16. Explosão

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O vidro aberto do carro revela o ar frio do início de noite. Devido à chateação ocorrida no começo da manhã, o dia acabou passando rápido demais, acompanhado pela tristeza. Em algum momento, acabei por adormecer, decepcionado pelo modo que tratei Iris. Ela não merecia palavras tão ríspidas. Não mesmo.

Disposto a ajudar, meu pai se ofereceu para me levar à sua casa para que eu pudesse me desculpar.

Aparentemente, uma vez, voltando do trabalho, papai deu carona a ela, quando a loira também retornava do serviço. Com o endereço ainda na memória, ele me trouxe até aqui.

A fachada da casa é amarela, bem como os fios de cabelo de Iris. Para minha surpresa, as janelas estão fechadas. É possível que não haja ninguém, o que me desespera.

Espero que o veículo estacione e salto, à espera do pai. Ele me segue, com um evidente receio, guiando-nos em direção à porta. Seu dedo grande pressiona a campainha; sinto meu estômago se revirar.

— Esquecemos de ligar avisando que viríamos, não se decepcione se elas não estiverem em casa. — explica, retirando o indicador da campainha.

Dr.ª Patricia não tarda a nos atender, surpresa com a visita.

— Henry, olá! Posso ajudá-los? Aconteceu alguma coisa?

— Na verdade, Henry estava meio indisposto esta manhã, o que acabou atrapalhando o encontro com a Iris. Ele veio se desculpar e passar o fim de tarde com ela, se for possível. — esclarece, a arrancar um sorriso da loira.

— Ela está no quarto, pode ir ali. Subindo as escadas, à esquerda. — com uma das mãos, a psicóloga ilustra o trajeto. — Estou resolvendo o plano de um atendimento, mas, se quiserem entrar, estarei à disposição em minutos.

— Não se preocupe. Se for melhor, volto para buscá-lo mais tarde. — sugere, e eu assinto, em despedida.

— Sem problemas, sr. Mendes. Até logo! — engulo em seco, vendo-o se afastar. — Fique à vontade, Henry.

Ouço o som do carro ao dar a partida. Respiro profundamente, ansioso para vê-la. Não sei direito o que direi, ou se ela gostará de me ver depois do modo como lhe tratei, mas preciso fazer uma tentativa.

Cheio de coragem, inicio a subida aos degraus da longa escada. A ponta de meus dedos treme. Vejo a porta recostada e, através da fresta, a garota, com os óculos no rosto, sentada sobre o colchão, usando um notebook. Bato delicadamente na madeira.

— Com licença?

Em uma espécie de pulo, provavelmente de susto, Iris abaixa a tela do computador e cruza as pernas, virando-se para mim. Seus olhos azuis me observam com atenção, curiosos.

— Henry? — ela une os cabelos para um só lado. — Pode entrar.

Obedeço-a, encostando a porta ao entrar. Caminho a passos lentos, a encarar o quarto da garota. Paredes brancas, algumas revistas no chão, ao lado de um pufe lilás, cortinas da mesma cor e uma escrivaninha repleta de livros enormes sobre física e espaço.

A filha da psicóloga está de pijama. Nunca a vi sem estar bem arrumada, isso deve ser um pouco constrangedor para ela. Pelo menos, é para mim. Uma das mãos alvas da garota bate na cama, acredito que fazendo menção para que eu me sente, e assim o faço. Minha vergonha impede que alguma palavra saia da boca.

— O que lhe trouxe até aqui? — quebra o silêncio rapidamente, na mesma intensidade que um copo de vidro a despencar.

— Papai. — fecho os olhos, sem graça, assim que compreendo a real pergunta. — E-eu vim me-me... — suspiro, expulsando a pouca coragem dentro de mim. — Eu vim me desculpar... pelo modo como falei com você lá em casa.

Ruídos de SaturnoOnde histórias criam vida. Descubra agora