Gerard seguiu até o colega que observava a cena com um pequeno sorriso no rosto, este que mostrava uma pequena ponta de preocupação.
– Dia bonito, não? – puxou conversa.
– Lindo, Gee. – respondeu Ray, sorrindo pequeno para o mais velho.
– E onde está o Mikey? – perguntou, recebendo um aceno de cabeça, logo olhando para o lado onde este o indicara. Mikey estava sentado em um dos bancos pintados de branco que residiam entre um e outro canteiro, enquanto corria um carvão pela folha de papel ofício em seu colo, apoiada em uma prancheta igual a sua própria. O olhar do garoto alternava entre algumas flores lilases e o papel. A imagem seria digna de um quadro, não fosse a "focinheira" presa ao rosto bonito do rapaz.
– Ele parece mais calmo... – comentou Gerard.
– Sim, tentei o que me falou, além de trocar um dos remédios por outro menos agressivo. Parece que estava certo. – anunciou Ray, mantendo o olhar vidrado no garoto loiro. A consciência ainda um tanto pesada por conta do novo “método de tratamento”.
A alguns metros, escondido atrás do tronco de uma árvore, Frank observava os dois médicos conversando calmamente, vez ou outra rindo de algo bobo que o outro comentara.
"Esse maldito cabeça-vermelha prefere aquele cabeludo!?... Não, não, não, NÃO!”
Seu olhos tornaram-se escuros e frios, e a vontade de vingança cresceu em seu peito.
***
Gerard caminhava calmamente pelos corredores do sanatório, rumo a sua pequena sala, onde guardava seus pertences e fichas médicas.
Pedira para Ray ficar de olho em Frank, mesmo que o menor fosse tranquilo. Havia esquecido alguns papéis importantes no lugar e precisava dos mesmos para colocar em dia alguns assuntos pendentes.
O enfermeiro estava feliz, pois há muito tempo desejava dar um tempo livre ao garoto. Confiava nele, mesmo sabendo de seu passado tempestuoso.
Em passos pequenos e silencioso, Frank aproximou-se do paciente loiro, que contemplava o desenho de sobras e manchas escuras feitas pelo giz de carvão que ganhara de Ray.
– Olá. – sorriu Iero.
Mikey acenou com uma das mãos. Os dedos sujos de preto se destacavam na mão branca.
– Se eu tirasse essa coisa, – Frank referiu-se ao objeto preso ao rosto jovem do outro – me ajudaria em algo?
O outro arregalou os olhos e balançou a cabeça em confirmação. Frank podia sentir que ele sorria por trás daquilo.
– Qualquer coisa? – perguntou o moreno.
E mais uma vez, recebeu acenos positivos.
Frank sorriu perverso. Olhou na direção de Ray, este que estava de costas para si, verificando algo em sua prancheta. O mais baixo aproximou-se do ouvido de Mikey e sussurrou o que queria. O loiro assentiu, aceitando os termos do contrato.
Frank levou as mãos até as grandes fivelas de metal que prendiam as tiras grossas de couro marrom da focinheira. Com um pouco de força conseguiu desafivela-las e tirar a focinheira do rosto do loiro.
Mikey sorriu largo, levantou-se e esfregou o rosto, ainda com a sensação do couro em contato com sua pele. Frank sorriu de volta, porém, um sorriso frio e maldoso.
Iero não aguentava ver aquilo que considerava seu, receber a atenção de outros.
Um psicopata é uma pessoa que possui algum tipo de desordem psicológica, caracterizado por um transtorno de personalidade antissocial. São indivíduos que possuem dificuldade em se colocar no lugar dos outros, tem distúrbio psíquico, tendendo a manipular as pessoas sem sentir remorso.
Frank tinha consciência do que pretendia fazer, e do quão desumano foi o combinado feito com o garoto loiro de rosto sério. O plano de Iero era chamar a atenção do seu alvo, a partir de Mikey. Ele correria e empurraria o enfermeiro “com cabelo de ovelha” para que este caísse e logo fosse atrás de si.
Dito e feito.
Mikey levantou-se do banco de tinta descascada e correu na direção de seu enfermeiro. Com força, atirou-se contra o corpo de Ray, que, perdendo o equilíbrio, foi de encontro ao chão coberto pelo tapete de grama verde. Ainda atordoado, Ray levantou-se assustado, mirando o olhar na direção do loiro que o olhava agora sorrindo. Segundos depois, correu para dentro do imponente prédio banco e cinza que se mantinha tão traiçoeiro quanto os homens que lá trabalhavam.
Em um pulo, Ray levantou-se, pondo-se a correr desesperadamente na direção que o louro havia seguido.
O enfermeiro não entendia como o garoto conseguira livrar-se da focinheira, mas o desespero tomava conta de seu ser. Sabia que precisava achar Mikey, e também sabia o perigo que ele apresentava para si mesmo.
Entrando no prédio, correu em direção a ala oeste, aquela onde ficavam os quartos dos pacientes perigosos e em estado crítico. Não fazia ideia de onde Mikey se encontrava, mas sua intuição lhe mandava para o quarto do garoto.
O moreno escutava atentamente, tentando descobrir alguma pista, e como esperado, uma risada se fez presente, cortando aquele silêncio mortal que dominava o ambiente hospitalar. Ray seguiu afoito tal som, rumo ao quarto do louro. Sua aposta estava correta.
A alguns metros, a porta de número 365 mantinha-se entreaberta. De dentro dela, gemidos, arfares e risadinhas soavam baixinhas.
Ray, aflito, empurrou a porta para que pudesse entrar.
– Caralho...
Mikey sentara-se no canto do quarto, dando as costas a porta. O loiro mantinha-se sentado no chão com as pernas dobradas e a coluna curvada. Era tão magro que Ray conseguia ver as vertebras marcadas no tecido fino da camiseta branca. Haviam manchas de sangue nas paredes e roupas do paciente. Mikey mordia e puxava pele e carne de um dos pulsos, vez ou outra desenhando coisas abstratas com o sangue que formava uma poça a sua frente, reluzindo o brilho das lâmpadas brancas que pendiam do teto do aposento; o suficiente para iluminar o quarto quase vazio e monocromático.
A alguns metros de distância, Frank sorria perverso. Em uma das mãos, uma pedra pontuda e embarrada aguardava o momento em que seria utilizada.
O pequeno moreno tinha a encontrado em um dos canteiros. Com o tal achado, veio a ideia. Como era um menino muito inteligente, não foi difícil bolar o toda a trama. Observara muito bem os passos de Ray e o comportamento de Mikey, traçando cada fio da teia cuidadosamente, para que esta, no fim, pegasse sua principal presa.
***
Frank seguia o enfermeiro a passos curtos e silenciosos como os de um felino. Por algum motivo, sabia que ele iria para sua sala; tinha este forte palpite. Ao que caminhava alguns bons metros de distância do outro, checava os números e códigos escritos em vermelho nas paredes albinas. A cada nova ala, uma outra sequência. Frank sabia para que serviam as marcas. Cada uma delas indicava um ponto de energia na fonte, que se localizava praticamente ao lado da sala de Gerard, no corredor do andar inferior de seu quarto.
Frank mantivera os olhos atentos a todas as curvas e corredores pelo qual passaram, rumo ao jardim traseiro da construção.
Assim que Gerard dobrou em um corredor, Frank julgou ser seguro correr até lá, mantando apenas a cabeça visível pela parede.
Em poucos segundos, o “click! ” da porta fechando-se deu o sinal que o moreno aguardava ansiosamente. Iero correu até a porta de nome WAY gravado em uma pequena placa cor de cobre pendurada no vidro. Espiou sobre o vidro fosco, para enxergar apenas o borrão das costas de Gerard.O homem de cabelos vermelhos estava abaixado a frente de um armário, puxando alguns arquivos de dentro, os quais eram revirados rapidamente pelas mãos do ruivo.
Frank correu os olhos por tudo ao seu redor, visando as duas macas pesadas de ferro fundido que permaneciam encostadas nas paredes brancas. Moveu-se para perto das mesmas, arrastando com dificuldade uma de cada vez, até aproxima-las da porta. Ergueu a pedra pontuda acima de sua cabeça, descendo-a com força demasiada contra a maçaneta prateada da porta de madeira e vidro à prova de balas; um cuidado a mais, caso um paciente saísse de controle e tentasse invadir alguma das salas. O baque alto e metálico incomodou levemente os ouvidos de Frank. De dentro da sala, foi possível ouvir um murmúrio confuso vindo do enfermeiro, este que se levantou de onde estava, girando a maçaneta diversas vezes. Só não esperava que ela soltasse em sua mão.
Frank sorriu e arrastou as macas colocando-as deitadas em frente a porta, de modo que Gerard não pudesse sair. Divertido, correu até a fonte de energia, desligando o interruptor que possuía a marca A1 S13-20. As luzes de algumas das salas que faziam parte daquela fase, apagaram-se, deixando apenas a negritude presente em todo o perímetro.
Com o maior de seus problemas neutralizado, Frank pode continuar a por em pratica a sua trama.
***
– Mikey? Ei! – Ray aproximou-se do paciente, este que mantinha total atenção no pulso mutilado e gosmento de sangue e saliva.
Mikey já havia parado o sangramento com a manga longa da própria camiseta. Sabia muito bem onde podia ou não morder. Mikey nunca foi um homem burro. Tinha o colegial completo e cursava enfermagem em uma boa faculdade. Mas talvez, por uma pura ironia do destino, tenha descoberto essa síndrome – que empacava sua vida a alguns bons anos– em uma de suas aulas de anatomia, onde por um acaso, prendeu seu dedo em um instrumento presente na sala de prática e ao puxá-lo, acabou por machucar feio. E foi neste exato momento que Mikey, o melhor aluno, viu-se atraído pelo sangue e pela dor aguda que a ferida o causava.
Ray aproximava-se devagar do corpo abaixado e imóvel. Com calma levou a mão ao ombro ossudo do paciente, virando-o para si.
– Mikey? O que aconteceu aqui!? Como tirou a focinheira!? – Ray exclamou boquiaberto.
– Eu fiz uma troca. – sorriu.
– Como ass...
A frase morreu nos lábios grossos do médico.
O sangue começava a escorrer pela linha de sua coluna, pintando manchas verticais no jaleco branco. Agora nem tão branco assim...
Alegria. A palavra que tomava conta de todo o ser de cabelos curtos e escuros. O mesmo postava-se exatamente atrás do moreno alto. O sangue na pedra pontuda reluzia o branco das lâmpadas fluorescentes. O golpe que Frank acertou na nuca do enfermeiro fora certeiro. Em segundos, o enfermeiro com cabelo de carneiro caiu morto no chão sujo, com a poça vermelha que crescia ao redor do corpo.
– Foi bom negociar com você. – sorriu Frank.
– Com você também.
Frank abaixou-se ao lado do moreno desfalecido, cutucando a lateral de seu rosto, como se quisesse ter a certeza de que estava morto. Com a sua confirmação, agarrou os tornozelos de sua vítima e puxou para o canto do quarto.
A cada centímetro que o corpo era arrastado, o sangue deixava sua trilha para trás, pintando o chão em um desenho abstrato e macabro.
Missão cumprida.
"Gee, Gee... Agora acredita na história do Ryan?”
Frank sorriu com o pensamento, logo rumando para a porta do leito em que estava. Antes de retirar-se do lugar, deu uma última olhada no loiro, que se encontrava deitado de bruços, os olhos fechados, viajando mo mundo da inconsciência. Alguma coisa nele lhe lembrava de Ryan...
Dado o último olhar, a pequena criatura de cabelos escuros retirou-se, finalmente, do quarto de Mikey.
***
A exaustão já tomava conta do corpo de Gerard, que tentava, sem descanso, arrombar a porta; esta que não se moveu um milímetro desde o primeiro pontapé desferido contra ela.
A vontade de chorar já se fazia presente no emocional do Way e o bolo que se formava em sua garganta tinha nome e sobrenome. Frank Iero. Gerard não podia confirmar, mas tinha um forte pressentimento de que quem o prendera ali, fora o garotinho que quase tirara a vida de seu melhor amigo, causando-lhe traumas irreversíveis.
O médico sentia-se um fracasso, pois trabalhara tanto! O garoto não tinha mais surtos de raiva a um bom tempo, o que levava o ruivo a jurar que o menor estava, de alguma forma, "livrando-se" de seu transtorno. Gerard acreditava que dando carinho e atenção a esse tipo de paciente, poderia influenciar no tratamento, ajudando-o a recuperar a sanidade mental mais rapidamente. Porém, este foi o maior erro que Gerard poderia cometer em toda a sua vida.
O que o ruivo não sabia, era que Frank poderia agir de forma traiçoeira para conseguir o que queria, independente de quem fosse. Ryan estava de prova. Frank, o lobo coberto pelo pelego da ovelha e Gerard, o inocente porquinho que abre as portas de seu coração para acolher a ovelhinha.
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Red
FanfictionFrerard/ +18 / Concluída "Psicopatas não são loucos, eles tem total consciência de seus atos" Porém Gerard subestimou essas palavras. Capa e revisão por PrettyOddKoda