Monday Blues

242 14 6
                                    

O despertador novinho em folha foi parar quase do outro lado do quarto e se partiu em vários pedaços, piorando ainda mais o barulho estridente que emitia segundos antes. Os sons meio sinistros que saiam dele eram como a marcha fúnebre de mais um daqueles objetos irritantemente necessários. Jongdae só desejava ficar mais tempo chafurdado na cama quentinha, pois o mundo parecia muito perigoso fora dos lençóis, mas viu-se obrigado a levantar de uma vez por todas. Arrastou-se mau-humorado até o banheiro dentro do enorme pijama listrado que usava para dormir e aproveitou para chutar o relógio jogado no meio do caminho, fazendo-o soltar um último lamento e silenciar. Descanse em paz, despertador número vinte e sete.

O espelho sobre a pia denunciava a aparência cansada. Quem visse seus olhos caídos, o semblante desanimado e a boca involuntariamente crispada em um bico acharia que o rapaz havia trabalhado por um mês sem nem ao menos uma noite de sono, mas não, aquela era apenas uma segunda-feira normal. E Jongdae odiava segundas-feiras. Odiava ter que sair de casa e odiava segundas-feiras. Odiava o metrô e odiava segundas-feiras. Odiava seu trabalho e odiava segundas-feiras. Já disse que ele odiava muito segundas-feiras?

Era um jovem velho de vinte e cinco anos, muito bem sucedido, porém muito infeliz num emprego dos sonhos que era seu pesadelo durante quarenta horas semanais. E era lei que, em todo primeiro dia da semana, ele se perguntasse o motivo de ainda permanecer naquela rotina que detestava. Dois minutos depois, encarava a pilha de boletos em cima do criado-mudo e se lembrava. Ah, como era ótimo fazer parte de uma sociedade capitalista! O que era vender seu precioso tempo de vida para uma multinacional quando podia pagar seu ótimo apartamento na área central de Seul, seus mangás e seu frapuccino com bagel todos os dias de manhã na cafeteria ao lado de casa? Inclusive, era o que estava fazendo exatamente naquele momento, depois de tomar uma ducha rápida e não perder mais do que dez segundos escolhendo um terno cinza qualquer, chique o suficiente para esconder seu descontentamento.

Na cafeteria, o rapaz alto e plácido como um monge budista que sempre o atendia nem perguntava mais qual seria seu pedido, apenas recebia o dinheiro e acenava para o barista moreno – e igualmente alto – que lhe sorria gentilmente antes de começar a preparar a bebida. Jongdae às vezes se perguntava se ele estaria flertando consigo, mas tinha certeza que era só gentileza, uma vez que tratava a todos com a mesma atenção. Contudo, gostava de se enganar um pouco e imaginar que alguém o desejava. Poxa, já fazia tanto tempo... Quase três anos desde seu último relacionamento meio sério e vários meses desde a última vez em que meio que se interessou por alguém. Olhou para o copo de frapuccino em sua mão, que já havia sido meio consumido, servindo como uma irônica-barra-poética ilustração. Talvez a vida de Jongdae fosse assim mesmo, toda pela metade.

Uma risada baixa em uma mesa próxima interrompeu seu fluxo de pensamentos. Virou-se para os lados instintivamente e seus olhos caíram sobre um rapaz que sorria para a tela do próprio celular. Ele era bonito, muito bonito. Não conseguia enxergar bem seus olhos, pois, de cabeça baixa, a franja prateada os ocultava, mas a linha fina de seu queixo se destacava pela delicadeza e ele tinha mãos lindas. Porém, o que chamou mais a atenção de Jongdae foi o enorme buquê de flores embrulhado ao seu lado, quase artístico, com flores e folhagens diferentes apontando para todas as direções, indicando o bom gosto óbvio de quem o havia presenteado. Imediatamente, pôs-se a imaginar todo um cenário onde o rapaz platinado era surpreendido com flores de seu parceiro ou parceira e corria ao celular para agradecer com uma linda mensagem, talvez uma foto ou um vídeo, enquanto ria gostosamente por se sentir amado. Daria um belo quadro para pendurar no quarto de alguma adolescente, mas, no momento, Jongdae se equiparava a algo como O Grinch da primavera e o cheiro floral que se desprendia daquela mesa tornou-se incômodo o suficiente para que ele terminasse o café da manhã apressado. Não sabia bem o motivo, mas queria sair dali o mais rápido possível.

Blooming DaysWhere stories live. Discover now