CAPÍTULO 14 - A colheita se intensifica

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“A dor é inevitável, o sofrimento é opcional.” - Carlos Drummond Andrade 

           

            Apesar dos acontecimentos da noite, Luís Otávio procurou se concentrar apenas nas coisas boas que teria que fazer no dia.

            Ele se encheu de disposição e bom ânimo, e iniciou os preparativos para o dia que estava se iniciando, afinal, hoje seria um dia para estar feliz. “Quem sabe não seria uma excelente oportunidade de comemoração com Helena”?Perguntou ele para si próprio, com um certo ar de malícia.

            E foi com essa perspectiva de alegria que ele foi ver as meninas, e ajudá-las a se prepararem para a escola.

            Sílvia observava a atitude do marido com ar de surpresa. Nos últimos dias ele tinha estado mais tempo em casa, e isso levava ela a pensar que poderia ser uma mudança para melhor. “Quem sabe as coisas não estariam voltando ao normal”? Indagou ela tentando alimentar um fio de esperança para seu casamento.

            Luís Otávio então se despediu das meninas, logo após terem tomado seu café da manhã, e as levou até a condução. Ele se ofereceu a levar Sílvia para o trabalho, pois iria precisar do automóvel para os compromissos da tarde.

            Próximo à hora do almoço, Luís Otávio ligou para sua mãe informando que iria almoçar com ela. Uma hora depois ele lá se encontrava. Após os cumprimentos iniciais, ele, dando um longo suspiro de cansaço, sentou-se em uma cadeira de balanço, convidando sua mãe para sentar perto dele.

            Márcia, conhecedora do filho que possuía,  de imediato percebeu que algo não ia muito bem com ele.

            - E então meu filho? Por todos os sinais que você está a externar, significa que algo não vai muito bem com você.

            Luís Otávio sorriu, e como quem não estava entendendo o que a mãe falara arguiu:

            - Como assim, “por todos os sinais”, mãe?

            - Ora, ora meu querido. Conheço minha cria. Vir almoçar aqui de repente, sentar com um suspiro longo, e me convidar para sentar perto de você. Bom, acho que já exemplifiquei muito. Vamos direto ao ponto filho. São os pesadelos novamente não são?

            - É mãe, parece que as coisas nesse sentido estão piorando cada vez mais. Os pesadelos, que na verdade nem sei mais se são pesadelos mesmo ou se estou realmente vivenciando aquilo tudo, mas, como ia dizendo, eles estão ficando verídicos demais. As criaturas estão cada vez mais se aproximando de mim. Elas são tão humanas. Não parecem animais ferozes que perseguem um humano. Parecem pessoas, em forma de animais, que trazem um desejo mórbido de me pegar e de me estraçalhar.

            - Depois, têm aquelas pessoas, aqueles três vultos sombrios, encapuzados. Eles estão sempre à espreita, sempre me cobrando por coisas que não faço a mínima ideia do que seja. Mas eles são muito, muito reais. Dessa última vez, aquele que parece ser o líder deles, retirou o capuz de sua cabeça, mãe. O que eu vi me deixou transtornado até agora. Só de falar fico todo arrepiado. Era um monstro horrível. Tinha uma cabeça de serpente, de crocodilo, não sei bem explicar. Sua face era como se fosse de um cão raivoso, um lobo ou algo parecido. Seus olhos não eram humanos, pareciam duas bolas de fogo, de um vermelho intenso. Quando ele me olhou, frente a frente, senti como se faíscas de ódio saíssem daquelas bolas de fogo. Horrível mãe. Horrível!

Todos Nós Renascemos - Dias AtuaisOnde histórias criam vida. Descubra agora