Assim que percebo o que acaba de acontecer, me levanto e olho para mamãe que está com cabeça baixa. Sei que ela não consegue me olhar depois do que aconteceu.
Me levanto e corro para o quarto, meu refúgio desde quando eu tenho sete anos.
Sento na minha cama e tento não pensar muito sobre o que está acontecendo atrás daquela porta.
Me ajoelho no chão e junto minhas mãos, peço a Deus para que ajude mamãe, peço que faça papai parar, parar com tudo o que tem feito com nós desde os últimos três anos.
Ouço gritos da minha mãe, coisas quebrando, berros dele.
Dou um pulo quando ouço um berro de agonia, vindo dela. Só percebo que ainda estou ajoelhada quando me levanto pra correr até a porta.
Abro, e o que vejo, é uma cena, que queria que meu inconsciente apagasse para sempre.
Papai está sentado no chão, encostado na parede da cozinha. Ele está com a cabeça baixa, como se estivesse dormindo depois de tudo.
E minha mãe.
Ela está sentada também no chão um pouco mais a frente, com as pernas abertas, e ela grita de dor enquanto sai muito sangue entre elas.
"Mamãe" sussurro, eu queria mesmo era gritar. Eu não sei o que faço. Corro pela cozinha a procura de um pano para tapar o sangue. Sinto papai pegar no meu tornozelo enquanto procuro um pano dentro de uma gaveta perto de sua cabeça.
"Ligue pra ambulância, 190 no meu celular" diz ele calmamente, mas ainda com a cabeça baixa. Eu o olho e não entendo o por que ele mesmo não faz isso.
"Aonde está seu telefone?" Pergunto enquanto continuo procurando um pano para mamãe.
"Está em cima da geladeira" diz simplesmente.
Paro o que estou fazendo. Minha garganta embarga e já sinto as lágrimas escorrendo.Mamãe já não grita mais, naverdade ela está com os olhos fechados somente. De vez em quando ela resmunga alguma coisa, mas eu não entendo.
Pego uma cadeira e subo perto da geladeira, pego o celular e disco o número.
"Alô?" Digo assim que escuto atenderem.
Explico toda a situação, não digo que meu pai bebeu álcool ou que estavam tendo mais umas das suas brigas rotineiras. Digo que mamãe está grávida de 8 meses e sentiu muitas dores e que está sentada na cozinha com os olhos fechados com muito sangue no meio das pernas."Qual seu nome e idade?" Perguntam assim que termino de explicar já entrando em desespero
"Meu nome é Callena, tenho dez." Digo e eles demoram um pouco pra responder e logo dizem que já estarão mandando uma ambulância.
Papai se levanta, vai até seu quarto sem me olhar.
Sento ao lado de mamãe e pego em sua mão que está gelada e as unhas um pouco roxas assim como seus lábios.
"Mamãe, fica acordada tá? Eu estou com tanto medo." Digo e as lágrimas escorrem. "Eu te amo tanto mamãe, a ambulância já vai chegar e você vai ficar boa logo" beijo sua mão e encosto a cabeça em seu ombro e fico dando carinho na mesma.
Papai sai do quarto e me olha. Percebo que ele trocou de roupa, e com o cabelo um pouco mais arrumado
"Callena, quando a ambulância chegar, diga a eles que logo estarei lá, preciso fazer algo antes. "
Assento e o observo sair pela porta da frente.
Como ele pode ser assim, tão cruel?
Eu só queria um pai igual o das minhas amigas.
"Mamãe, você está acordada?" Beijo sua bochecha que está molhada pelas suas lágrimas
"Eu estou..aqui querida." Diz ela e aperta minha mão devagar. Me sinto um pouco mais segura por ver que não estou sozinha.
Depois de alguns minutos ouço sirenes e me levanto rápido.
Olho para mamãe e coloco minhas mãos nas suas bochechas"Mamãe a senhora vai ficar ótima agora, a ambulância chegou." Beijo novamente sua bochecha e vou até a porta e vejo os paramédicos saindo da ambulância com uma maca.
Eles entram dentro da minha casa e fazem os primeiros exames nela. Eles olham para tudo na minha casa logo depois disso e olham para mim.
Vejo que um deles cochicha algo no ouvido do outro e se posicionam para a por na maca.
"Você está sozinha menina?" Diz uma moça, morena, um pouco séria.
"Ãnh..sim..papai foi fazer algo, mas ele disse que logo estará no hospital." Digo e chego mais perto da maca.
Mamãe está com uma máscara de oxigênio e amarrada a maca. Ela continua de olhos fechados .
Pego em sua mão e chego pertinho de seu rosto
"Eu te amo mamãe, logo logo vai voltar pra casa pra fazermos cupcakes." Digo e lhe dou um abraço apertado, algumas lágrimas caem em seu pescoço e sinto seu aperto em minha mão.
"Ãnh.. mocinha, tem alguém que possa ficar com você ?" Pergunta a mesma moça morena.
"Sim..er..minha tia está vindo para cá agora" minto e olho para o chão, não quero ir junto para o hospital, não gosto de lugares assim.
"Precisamos ir, qualquer coisa ligue novamente viu?" Diz e ajuda os paramédicos a levarem a maca.
Ao ver minha mãe saindo naquele estado, a única coisa que quero é que volte no tempo e sejamos felizes para sempre como no tempo em que fomos nesses sete meses.
Me sento no chão e abraço meus joelhos. Choro até não ter mais lágrimas pra sair.
Me levanto devagar, e pego uma vassoura e começo a limpar toda a bagunça que fizemos dos cupcakes e da briga do papai .
Tem muito caco de vidro espalhado, fora a sujeira da farinha. Limpo tudo, sorrindo, pensando o quanto mamãe ficará orgulhosa quando voltar e ver a limpeza que fiz na casa.
Depois de limpar tudo, vou tomar banho.
Termino tudo, e já são perto das 23horas, já fazem 3 horas e meia que mamãe foi pro hospital.
Faço um bolo de laranja correndo e pego uma flor no jardim, coloco água e coloco a flor em cima da mesa. Junto do bolo. Faço uma jarra de suco e ponho junto .
Ouço um click na Porta e olho surpresa, fico triste por não ter dado tempo de lavar a louça do bolo, assim ela não precisará lavar.
Papai entra, nos seus braços tem um bebê, um bebê muito pequeno.
Eu arregalo meu olhos de felicidade ao perceber que o bebê nasceu
Ele entra e fecha a porta atrás de sí. Eu franzo as sombrancelhas, ué aonde está mamãe ?
"Papai, a mamãe está bem? Ela ainda vai ficar no hospital?" Pergunto e percebo ele vindo na minha direção.
"Pega isso! Sua mãe está morta." Ele diz e me entrega o bebê, e eu o fico olhando confusa, olho para o bebezinho em meus braços, e depois para ele denovo .
E a única coisa que sinto são as lágrimas caindo sem parar.
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Callena
ChickLitPLÁGIO É CRIME! Callena é uma menina simples e forte, uma menina que carrega um fardo que as meninas da sua idade não aguentariam carregar, e não deveriam. Quando Callena completa sete anos de idade, seu pai Richard, começa a ter o costume de...