O museu

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...
Por sorte, não aconteceu nenhum desastre no jantar, apesar de que ela fez parecer que eu sou louco por ela para os meus pais mas depois disso, ela finalmente foi embora
Minha mãe foi fazer um daqueles comentários constrangedores
- Ela é muito bonita e inteligente, você deve gostar muito dela.
Eu ignorei, fui direto falar com meu avô em particular
- Certo, vô, me explica o que tá acontecendo… - eu falei
- O quê? Como assim?
- Você conhece ela de algum lugar? Por que você não liga pro registro com os 13 filmes não devolvidos?
- Você se importa mesmo com isso?
- Bom, sim, né…
Ele riu
- Sabe, quando eu era jovem, eu ia para o cinema assistir as matinês de faroeste que tinham no domingo - disse meu avô, sentando-se em sua poltrona
Aquilo ia ser interessante, pelo visto.
- Mas eu não tinha dinheiro para assistir essas matinês todo domingo. Então eu ia até o porteiro, dizia que meu pai estava lá e precisava falar com ele, entrava e assistia.
- E ele caia nisso? – eu perguntei, achando aquilo ridículo
- Claro que não! - ele respondeu rindo – Mas ele não se importava, ele deixava por pura vontade.
À essa altura, já tinha entendido onde ele queria chegar
- Quando essa garota apareceu pela primeira vez, há mais ou menos um mês, eu a vi trocando os adesivos dos filmes – ele continuou – eu ia chamar a atenção dela, mas então eu vi a cena mais bonita em todo o tempo que trabalhei ali: ela tinha pego um filme do Charles Chaplin. Uma garota de uns 16 anos, em pleno século XXI, pegando um filme de Chaplin!
Já comecei a me sentir mal por querer fazer ela pagar a multa
- Eu não sei qual a condição financeira dessa garota, mas acontece que ela ama cinema, e ela faz o que faz, por causa disso, exatamente como eu fazia. Eu sou o porteiro agora, entende? Eu sei o que ela faz, mas eu também sei o motivo. E isso faz com que eu não me importe.
- Então ela pode pegar filmes à vontade?
- É, ela pode. Apenas faça parecer que você não sabe, isso é importante.
- Certo.
- Agora, como eu já tinha dito, vá se divertir. É sábado!
Meu avô sorriu e então se levantou, indo para o seu quarto
- Boa noite.
- Boa noite, vô.
Agora eu me sentia um idiota, um completo idiota. Essa é provavelmente a garota mais incrível (e maluca) que eu já conheci e a verdade é que eu não mereço ela, eu não mereço a amizade dela, eu não mereço a atenção que ela me dá.
No dia seguinte…
Eu acordei um pouco mais tarde. Ai lembrei que tinha uma garota maluca que podia aparecer a qualquer momento pra sair comigo, então não dediquei alguns minutos à refletir sobre minha insignificância dessa vez, simplesmente levantei e fui me arrumar correndo. Quando desci para a sala pra tomar café, ela já estava lá.
- Você demorou muito! - ela disse, chateada
Eu podia ter respondido de um jeito bem grosseiro, mas prometi a mim mesmo que ia tentar ser razoável com ela. Vai que ela age de um jeito menos doido se eu fizer isso, talvez ela só faça isso porque sabe que me incomoda, então se eu fingir que não ligo, talvez ela pare
Eu ia tomar café, mas sei que ela não iria esperar, então simplesmente fui com fome, afinal é isso que os idiotas fazem. Enfim ela pegou um ônibus e eu simplesmente a segui
- Pra onde a gente tá indo? - eu perguntei, quando me sentei ao lado dela
E ela deu de ombros
- Espera aí, você não sabe?
- Com certeza ele vai parar em algum lugar interessante uma hora ou outra… - ela me disse, como se fosse a coisa mais normal do mundo
Passamos um bom tempo no ônibus, até que passamos pelo museu de arte da cidade
- É, aqui é um bom lugar! - ela disse, e se levantou
E eu me levantei também. Saltamos do ônibus e fomos para o tal museu no que a gente passou a tarde inteira olhando quadros, alguns eram até legais, mas ela parecia não ligar muito. Como se só estivesse matando tempo, desconfiei que ela estivesse esperando por algo.
Já estava ficando tarde quando ela foi falar com um dos seguranças
- Onde é o banheiro aqui?
E o rapaz apontou a direção. A garota passa por mim e fez sinal para eu segui-la, olhei pro segurança e ele não tinha reparado, ela entrou no banheiro feminino e me puxou pelo braço
- Tá maluca? Eu não vou entrar no banheiro feminino.
- Relaxa, ninguém vem em banheiros de museus.
Finalmente ela conseguiu me puxar pra dentro do banheiro e ficamos nós dois sozinhos lá.
- A gente vai…
- O quê? – ela perguntou, sem entender direito
É, pelo visto não. Simplesmente ficamos ali por um tempo
- Por que exatamente estamos aqui?
- Por que vamos transar.
- N-nós o q…
Ela riu
- Eu tô brincando, a gente tá esperando o museu fechar.
- Mas por que?
- Porque vamos ficar aqui escondidos.
- Os seguranças ficam aqui mesmo depois de fechar, não?
- Eu não tinha pensado nisso… - ela confessou – mas acho que se a gente ficar aqui não tem problema, eu não vi nenhuma segurança.
Bom, nisso ela estava certa. Quando finalmente deu o horário, pode ver quando começaram a desligar todas as luzes do Museu, ela mesmo desligou a luz do banheiro, pude ouvir quando um cara comentou com o outro
- Foi você que desligou a luz do banheiro feminino?
- Não.
- Deve ter sido o Cabeça.
“Cabeça” talvez tenha sido o apelido mais estranho que já ouvi, mas por sorte, ficou por isso mesmo. Eu não conseguia ver mais ela, mas ela me puxou
- Certo, agora sim nós vamos transar – ela falou bem baixinho, no meu ouvido.
Mas dessa vez ela não parecia estar brincando. Eu tinha 16 anos, eu devia estar pronto pra isso, mas qualquer pessoa se sente fora de órbita com essa garota. Ela toma a atitude muito rápido, te domina e eu não estava conseguindo agir como um alpha mas decidi que não ia me deixar intimidar pois se isso era algum tipo de teste, eu ia passar.
Opa, opa, opa, amigo! Pode guardar esse seu pau de volta pra suas calças. Não, eu não vou narrar como foi, esse não é um daqueles GT’s pornográficos. Não é nenhum desses romances de merda onde a “pitanguinha” morre de câncer ou algo do tipo. Nós transamos pra caralho no banheiro de um museu de arte e isso já é o bastante para você
Enfim, no dia seguinte tivemos que esperar o museu abrir para sairmos e por algum milagre ninguém desconfiou de nada, Ágata me acompanhou até a minha casa, como se a mocinha fosse eu mas essa vez ela não entrou
- Bem, eu tô atrasado pro colégio, obrigado! - eu disse
- Foi a sua primeira vez ontem?
- O quê?
- É, foi a sua primeira vez ontem…
- A sua não?
- Sim, foi a minha primeira vez também. Mas é que… você transou pela primeira vez e tá chateado por causa do colégio?
Ela tinha razão, eu devo parecer bem idiota nesse momento
- Tem razão, desculpa por isso, é que…
- É que você é um idiota! - ela disse, me interrompendo
Ela ficou séria de repente, acho que eu a magoei. Poxa, tinha sido a primeira vez dela, era pra ser uma coisa especial, e eu com meu egoísmo falando de estar atrasado pro colégio
Fiz besteira, fiz besteira, fiz besteira
- Desculpa, eu não…
De repente ela começou a rir
- Você tinha que ver a sua cara! - ela disse me dando um empurrão de leve – Até mais, “atrasado pro colégio”.
Eu não consegui falar nada, puta que pariu, eu sei que eu já perguntei isso mas qual o problema dela?

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