Arrumem-se

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Os deuses estavam reunidos na sala de jantar principal. A sala do trono - com somente 12 cadeiras - definitivamente não seria adequada para a ocasião, afinal, haviam outros deuses além dos olimpianos ali. Cônjuges, deuses menores e... e Hades.

Apolo, Dionísio e Hermes animavam a refeição, como sempre. Mas Perséfone estranhou o silêncio quase fúnebre da maioria dos deuses ali. Zeus, Hera, Poseidon e Atena estavam mudos e cabisbaixos. Hefesto parecia estar com uma expressão particularmente culpada. Afrodite fazia questão de mandar olhares acusadores toda vez que encarava seu marido. E Ares parecia feliz. Nada está bem quando Ares está feliz...

"Ih..." Murmurou Perséfone. Seu marido estava sentado ao seu lado esquerdo, e Deméter, do seu lado direito.

"Não quer mais um pouquinho de cereal, filhinha?" Propôs sua mãe, quase enfiando a colher em sua boca.

"Não, mamãe, obrigada." Repetiu. Tinha vontade de perguntar o porquê de tudo aquilo, mas tinha impressão que Zeus só permitiria que soubessem de algo através dele.

"Fico tão feliz que ainda se vista como uma ninfa alegre e vivaz! Mesmo morando naquele lugar sufocante e horrível..." Comentou Deméter, revirando os olhos no final da sentença.

"Eu te digo o que mais é sufocante e horrível..." Provocou Hades.

"Não!" Exclamou Perséfone, antes que Deméter tivesse a oportunidade de rebater. "Poupem-me!"

Sua mãe voltou ao seu prato de cereal, enquanto Hades tascava um beijo na bochecha de sua esposa.

"Você fica tão linda com raiva..."

A rainha tentou evitar de sorrir.

"Atenção!" Zeus disse, ao se levantar. Com isso, todos os presentes também se levantaram.

"Venho comunicar que temos um problema."

'Lógico que vocês têm um problema, mais um, pra variar...' Pensou Hades.

"Hefesto, há alguns dias, construiu um droide com altas capacidades destrutivas. Ele eventualmente saiu do controle... Golpeou Hera e fugiu."

Hades cuspiu o vinho, segurando ao máximo sua gargalhada.

"Nossa, minha irmã, que acontecimento terrível..."

"Poupe-me de seu sarcasmo, Hades. A situação é séria." Hera se levantou, tirando o véu do rosto. As marcas de agressão são agora evidentes.

"Como alguns de vocês sabem, o droide é uma grande ameaça uma vez que nós, os olimpianos, não pudemos detê-lo. Claro, digo isso por que fomos pegos de surpresa. Mas graças ao acontecimento de ontem, já temos uma pista de como destruí-lo."

Houve uma pausa. Perséfone ouviu os risinhos de Apolo, Ártemis e Hermes pelo estrago feito em sua amada madrasta. Ouviu também o suspiro de tédio de seu marido.

"Ontem à noite, Atena foi surpreendida em seu quarto. Acordou com o droide em cima de si, prestes a lhe violar."

Hades ergueu a sobrancelha. Apolo exclamou: "Peraí, o droide tinha...?"

"O que nos leva a crer que o droide tenha, de certa forma, 'roubado' os sentimentos de seu criador, Hefesto. Direcionando ódio à sua mãe, tentando agarrar Atena..." Interrompeu Hera, bruscamente.

Um silêncio se prosseguiu, e Hera voltou a sentar. "O que sugere que façamos?" Interroga Poseidon. Ele parecia levemente incomodado pela situação de Atena.

"Não estamos com disponibilidade para sair caçando um droide. E já estou farto de dever favor a semideuses. Sugiro que cada um de nós, os Três Grandes, nomeie algum submisso de confiança para ir atrás do tal robô." Diz Zeus. Ele se levanta.

"Eu nomeio Hermes." Completa.

Hermes finge jogar seus longos cabelos imaginários. "Adoro." Apolo ri, enquanto Ártemis revira os olhos.

"Eu nomeio Hirieu" Diz Poseidon. Parecia ser um filho seu fora do casamento, não muito famoso. Hirieu caminhou até a mesa. Era muito forte. Parecia ter os ombros com a mesma largura dos de um ciclope, quase dois metros de altura. Carregava dois machados em suas costas como se fossem penas.

Hades se levantou, sabendo que era sua vez. "Eu nomeio Hécate."

E convocou a deusa, que apareceu das trevas. Imaginara essa cena como gloriosa, em que Hécate estaria razoavelmente bem-vestida e preparada, do jeito que a havia deixado no submundo.

Mas assim que a nuvem negra se dissipou, teve que se desviar do porrete que voou em direção de sua cadeira. Impressão dele ou tinha um crânio cravado ali?

Todos os convidados encararam Hécate. Houve um longo silêncio, extremamente constrangedor. Envergonhada, a deusa puxou a corrente que ligava ao porrete - arrastando boa parte da mesa - bem lentamente. Não ousava tirar os olhos do chão.

Passou-se um minuto até Hécate engolir a saliva e erguer a cabeça.

"Chamou?" Sua voz beirava ao trêmulo.

Perséfone sorriu. Achava adorável de ver Hécate sem jeito, rosto vermelho. Ela era sempre tão segura de si, tão séria...

"Você vai numa missão com Hermes e Hirieu. Caçar um droide que causou grande alarme. Aliás..." A deusa se voltou para Zeus. "Se importa em dizer com que locomotiva eles contam?"

"Um barco." Respondeu Hera. "Creio que já podem começar a se arrumar."

Hécate saiu dali às pressas, seguida pelos dois companheiros.

"Estão dispensados." Encerrou Zeus.

"Vamos, amor." Apressou Perséfone, puxando seu braço. "Creio que deve haver mais uma confusão nos aguardando lá em casa."

Rainha do SubmundoOnde histórias criam vida. Descubra agora