Capítulo 27

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"Amor do que você..."

"Você sabia? Você sabia ou não?" A empurrei, até a mesma bater as costas na parede da cozinha.

"Sabia do que?"

"NÃO FINGE DE SONSA. VOCÊ SABIA, VOCÊ SABIA E O DEIXOU MORRER!" Lauren arregalou os olhos ao me ouvir.

"Não, eu não..."

"Diz, diz olhando nos meus olhos que você não sabia." Me aproximei dela. "Diz que ele não te contou que planejava se matar..." Lauren apenas desviou os olhos. "DIZ PRA MIM!" Implorei, sentindo minhas lágrimas escorrerem. "Por favor, me diz que você não sabia... Lauren, por favor..."

"Eu sinto muito." Sua voz não passava de um sussurro, enquanto as lágrimas escorriam dos seus olhos. "Por favor, me deixa explicar."

Dei as costas a ela.

"Pode me levar para casa, Dinah?"

"Mila..."

"Por favor"

"Claro." Não me importei em pegar minhas roupas e Dinah muito menos. De biquíni, nós entramos em seu carro e em silencio seguimos para a minha casa.

Assim que Dinah estacionou, desci do carro e corri para o meu quarto, me jogando na cama.

Ela sabia. Ela podia ter impedido, mas preferiu fingir que estava tudo bem. É claro, por quê ela se importaria? Bufei afundando meu rosto no travesseiro. Eu não sabia o que sentir, o que pensar e muito menos o que fazer.

Uma parte de mim gritava que a única culpada de tudo era eu, outra parte gritava que era Lauren. Eu queria gritar, socar alguém, quebrar alguma coisa, mas a única coisa que eu fiz foi chorar, até ouvi meu celular tocar.

Olhei para o aparelho, encarando a nossa foto, tentando me decidir se atendia ou não. E então ele parou, voltando a tocar segundos depois. Isso aconteceu mais umas cinco vezes, até que por fim eu desisti e entendi.

~~Camz, por favor, você tem que me escutar...

~~Agora não, Lauren.

~~Mas não...

~~Por favor, só me deixa pensar um pouco. Eu...

~~Você tem que me ouvir, muita coisa...

~~Lauren, por favor, eu te ligo.

~~Tudo bem, eu sinto muito.

Me doeu ouvir a tristeza em sua voz.

~~Eu também.

Minha cabeça estava a mil, então resolvi tomar uma chuveirada. Passei longos segundos de baixo do chuveiro, chorando. Mas infelizmente o banho não me ajudou a clarear minhas ideias. Antes de me trocar, parei em frente ao espelho encarando a minha cicatriz. De alguma forma essa era a única conexão que eu tinha com ele.

Por que eu só destruía a vida da pessoas? Por que mama teria que criar suas filhas sozinhas? Por que ela tinha que aprender a viver sem o amor de sua vida? Por que Sofia tinha que crescer sem um pai? Por que meu Deus?

Mas a resposta era obvia, por minha causa. Eu destruía a vida de quem me cercava, e não pretendia continuar fazendo-o.

Precisava por um fim nisso, de uma vez por todas.

{...}

Três semanas haviam se passado. Como eu não liguei para Lauren, ela vinha me procurar praticamente todos os dias. Eu a evitava. Não sabia o que estava acontecendo comigo, não saia mais de casa, não conversava com mais ninguém que não fosse Sofia, minha mãe e Dinah.

O Som do Coração (Intersexual)Onde histórias criam vida. Descubra agora