A bordo

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O barco era grande e moderno. Não gigante como um cruzeiro, mas espaçoso o suficiente para se ter privacidade. Os três deuses - ou três Hs, como Dionísio brincou e o nome acabou pegando - resolveram se organizar em turnos para tomar conta do mastro.

O piloto era automático: havia uma tela com GPS, e digitando seu destino, o barco se locomovia sozinho. Entretanto, sempre é bom estar atento a imprevistos...

Foi com este pensamento que Hécate assumiu o primeiro turno. Sentou-se na confortável poltrona diante do mastro e abriu um livro, sempre atenta a dar umas olhadelas na tela GPS e na vista vez ou outra.

Lembrou-se do aviso de Hefesto antes de zarparem. "Quando fui jogado do Olimpo, caí no oceano. Por isso tenho a forte impressão que o droide está, ao menos, em alguma praia ou gruta. Ajustei o GPS para levar vocês até o último local que o vimos."

Hirieu cruzou os braços e ergueu a sobrancelha. "Ele também pode ter mergulhado, não?"

"Ele tem sim essa capacidade, mas dificilmente ele optaria por isso. Não sou muito fã de água."

Fazia sentido, vindo do deus do fogo.

A brisa salgada tirou Hécate de seus pensamentos. Sentiu o bem que a luz do Sol estava fazendo à sua pele. A vista do mar era tão bela... O ar da superfície era tão puro...

Qual tinha sido a última vez que estivera no mundo dos humanos? Nem conseguia se lembrar... Estivera tão focada em seu trabalho ao lado de Hades...

Ao lado, não. Abaixo dele.

Suspirou de irritação. Lembrou-se de íons atrás, na Guerra dos Titãs. Quando os deuses finalmente haviam triunfado e os reinos foram divididos entre os Três Grandes.

Teve a chance de ser uma deusa de superfície, não podia negar.

Mas ainda sim escolheu ir com Hades. Sempre gostou muito dele, sabia que ele precisaria de ajuda. Da sua ajuda.

Ás vezes se perguntava se seria a escolha certa... Por mais que soubesse que não teria coragem de abandoná-lo. Se divertia muito com seu jeito de ser.

O Sol atingiu seu ápice. Hora da troca de turno.

Guardou o livro e desceu para os convés, onde Hermes e Hirieu treinavam luta. Quando berravam provocações um para o outro, pensou ver miniaturas de Zeus e Poseidon.

E Hades, para variar, só assistindo tudo.

"Hermes, é sua hora de ir no mastro." Disse Hécate em um tom mais alto, interrompendo a luta acirrada.

Hermes enxugou o suor da testa. Ele olhou para Hécate de forma provocativa, como se o fato de estar sem camisa a afetasse de alguma forma.

Mas a verdade é que já estava acostumada.

"Eu vou." Disse ele. "Depois que você lutar comigo."

Ele ergueu seu punhal em sua direção, desafiando-a. Hécate revirou os olhos, entediada.

Mas partiu pra cima dele em uma velocidade assustadora. Hermes desviava dos repetidos ataques com precisão. 'De onde essa mulher arranja tantas armas de uma vez?' Pensou.

A luta permaneceu acirrada por algum tempo, com Hermes apenas na defensiva. Uma vez que tentou elaborar um ataque, Hécate torceu seu braço e jogou-o no chão, de peito para baixo. Em seguida lançou diversos sais em seu pescoço, extensão do braço e punhos - impedindo-o de se locomover.

Sentou-se em cima de sua cintura, erguendo agulhas no ar. "Gosta de acupuntura?"

"Não!" Exclamou Hermes, aicmofóbico. "Afasta isso de mim!"

Rainha do SubmundoOnde histórias criam vida. Descubra agora