MARATONA 1/5
12:15, Sexta-Feira
Eu estava encarando as pílulas abortivas em minha frente, sem coragem para tomá-las.
— Vai ser melhor para mim, vai ser melhor para a gente. — passei a mão sobre a minha barriga que já estava um pouco grande
Nada muito "monstruoso", mas estava com uma elevação.
Eu estava me sentindo um monstro, eu iria fazer o que jurei a mim mesma que nunca faria: tirar uma vida.
As lágrimas caíam, cada vez que eu pensava na merda que estava fazendo. Que merda!
Eu respirei fundo, enquanto tentava, falhamente, parar de tremer com as pílulas na mão.
Apertei meus olhos e na minha mente, eu só conseguia ver um bebê. O bebê que eu estava matando.
Que merda está acontecendo comigo?
Respirei fundo e abri meus olhos, intercalando o meu olhar entre a pílula e a minha barriga.
— Você vai me perdoar, bebê? Eu vou matar meu próprio filho, isso tem perdão? — quanto mais eu queria que aquilo não se tornasse um peso, mais aquilo me perseguia e eu me sentia uma criminosa
Uma assassina.
Eu. Não. Consigo.
— Será que você vai me considerar uma péssima mãe? — eu abri um pequeno sorriso, somente de imaginar um ser loiro me chamando de mãe — Será que eu vou conseguir te amar, bebê? Você promete não me odiar?
Eu não ia conseguir abortar, eu ia me sentir culpada. Eu não tirar uma vida. Eu não sou assim.
Eu me levantei, joguei as pílulas na privada e dei descarga.
— Por favor, me ajuda a ser uma boa mãe para você. — acariciei a barriga quase invisível
(...)
17:30, Sexta-Feira
— Me diga que isso é mentira?! — Vitória quase sussurrou, quando eu terminei de contar sobre o quase aborto que eu cometi
— Eu vou ser uma péssima mãe, Vitória! Eu posso dar meu filho, mas só de pensar nele vivendo uma vida precária com situações precárias me faz... Não sei, é um misto de sentimentos, Tori. Medo, insegurança, arrependimento... E se minha mãe tivesse me abortado? — coloquei minha cabeça entre minhas pernas — Estou com muito medo, Tori. Medo de tudo! E a minha carreira brilhante? O casamento dos sonhos? O cara dos sonhos? Eu sequer namoro. — os soluços estavam mais constantes
— Quantas mulheres se viraram sendo mães solos, amiga. Vai dar tudo certo, você vai conseguir passar por isso. Eu vou estar com você, sempre!
— Ele vai ferrar a minha vida, Vitória. Ele vai me odiar eternamente, ao saber que eu quase abortei ele.
O peso na minha consciência estava me matando. Essa gravidez não vai me fazer bem, não vai.
(...)
01:15, Sábado.
Vitória estava dormindo. A minha consciência não me deixava em paz. Eu tive que levantar.
As lágrimas caíram sobre meu rosto, quando peguei a faca.
— Não me odeie bebê, por favor, não me odeie. — as minhas mãos tremeram, quando eu coloquei a faca perto da minha barriga — Vai ser o melhor para gente, não vai? — eu soluçava, jurando a mim mesma de aquilo não era errado
Aquilo não era tão errado. Aliás, ele não é um ser vivo, ainda.
— Não é um erro, não é mesmo? Está tudo bem, não tem erro nisso. — eu aproximei a faca ainda mais da minha barriga
A ponta da faca já tocava a minha blusa. Eu estava tremendo, eu tinha medo daquilo, medo de estar fazendo errado. Que merda!
— Não! — um grito me assustou e eu larguei a faca, ainda paralisada — O que você está fazendo, Milena?
A faca passou tocando em minha barriga.
— Eu... Eu não sei — me sentei no chão e coloquei a cabeça entre minhas pernas
— Fica calma, Milena. — Vitória se agachou ao meu lado e me abraçou
Abracei minhas pernas, soluçando. Eu quase me tornei uma homicida e uma suicida. Eu sou um monstro, esse bebê não pode crescer perto de mim. O melhor para ele seria, mesmo que infelizmente, a morte.
— Amiga, por favor, não faz isso. Eu te ajudo no que você precisar. Se o problema são as fraldas? Tudo bem, eu te ajudo a comprar. Trabalho? Quantas mulheres abriram seus negócios, quando ficaram grávidas. Eu posso te ajudar. — ela me abraçou mais forte
— Eu não vou ser uma boa mãe, Tori. Você não entende. Eu não sei ser mãe. — a insegurança estava me atormentando
— Não tem problema, você aprende. Eu também posso aprender, não é? A gente vê tutoriais no YouTube, sei lá, damos um jeito. —eu me sentei no chão e encarei a faca em minha frente
— Ele vai me odiar, Tori. — limpei algumas lágrimas
— Ele vai te amar, Mih. Vai te amar incondicionalmente, vai te amar muito. — ela disse
— Se eu for uma péssima mãe, você promete que cuida dele para mim? — encarei-a
— Amiga...
— Só me promete, Vitória. — olhei no fundo de seus olhos
— Tudo bem. Eu, eu prometo, amiga. Eu prometo para você — estendi meu dedinho e ela também
— Promessas de dedinhos são inquebráveis. — abri um pequeno sorriso
Eu terei minha amiga ao meu lado. Isso é muito importante para mim. Muito importante.
--*--
Motivo do meu sumiço repentino? Meu celular não estava funcionando direito e o meu notebook estava estragado, ou seja não tinha como escrever. Mas para recompensar esse tempo, teremos uma maratona de cinco capítulos e voltamos quinta, com a programação normal.
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Inesperadamente
Literatura FemininaINESPERADAMENTE ☆ A vida de Milena não era uma das melhores, mas tudo cooperava para que as coisas melhorassem. Ela trabalhava no fórum, servindo cafés e a noite, estudava Administração. As coisas estavam monótonas, até ela ir ao ginecologista, fa...