Olívia de Andrade
Ele me ama. Ele disse, com todas as letras. "Eu te amo" nunca vou esquecer esse momento. Eu o amo tanto que chego a ficar com medo. Não sei o que será de mim se um dia tivermos que nos separar. O amor nos pregou uma grande peça, famílias rivais gerando dois apaixonados. Como Romeu e Julieta, espero que o nosso final seja menos trágico. Conhecendo nossas famílias sei que temos potencial para um drama ainda maior. Me apaixonei por Sérgio Pontes a tantos anos, quando éramos ainda crianças correndo pelos corredores do mesmo colégio. Ele só foi me notar na faculdade e ainda não sei como isso aconteceu. Os calouros de medicina não costumam frequentar o corredor de pedagogia, mas ele estava lá. E como numa cena de filme clichê nos esbarramos, e não nos separamos mais.
Conto os minutos para encontra-lo amanhã. Estou insegura, o tio dele nos descobriu, vai contar para os pais, eu sei que vai. Eles tentarão nos separar. Mas estou disposta a tudo para ficar com ele. Deixo a minha casa e minha família. Paro a faculdade, abro mão do meu sobrenome
Sinto o meu diário ser arrancado de minhas mãos. Minha mãe me olha furiosa. Peço a Deus que ela não leia o que escrevi. Ela vai me matar. A vejo folear o caderno que tem sido meu melhor companheiro nos últimos meses. O único pra quem confidencio tudo o que tenho sentido. Em todas as páginas os nomes unidos, assim como no banco da praça. Ela olha com repulsa para a assinatura onde coloco o sobrenome dele ao final do meu. Vejo seus olhos se inflamarem e sinto sua mão de encontro ao meu rosto.
- Sua vagabunda. Como teve coragem? - me pergunta enfurecida.
- Mãe, por favor - peço colocando a mão no lado esquerdo do rosto que lateja pelo tapa.
- Um Pontes? Olívia você sabe como a nossa família sempre odiou os Pontes.
- Mamãe, essa disputa não tem sentido. Eu amo o Sérgio - mal termino de dizer e sinto outro tapa.
- Não diz isso nem de brincadeira Olívia. Você é uma Andrade, os Andrade odeiam os Pontes, está ouvindo? Odeiam.
Me calo, e apenas choro em silencio. Não adianta falar com ela, com nenhum deles, pelo menos meu pai jamais ergueu a mão contra mim. Nem mesmo a voz.
- Eu ouvi essa história na cidade, de que você estava de namoro com um Pontes, o Tio dele descobriu, você acha que ele vai ficar contra a família dele? Ele vai te deixar. A essa hora o pai dele deve estar exigindo que vocês nunca mais se encontrem. E quando o seu pai chegar, é exatamente isso que ele vai fazer.
Ela sai do meu quarto levando com ela o meu diário e um pedaço do meu coração. Pergunto a Deus porque tem que ser tão difícil? Não é justo ter que escolher entre a minha família e o amor da minha vida, mas se tiver que fazer essa escolha a minha decisão já está tomada. Em nosso encontro de amanhã vou propor uma fuga.
Passo muito tempo deitada em minha cama, absorta em minha dor. Não percebo quanto meu pai entra em meu quarto, apenas a voz de minha mãe exigindo que ele me aplique uma punição e me obrigue a nunca mais encontrar com Sérgio, é que me fazem despertar do meu torpor.
- Querida - ele me chama. Levanto a cabeça em sua direção, ele arregala os olhos quando vê a marca no meu rosto - O que aconteceu com você? Aquele garoto não teve coragem de te bater não é?
- Não papai - respondo sem lhe olhar. Ele coloca dois dedos no meu queixo e me obriga a levantar a cabeça.
- Então quem fez isso? - não respondo, mas involuntariamente olho para a minha mãe. Ele segue meu olhar e seu semblante se fecha. - Por que bateu nela? - minha mãe se mantem silente - Responde, por que bateu na menina?
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Por Nossos Filhos
Short StorySérgio Pontes. Olívia de Andrade. Pontes e Andrade. Famílias rivais, na política e nos negócios. Dois jovens corações apaixonados dispostos a se erguer contra tudo que os impeça de viver seu amor. Pais poderosos capazes de atrocidades para separá-lo...