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Conseguir sair do horizonte de eventos de um Buraco Negro torna-se uma tarefa simples se comparada a tentativa de achar uma vaga para estacionar em plena noite de Sexta-Feira, nas proximidades de uma boate.

Depois de rodarmos por quinze minutos finalmente o universo nos gratificou com uma vaga. Dois quarteirões acima da boate, é claro que ele não iria facilitar nada para mim.

- eu poderia encarar isso como um sinal do Cosmo para desistirmos de ir à essa boate, o que acha? - digo saindo do carro.

- você deveria encarar isso como uma conquista quase impossível. O melhor sempre é mais difícil. Para de ser tosca e apressa esse passo, aposto que Diego já está nos esperando.

Solto uma gargalhada irônica.

- nos esperando? Ele está esperando você!

Ele olha-me pensativo.

- tem razão... ele está me esperando. Mas ele te ama também, não fica com ciúmes. - fala com um tom brincalhão.

- Ciúmes!? Poupe-me, Rô! Não será um estudante de música que me fará ter ciúmes de você. Ainda mais sabendo que ele não quer nada sério com você. E você está ciente de que ele não quer nada sério com você, né?

Ao meu lado um Rodrigo carrancudo suspira alto.

- eu sei disso. Mas será que não posso me iludir apenas um pouco sem que você me puxe de maneira bruta para a realidade?

Chegamos em frente a entrada da boate.

- não, Rodrigo. Foi isso que você fez comigo, lembra? - Arqueio as sobrancelhas.

- okaaaaay! Você ganhou. Então, preparada?

Encaro a entrada e vejo dois homens de terno fazenso a segurança do local. Algumas luzes teimosas escapam por debaixo da porta. Depois de comprarmos os passes recebemos autorização para entrar. Empurro a porta com um pouco de esforço, e ao adentrar o recinto a música alta e quase incompreensível toca meus ouvidos como um lutador de MMA soca seu combatente no ringue, o jogo de luz bate violentamente meus olhos me deixando um pouco desnorteada por alguns milésimos, em mimha frente há um mar de pessoas amontoadas. Olho para meu lado e encontro Rodrigo balançado o corpo no ritmo da música, ele segura minha mão segue rumo à multidão.
E agora uma lição que levarei para toda vida: se você sabe que odeia multidões, lugares com pouco espaço, e morre de nojo de suor, nunca, jamais vá a uma boate. Estou aprendendo da pior forma. Enquanto Rodrigo abre caminho em meio as pessoas, sinto estas encostarem em mim com seus corpos suados e pisarem em meu pé sem ao menos pedirem desculpas.

Como diabos podem chamar isso de diversão?

Eu realmente quero me ver livre dessa gente. Alguns minutos depois, finalmente Rodrigo chega a uma parte mais afastada do mar de gente. Percebo que trata-se de um local próximo dos banheiros. "Ótimo, ao menos aqui estarei salva daquela massa enlouquecida".

- Vou procurar por Diego, quer algo para beber?
Ouço Rodrigo gritar em meus ouvidos. Obrigada, isso está cada vez melhor.

- Não, estou bem assim, ficarei aqui te esperando.

- okay, então. - ele diz e desaparece dentro da multidão.

Ao lado daquele banheiro e longe daquela massa composta por luzes, suor, pessoas e vozes que se misturam com a música estridente, penso estar a salvo.

Me engano.

Não preciso mais do que três segundos para ter este veredito em mãos. Não pretendia adentrar o banheiro, porém, um grupo muito animado e totalmente sem noção resolve postar-se próximo de mim e começar a dançar fazendo com que seus corpos cheios de bebida alcóolica se choquem contra mim. Reviro os olhos e, contra minha vontade, atravesso a porta que dá acesso ao interior do banheiro. Salvo meu corpo, mas meus ouvidos não tem a mesma sorte. Uma voz asquerosa me faz ficar congelar poucos centímetros da porta.

A voz do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora