disse Arthur, e a segurando pela cintura a colocou contra a pedra e de costas para ele. Arthur prendeu suas mãos contra a pedra e lhe pressionou com seu próprio corpo.
    Eleonora gemeu e sentiu Arthur se enfiar entre suas pernas e penetrar lentamente sua intimidade. A jovem gemeu e inclinou sua cabeça para trás, tocando sobre o peito desnudo de Arthur, que colocando seus lábios sobre a orelha da jovem, sussurrou:
    - Vou te fazer lembrar do que você negou do passado e que você deseja para seu futuro.- e então Arthur lhe penetrou mais profundo e rápido, causando prazer em Eleonora, que gemia a cada vez que senti-o tocar dentro de si. Ela se inclinou para frente e permitiu que Arthur usásse de seu corpo, a cada urro dele sobre seu ouvido, Eleonora sentia seu corpo tremer debaixo dos músculos rígido de Arthur, esforçados para penetrar em Eleonora. E quando o nascido do Rei, chegou ao seu ápice, ele liberou-se dentro dela produzindo em ambos um gemido final. Em seguida Arthur soltou Eleonora, que se virou para frente, ainda o sentindo dentro de si e ofegante, o beijou suavemente.
    - Eu quero você ao meu lado, Nora, quero senti-la debaixo de meu corpo todas as noites. Dormir sentindo seu corpo sobre o meu depois de uma noite de amor, vou lhe dar o que você nunca teve em toda a riqueza e poder do Reino de Vortigern, lhe daria o quanto de filhos que você quiser. Ame-me como eu a amo.
      Nora sorriu e o beijou, ofegante e disse:
      - Se você soubesse o que eu faço todas as noites, o que eu suportei, saberia que eu nunca deixei de te amar, Art.

    
     
   Pouco mais a tarde, se assentou junta a roda dos cavaleiros, e diante da cantoria e risadas ela observou a cada um dos homens. Eram simples, felizes com o pouco e corajosos para estarem dispostos a arriscarem suas vidas por liberdade de seu povo.
    - Você canta, Majestade?- perguntou, Blue.
    - Ah, não. Não sei cantar essas cantigas...
    - Claro que sabe! E dançar também. Vamos lá rapazes, aumentem a música a Vossa Majestade irá dançar um pouco...- disse Arthur surgindo na roda com um copo de cerveja.
      Eleonora arqueou as sobrancelhas e arregalou os olhos, espantada. E vendo que todos se animaram e chegavam mais e mais para vê-la, ela se viu entre dançar com Blue ou cantar para todos.
     Ela pegou na mão do garoto e tomando espaço, dançou e ensinou-lhe passos de uma dança antiga que há muito tempo não dançara. Eleonora sorria e ria com tudo aquilo, não se divertia assim desde sua meninice com Arthur, ela perdera a liberdade de sorrir quando se tornara rainha e naquela tarde, ela se lembrara do que era viver de verdade. Do outro lado, sorrindo e bebendo cerveja, enquanto admirava o quanto Eleonora não tinha mudado, ela ainda era a mesma menina que cuidava dos maltratados, de coração bom demais para estar nas mãos erradas.
    - Ela sabe que você tomará o trono quando chegar a hora?- disse a Maga, surgindo ao lado dela.
    - Não, mas ela deduz. É esperta...- disse Arthur olhando para Eleonora.
    - Quando vai dizer ao demais que você já escolheu uma rainha?- disse a Maga.
     - Dá para parar de me fazer perguntas?
     - Só estou antecipando o que em breve acontecerá... vai esperar que ela engravida para fazer algo a respeito?- disse a Maga.
      Arthur franziu as sobrancelhas e olhou para o lado, onde a Maga o encarava seriamente e discretamente, ela saiu em silêncio o deixando com a frase indo e vindo em sua mente.
      Após dançar, Blue e Eleonora sentaram-se em um velho tronco de árvore derrubado, e beberam um pouco d'água para retomar o fôlego.
       - Mal posso esperar para que o Nascido do Rei esteja sobre o trono de Camelot.-disse o menino.
       - Já ouvi muitas história sobre esse tal " Nascido do rei". Conta-me quem ele é...
       - Ora, é o herdeiro de Uther, o último rei de Camelot, irmão de Vortigern... antes dele tomar a coroa e aniquilar todos os súdito de Uther.- disse Blue.
        - Nossa que horrível história para um criança saber...- sorriu Eleonora.
        - Você não acredita não é mesmo?- disse Blue.- Pois saiba que Arthur é o herdeiro legítimo e único portador da Excalibur, dada a linhagem de Uther Pendragon.
        Enquanto Blue falava, tudo fez sentido a mente de Eleonora. A rainha estava atordoada em um estado de acreditar que Arthur sempre foi um herdeiro ao trono e que o homem que ela estava casada era usurpador. Tudo se encaixou e o plano de Arthur estava mais claro para Eleonora naquele momento.

      Ao final da tarde, Eleonora se despedia de cada um dos cavaleiros que a partir daquele momento, sentiam um apreço pela jovem Rainha que se mostrava ainda mais solicita pela causa do povo simples. Ela abraçou Blue que quase a implorou para que ficasse mais um pouco, e quando se despediu da Maga e moça lhe abraçou de súbito e sussurrou:
     - O cuidado será dobrado a partir de agora, Vossa Majestade. As forças de Vortigern estão crescendo a cada dia, e com um herdeiro crescendo em seu ventre isso será um álibi para que ele destrua tudo que nós prezamos.
       Eleonora ouviu essas palavras olhando sobre os ombros magros da Maga, e do outro lado, preparando o cavalo, estava Arthur que olhou aquele momento com sobrancelhas franzidas.
        - O que cresce dentro de você é o futuro do nosso país. Proteja-o.-disse a Maga, se afastando da jovem.
        Eleonora ainda estava com as pernas bambas quando caminhou lentamente para o cavalo preparado para ela, Arthur a segurou pelos ombros, firmemente e a encarou.
       - Está pálida... mais do que é normalmente. Aconteceu alguma coisa?- disse Arthur, preocupado.
       - Eu só... só estou cansada.- fingiu um sorriso.
       Arthur franziu as sobrancelhas e concordou a muito contra gosto e a ajudou a subir no cavalo. E tomando as rédeas, observou Eleonora sorrir para ele e disse:
       - Posso te visitar?- disse ele.
       - Claro que não.- sorriu Eleonora.
       - E te escrever?
       - Muito menos!
       - Vou fazer os dois então.- disse Arthur sorrindo e piscando um dos olhos, deu um tapa na coxa do cavalo, que lhe deu impulso para cavalgar para o castelo. Eleonora se afastou do acampamento sem olhar para trás ou sem esquecer de toda a felicidade e liberdade que ela deixara com todo aquele povo. Aos poucos Arthur via a silhueta de Eleonora sumir por entre as árvores e em sua mente já imaginara quando ele a veria novamente.
     
      
     
      
      
   
      

Sombras da Paixão: A Lenda do Reino de CamelotOnde histórias criam vida. Descubra agora