9 horas e 23 minutos do dia 13 de maio de 2013.
- Este é o depoimento de José Maria Conceição Moraes, maior de idade, solteiro e sem nenhum documento. A minha primeira pergunta é sobre isso: o que aconteceu com seus documentos?
- É uma história...engraçada, seu inspetor. Aconteceu no mesmo momento em que eu ganhei estas cicatrizes no rosto. Acho que não cabe contar uma história dessas nesta nossa conversa.
- Não sou um inspetor, seu José. Sou um delegado. Prossigamos: o que é que sabe sobre o caso?
- Quase o mesmo que a polícia: um homem foi encontrado morto no dia 10 (de maio), em sua própria casa cheia de bilhetes de amor e piadas escritas, com uma bala no peito, portando nada além de uma arma, uma máscara de palhaço e um bilhete escrito "e para minha última piada... 1/4".
- Como obteve estas informações?
- Foram as que saíram no jornal, inspetor.
- Eu não sou um (suspiro)... e como acha que pode ajudar a gente, seu José? Acha que pode... desvendar o crime de alguma forma?
- Oh, não, seu inspetor. Eu só vim esclarecer uma ou duas dúvidas que a polícia possa estar tendo acerca do caso. Sabe, meu pai trabalhava como palhaço, então acho que não existe situação mais apropriada para os meus serviços.
- Não é algo que realmente o qualifique, seu José, e eu ainda não entendi; como isso vai ajudar no progresso do caso?
- Hmm... uma vez eu perguntei ao meu pai sobre o que ele achava da morte. Ele me respondeu:
"eu não penso muito sobre isso, a morte não é engraçada, não faz os outros rirem."
Eu ainda indaguei se ele já tinha pensado em fazer piadas com a morte ou se não as fazia porque tinha medo, mas ele disse:
"Meu filho, existem tantas coisas que trazem a tristeza ao ser humano, a morte é só mais uma potencial forma de chegar a esta tristeza, e acredito que qualquer palhaço, seja ele risonho, maluco ou tristonho, não quer levar esse sentimento ao público. a morte causa medo, você mesmo disse! Não... Há, há, há, há! Só loucos podem tirar alguma graça de algo tão horrível, não acha?"
- Eu entendo o pensamento de seu pai e respeito, mas existem falhas nele, seu José. Pense bem na quantidade de comediantes e pessoas que trabalham com humor que já cometeram suicídio, por exemplo!
- Sim, mas esses trataram a morte como algo sério, não como piada. Quando um comediante trata algo como sério, nunca dá certo, acredite. Ele acaba perdendo a graça. O ato que esses praticaram marca o fim da piada, não o início. São casos diferentes do seu.
- O que quer dizer com isso, Seu José?
- Quero dizer que não estamos trabalhando com um suicídio, mas com um assassinato, inspetor.
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A Última Piada
Mystery / Thriller"...Julgo, por fim, que não existe mais ideal máscara do que o humor, assim como não existe mais ideal herói do que...um palhaço."