Capítulo 5 .

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Quando acordo, percebo que ainda estou no corredor. Corinna está deitada ao meu lado, no chão, segurando com as duas mãozinhas a minha mão.
Fico parada a observando, o tempo necessário pra tomar uma decisão difícil.

Eu já vivo nisso desde os meus 7 anos, ela não pode passar por isso. Quero uma vida normal pra ela. Não uma de merda igual a minha.

Me levanto, sem fazer barulho e a pego no colo, levo até o nosso colchãozinho sem lençol.

Eu ainda vou te colocar em uma cama enorme, com os travesseiros mais confortáveis e os lençóis mais lindos e floridos do mundo. Eu te prometo.

Vou até o banheiro. Observo meu rosto, um rosto que não deveria ser meu, um rosto mais maduro do que minha idade. Minha expressão séria assustaria qualquer pessoa que soubesse. Observo minha bochecha direita inchada e com um hematoma. Uma pretuberância cresce na minha testa. Tenho um corte pequeno no lábio, e a ruga de preucupacão entre minhas sobrancelhas não era pra estar aqui.

Jogo uma água no meu rosto, volto para o quarto, pego uma mochila e começo a jogar tudo que acho nessessário dentro.

Tomei essa decisão por mim, pela vida da minha irmã, pela vida que quero dar ela e pela que eu não quero que ela viva. Tomei essa decisão pela minha mãe. Uma decisão que ela devia ter tomado a muito tempo, mas ela foi fraca! Ela foi tola! Como ela me deixou aqui sozinha?! Como ela pode me deixar?
Me ajoelho no chão e choro, as lágrimas escorrem sem parar. Quero gritar, socar, bater em alguma coisa ou alguém.

Corro para o quintal e olho para o céu

Por que mamãe? Porque a senhora não foi embora quando pode? Por que não tomou essa decisão? Eu só tenho catorze anos, sou nova demais pra carregar o que estou carregando. O fardo tá pesado demais.

Me ajoelho na terra e soco o chão, soco até meus nós dos dedos sangrarem

"Por que você me deixou?" Grito para o nada, eu só queria uma resposta. Eu só queria ela de volta.

Depois de um tempo volto para dentro, lavo minhas mãos na pia e pego comida nos armários.
Coloco em minha mochila, pego roupas, mas não muitas.

Caminho até minha cama, e olho para a única pessoa da minha vida. Tão frágil, já passou por tanto, não queria que as coisas fossem assim. Queria que ela tivesse um pai, uma mãe. Não que uma irmã que não sabe nem cuidar dela própria fosse seu único porto.

Acaricio seus cabelos oleosos. Tiro de seu rostinho. E ela treme as pálpebras e as abre.

"Titi foi Lena?" Ela pergunta sentando devagar.

"Nada meu anjo, nos vamos fazer um passeio, uma viagem. Lembra daquele filme que a gente viu que as crianças passeavam de trem? "Perguntei a ela, dando carinho em seu bracinho.

"O do Minininhu pobe que nuca ganhava pesenti?" Ela coça os olhinhos e se levanta.

"Este mesmo, ansiosa?" Digo pegando as notas do pouco dinheiro que tínhamos conseguido em baixo do colchão. Coloco na mochila e começo a ver uma calça mais direitinha pra ela colocar.

"Pela, nós vamos de tem?" Ela pergunta batendo palmas. Ela calça uma perninha e depois a outra.

Vejo uma calça pra mim tbm, pego a menos surrada, tem um furinho no joelho, mas não dou importância.
Coloco meu tênis velho. Uma camisa de mangas curtas maior que meu corpo e coloco dentro da calça pra parecer mais direitinho.

Pego suas sandálias amarelas, tem uma tira arrebentada, mas não importa. Pego um pente e começo a pentear os cabelinhos loirinhos dela. Logo fará quatro anos, espero poder comprar um presente bem bonito.

CallenaOnde histórias criam vida. Descubra agora