A Revolução - Parte 1

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Aviso: violência, morte de personagem, decisões e comportamentos questionáveis, palavrões, xingamentos, sangue.  

As luzes se acendem uma hora antes que o normal.

Os ômegas se remexem nas camas, cobertores finos sendo puxados de seus corpos assim que eles encostam a sola de seus pés no chão gelado. Eles se alinham para tomar os banhos mandatórios em silêncio, olhos pesados com cansaço e falta de esperança. Água fria percorre sobre corpos frios. Roupas ásperas são colocadas sobre ossos proeminentes e barrigas redondas. Seria mais uma manhã normal, uma a mais na rotina interminável de suas vidas, se não fosse pelo fato de hoje ser o aniversário da ascensão do General e logo, um dia de celebração.

Para alguns, ao menos.

Uma refeição especial já  está servida quando eles chegam no refeitório, cabelos ainda molhado. Talheres de prata, louças de cerâmica e cristais adornam as mesas longas, um luxo que eles só conseguem aproveitar quando o governo se sente generoso o suficiente. Seus estômagos vazios roncam com a visão da carne — carne de verdade, depois de tanto tempo — mas, eles devem esperar.

As telas se acendem mostrando a bandeira da República e os ômegas endireitam seus ombros e abaixam suas cabeças, não querendo esperar para os betas os forçarem a fazer o mesmo. Logo em seguida, o Comandante aparece na tela e os ômegas obedientemente recitam o hino de seu país junto com o alfa, orgulho sendo um sentimento desconhecido e com qual eles não conseguem se identificar. O que tem para se orgulhar em ser nada além de um instrumento de reprodução?

Logo, os betas na sala perdem o interesse no discurso, posturas relaxando enquanto eles conversam entre si. É um dia de celebrações, um em que a maioria dos ômegas temem assim que o álcool deixa os guardas atrevidos e os limites embaçados.

A primeira falha na transmissão não atrai a atenção de ninguém. É rápida, desaparecendo num piscar de olhos. Os ômegas gestantes se remexem em seus lugares, pernas ficando cansadas e filhotes ficando agitados, ansiosos por comida. O som das conversas dos guardas aumentam de volume e a segunda falha ocorre. Dessa vez, alguns ômegas percebem, expressões adornando seus rostos quase sempre inexpressivos.

Quando as interrupções na transmissões ocorrem tão frequentemente que o discurso do Comandante chega a ficar incompreensível, toda a atenção está virada para as telas. O sinal é rompido por um segundo — as tela ficam pretas — e então, há um rosto substituindo o lugar antes ocupado pelo Comandante. Esse novo rosto é jovem, com feições suaves e olhos tenros. Lábios carnudos, nariz pequeno — uma coleira em seu pescoço.

Ômega.

Essa é uma mensagem para o líder da República...

Ninguém se atreve a se mexer, mas um sentimento de reconhecimento passa pelos ômegas na sala. Os guardas, não mais distraídos pelo álcool e pela promessa de diversão, se viram em direção as telas, choque evidente em seus rostos. Não era nada além de um rumor, uma história contada em sussurros quando ninguém estava ouvindo — que um ômega havia conseguido escapar, que ele estava mundo à fora, cuidando de si mesmo. A história é tornada real agora bem na frente de seus olhos, citando palavras de poder e encorajamento, ensinando eles a soletrar liberdade com lábios que haviam sido selados por muito tempo.

Lute pela liberdade...

O sinal é interrompido bruscamente, mas as palavras ecoam contra as paredes, se repetindo várias e várias vezes. Por um momento, ninguém se mexe, chocados pelo curto mas poderoso discurso, mas então os guardas começam a reagir, franzindo profundamente suas sobrancelhas.

The Omega RevolutionOnde histórias criam vida. Descubra agora