Capítulo 28

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Acordei com o escandaloso despertador. Levantei sem muita dificuldade, não que eu gostasse de acordar cedo, apenas não conseguia dormir direito mais. Tomei um banho rápido, e me troquei, mandei mensagem para Anna, e enquanto esperava por ela, fui para cozinha tomar meu café.

"Bom dia, mama." Beijei sua testa, me sentando ao seu lado.

"Bom dia, Mila. Não está atrasada?"

"A primeira aula era apenas uma revisão. Anna e eu já havíamos estudado."

Conheci Anna no meu primeiro dia na faculdade. Ela também não conhecia ninguém, e depois de trombarmos uma na outra algumas vezes, acabamos virando amigas. Ela morava a dois quarteirões da minha casa, e como passava pela minha rua para ir para a faculdade, eu aproveitava a carona.

"Vou acordar a Sofia. Come direito, essa semana você mal teve tempo de fazer seu café com calma."

"Eu compenso no almoço. Já vou indo." levantei quando ouvimos uma buzina do lado de fora. Mama me repreendeu com os olhos, mas acabou sorrindo. Ela sabe o quão duro eu me empenhava nos estudos, e só por isso, pegava leve as vezes.

"Boa aula, Hija." Beijou meus cabelos, deixando a cozinha em seguida. O dia estava ensolarado, peguei meus óculos de sol e deixei a casa.

"Bom dia, Anna." Bati a porta, sorrindo para ela.

"Bom dia, Mila." Beijou meu rosto, arrancando o carro.

A conversa fluiu tranquilamente durante todo o percusso. Anna era muito inteligente e bonita. Tinha os cabelos ruivos naturais curtos, e algumas pintinhas no rosto. Adorava estar com ela. Anna estava sempre sorrindo, mesmo quando estava na pior. Aquelas pessoas positivas. Me sentia bem com ela. De todos os nossos amigos, ela era a única que sabia de absolutamente tudo o que aconteceu comigo há três meses. 

Ela até tentou me dar alguns conselhos, mas eu já havia tomado minha decisão. 

"Oi, Jay." Cumprimentei, sentando ao seu lado.

"Ei, Mila." Me abraçou de lado. "Anna."

"Resolveu não matar aula hoje?"

"Pois é." Sorriu para mim. "Não podia deixar de te ver, minha linda."

Revirei os olhos, ouvindo a risadinha de Anna.

"Ele nunca desiste." Comentou, cutucando minha costela.

Apenas ignorei as horríveis cantadas do Jay e foquei na aula. Não me envolvi com ninguém depois da Lauren. Eu ainda a amo, só não a mereço.

Na hora do almoço, eu, Anna e Jay fomos juntos para o restaurante em frente à faculdade. Nós sempre almoçávamos por lá. Nos sentamos na mesa de sempre, e fizemos nossos pedidos.

"Nem me esperaram?" Perguntou Kelly, sentando ao lado do Jay.

"Você sumiu, e estávamos com fome."

"Quando a Mila não está com fome?"

"Muito engraçado, Jayson."

"E então, para onde vão nesse feriado?" Perguntou Anna, antes que eu começasse a discutir com Jayson.

"Vou passar metade na casa da minha mãe, e a outra com meu pai."

"Isso parece cansativo, Jay."

"Fazer o que se todos me querem."

"A Mila não quer." Kelly zombou, nos fazendo rir.

"Ela acha que não quer."

"Jay, é tão difícil para você entender que ela não gosta de homens?" 

"Da para vocês pararem de falar como se eu não estivesse aqui? E respondendo sua pergunta, não vou a lugar algum."

"Achei que fossem para Miami."

"Minha mãe e Sofia irão. ficarei por aqui mesmo."

"Eu vou para casa do meu namorado." Falou Kelly, animada.

"Meu sobrinho me convenceu a leva-lo na Disney, mas depois volto para te fazer companhia."

Terminamos de almoçar e voltamos para faculdade. Cada um foi para sua aula, e assim foi o resto do dia. Cheguei em casa exausta, fiz um lanche rápido, tomei uma ducha e cai na cama, desmaiando em seguida.

E assim eram os meus dias. Os fins de semana conseguiam ser pior. Nunca tinha nada para fazer e Sofia ficava muito ocupada com suas novas amiguinhas. Minha mãe começou a fazer serviço comunitário, já que por alguma razão, nós tínhamos dinheiro suficiente, e ela não precisava trabalhar. Então, quando Anna não podia ficar comigo, eu me trancava no quarto, curtindo minha solidão.

Amanhã mama iria para Miami com Sofia, elas insistiram para que eu fosse, mas eu não conseguia.

Desde o dia que deixei Miami, tenho sonhado com Lauren. Nada de interessante realmente acontece nesses sonhos, eu apenas a vejo. Acho que é meu inconsciente tentando não me deixar esquece-la, não que eu realmente quisesse esquecer.

Eu estava sempre pensando em Lauren. Como ela estava, se havia seguido em frente, ou não. Se está se alimentando, e não se jogando de cabeça no trabalho. Quando me mudei, conversei com Dinah sobre Lauren e esse sentimento que me impede de aceitar seu amor. Ela tentou de todas as formas me convencer a conversar com alguém, mas eu apenas sai correndo com o rabo entre as pernas.

Dinah me matinha informada sobre ela... Bom, não do jeito que eu queria. Mas se algo importante acontecia, ela me contava. De resto, Dinah se negava a ser uma especie de espiã.

Tantas vezes me peguei encarando o celular, com a sua conversa aberta, pensando em mandar algo. Até mesmo a ideia de simplesmente aparecer no hospital, só para vê-la, de relance que fosse. Só para ter certeza que ela estava feliz.

Por que eu não estava. Me afundava em uma tristeza profunda dia após dia. A cicatriz em meu peito me fazia remoer a culpa e abrigar a infelicidade como uma velha amiga ao meu redor.

Eu merecia isso.

O Som do Coração (Intersexual)Onde histórias criam vida. Descubra agora