Capítulo 5

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Sérgio Pontes

É hoje. Esse é meu primeiro pensamento ao abrir os olhos. Foram seis longos meses de preparação. Um tempo de intermináveis surpresas. Encontrei-me com Olivia apenas na formatura dos nossos filhos 3 semanas atrás. Não nos falamos. Ela e Marina, no entanto, estranhamente viraram melhores amigas. Uniram-se para preparar o casamento e ajudar na decoração do apartamento das crianças. Eles escolheram ficar em São Paulo, e agradeci por isso.

Todos os detalhes do casamento já estão acertados, minha roupa está pendurada na porta do guarda-roupas do meu antigo quarto na casa dos meus pais, ao lado do vestido de Marina. A cerimônia será no fim da tarde, na capela de São João dos Milagres, a festa será na Fazenda dos Andrade e pelo empenho das mães será um casamento histórico, toda a cidade foi convidada, além dos amigos dos dois, alguns amigos do nosso trabalho e claro alguns figurões da política, o pai dela é deputado, não poderia ser diferente afinal.

Sinto Marina se mexer ao meu lado, logo ela estará acordada. Me levanto devagar e me preparo para o dia cheio que teremos. Encontro a mesa do café da manhã posta com maestria, minha mãe e meus filhos tomam café em meio a uma conversa animada apesar de sussurrada.

Logo a casa se torna uma loucura, Marina e Gabi decidiram trazer seu cabeleireiro de confiança e vão se arrumar em casa. Por volta da hora do almoço descubro que uma equipe virá para fazer a cobertura de fotos e filmagem enquanto o noivo se arruma para o casamento. Tenho poucos minutos de paz. Decido por dar uma volta no gramado, ando devagar até a cerca que delimita o pasto onde os animais comem tranquilamente, alheios ao turbilhão de emoções que tenho dentro do peito.

Passei os últimos meses tentando não pensar em mim, em como me sentiria nesse momento, mas agora é impossível. Nos últimos seis meses me foquei na felicidade do meu filho, no namoro recente da minha filha, em dar segurança e carinho a minha esposa. Negligenciei a minha dor de propósito, não queria pensar, pensei que talvez ignorando ela se aquietasse como da última vez.

Quando deixei Olívia naquela tarde no corredor da casa dos seus pais, me refugiei no banheiro como um garoto. Eu parecia não ter controle de mim, não queria dizer nada daquilo, mas disse, não queria abraça-la, mas abracei, não queria ter me aproximado, não era o momento, nenhum de nós estava pronto e a forma como ficamos destruídos depois é a maior prova disso, mas ainda assim não consegui me conter. No momento em que os meus olhos cruzaram com os da minha esposa ela soube que algo tinha acontecido, tratou logo de se despedir de todos e voltamos para casa. Por dois dias ela não me perguntou nada. Apenas na quarta-feira enquanto voltávamos do trabalho é que ela questionou o que havia acontecido e eu contei o máximo que pude.

Marina sofreu, ficou insegura, mas como a mulher forte e determinada que é, logo estava firme novamente, ou pelo menos estava tentando. Já eu, estava aparentando uma calma e tranquilidade que com certeza não sentia, não queria criar problemas na família. Ainda agora, só quero que meu filho perceba que estou feliz por ele, por estar casando com o amor da sua vida.

Olho em meu relógio, 15 horas. Em pouco mais de duas horas estaremos na Igreja. No altar. Ela e eu. Como deveria ter sido 30 anos atrás.

- Você está bem? - ouço Marina perguntar. Não respondo. Como posso dizer que sim quando prometi a mim mesmo que jamais mentiria para ela? Como posso dizer a verdade? - Não está - ela constata e me abraça.

- Eu vou ficar - garanto, sem nenhuma convicção.

- Nós vamos superar isso também.

- Vamos sim.

Permanecemos abraçados, depois de 25 anos juntos as palavras perdem a importância em alguns momentos. A presença, o amor é o suficiente. Caminhamos para casa juntos, de mãos dadas como sempre. Ela vai terminar de se arrumar e eu vou para o banho, me olho no espelho do meu quarto, ainda é o mesmo espelho de quando eu era garoto, apenas a moldura foi trocada uma ou duas vezes.

Por Nossos FilhosOnde histórias criam vida. Descubra agora