Sérgio Pontes
1978
A vejo se aproximar com o jeito doce de me olhar, como não me apaixonar pelo seu sorriso? Como poderia seguir os conselhos dos meus tios e me manter distante dela? Tão encantadora.
- O que foi? - me pergunta piscando devagar.
- Gosto de te olhar.
- Para Sérgio, sabe que fico vermelha quando me olha assim.
E como que para confirmar o que acabava de dizer, suas bochechas foram ganhando cor, assim como, a pontinha de suas orelhas. Queria gravar cada momento ao seu lado, minha memória parece insuficiente para guardar os detalhes dos melhores meses da minha vida.
- Como as coisas vão ficar agora?
- Ainda não sei. Vamos dar um jeito.
- Que jeito Sérgio? Seus pais descobriram. Eles odeiam a minha família.
- Nós vamos dar um jeito.
Seus olhos se umedecem, se meus pais odeiam a família dela eu odeio essa situação que nos faz sofrer. Olívia é um anjo e anjos não devem chorar. Mesmo juntos a poucos meses eu sei que meu coração vai ser pra sempre dela. As alianças me vêm a mente. Guardadas no fundo da minha gaveta de meias, nossos nomes pra sempre gravados juntos, como no banco da praça, como nos cadernos dela.
Ainda não disse as três palavras. Estava guardando para o pedido de casamento, mas vendo sua tristeza, a preocupação com o futuro, preciso dizer. Não tenho mais vontade de guardar o que sinto só pra mim. Eu sei que ela também sente, está no jeito que me olha, na entrega do seu beijo. É ela e não poderia ser mais ninguém.
- Não chora anjo. Nós vamos encontrar uma saída. Olha pra mim - peço segurando seu rosto e olhando no fundo dos seus olhos - Eu te amo.
As lágrimas que ela tentava conter escorrem por seu rosto, beijo seus lábios e seu rosto molhado pelo choro. Não preciso ouvi-la dizer que sente o mesmo, as batidas descompassadas do seu coração são prova suficiente.
- Eu te amo Olívia de Andrade com a mesma intensidade que os Pontes e os Andrade se odeiam. Vamos dar um jeito nisso tudo.
Quando estamos felizes o tempo insiste em correr. Nos separamos no fim do dia com a promessa de nos encontrarmos amanhã no mesmo lugar, sob a sombra do ipê da fazenda da família Nakao, nosso lugar preferido nos últimos tempos. Terras neutras entre a fazenda da Família Pontes e a da Família Andrade.
Entro em casa com um peso no coração, não dá pra esperar mais, meus pais precisam entender que a nossa história não tem nada a ver com a rivalidade política das nossas famílias. Que continuem se matando enquanto disputam a prefeitura de São João dos Milagres, não me importa, só quero viver em paz com a minha Olívia.
Estranho o silencio, casa vazia durante as férias é raridade. Escuto ruídos vindos do meu quarto, meu coração dispara, eles não seriam capazes. Invadir a minha privacidade, revirar as minhas coisas. É demais até pra ele.
Minhas suspeitas se confirmam ao ver minha mãe com os olhos vermelhos sentada em minha cama, meu pai andando pelo pequeno cômodo com a caixinha de veludo na mão direita. Todas as minhas roupas espalhadas pelo chão.
- Estava esperando por você. - diz meu pai com tom autoritário.
- Pai. O que faz no meu quarto?
- Estava esperando por você, já disse - se calou por um minuto passando a mão pela barba por fazer - Até quando você pensou que essa história ficaria em segredo?
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Por Nossos Filhos
Short StorySérgio Pontes. Olívia de Andrade. Pontes e Andrade. Famílias rivais, na política e nos negócios. Dois jovens corações apaixonados dispostos a se erguer contra tudo que os impeça de viver seu amor. Pais poderosos capazes de atrocidades para separá-lo...