Sábado era o dia mais corrido para mim.
Acordar cedo, ir para o curso, almoçar correndo, ir buscar os jovens para o Encontro, sair na metade da reunião, pegar ônibus lotado e torcer para chegar no horário para entrar no Templo de Salomão.
Quantas vezes eu chegava atrasada e tinha que assistir a reunião do lado de fora? Minhas pernas reclamavam e não tinha outra alternativa a não ser ficar em pé e fazer todo o esforço para prestar atenção no que o Bispo dizia.
Era importante e eu precisava daquilo.
Mas naquele dia era como se o meu cansaço houvesse chegado no nível máximo, por algum motivo divino o trânsito estava ótimo e consegui entrar antes que as portas se fechassem.
-Você Obreiro ou Obreira que deseja fazer a Obra de Deus no Altar, venha até aqui que eu irei fazer uma oração por vocês.
Hesitei. Naquele momento eu ainda não havia deixado Deus confirmar em mim o seu chamado. Sim, eu tinha medo do Altar, por mais que eu falasse que não, eu tinha! Não por medo de sacrificar, mas por medo de não ser suficiente.
Não ser capaz de ser um sacrifício.
Eu poderia ficar sentada, receber a oração dali aonde eu estava. Mas mesmo contra a minha vontade, eu me levantei.
Minhas pernas reclamaram, todo o corpo doía. Eu simplesmente estava me arrastando até o Altar, a caminhada até lá pareceu ainda mais distante do que as outras vezes.
Eu cheguei e quando olhei para os outros Obreiros que estavam ali, me senti a pessoa mais incapacitada, pequena e inferior a todos eles.
As Obreiras estavam simplesmente lindas! Seus cabelos perfeitos em cachos impecáveis, a maquiagem sem nenhum borrado, o salto combinando perfeitamente com a roupa que eu sabia ter sido escolhida a dedo
E tinha eu. Suada por conta da caminhada e de tanto pular. Minha roupa totalmente amassada e as sapatilhas cheia de poeira das ruas que eu havia percorrido. Eu não precisava de nenhum aviso para saber que não restava mais nenhum vestígio de maquiagem em meu rosto e o meu cabelo era digno de pena.
Quem era eu perto de todas aquelas meninas?
-... Eu não sei como Deus vai fazer, mas eu acredito em vocês! Acredito que vocês vão chegar até o Altar! -O Bispo continuou falando. -Agora fechem os olhos.
Eu fechei os olhos, mas não consegui abrir a boca para falar.
Eu tinha o Espírito Santo, eu era Obreira, eu ajudava outros jovens. Mas lá estava eu, o complexo, a insegurança e o medo.
O diabo não precisava fazer nenhum esforço, eu mesma conseguia me colocar para baixo.
Lágrimas escorreram pelo meu rosto.
Eu achava que já tinha vencido a insegurança, os complexos, mas eles estavam ali. Eles não morriam de fato, era uma luta constante contra o meu eu.
Todos os dias eu tinha que me lembrar que Deus não olhava para aquela casca, que Deus escolhia as coisas que não eram nada, para reduzir as que eram em pó.
Ele havia me escolhido. E eu precisava me escolher também.
-... Deus, eu não sei como Você vai fazer, mas se eu for do Altar, se o Senhor enxergar essa sinceridade em meu coração, então só Você pode me capacitar. Não quero ser uma peça quebrada.
A partir dali eu sabia que tinha um caminho muito longo para ser seguido.
Por: NonaVL (Verônica Veríssimo)

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Nossas Histórias
Short StoryHistórias mudam pessoas, mudam vidas. Uma coletânea pra ajudar a quem precisa, e pra te fazer sonhar. (Ps: se você também quiser ter sua crônica aqui, pode me chamar no privado, conversaremos melhor!)