Os olhares perplexos pairavam sobre ela. Carina baixou os braços e mordeu o lábio nervosa com toda aquela atenção. Os olhos de todos na sala estavam sobre ela, mas ela encarava apenas uma pessoa. Vitor.
-Dormiu bem, querida? - Virginia indagou deixando a taça de vinho que tinha mão sobre a mesinha de centro antes de caminhar até ela. - Carina pediu para eu não te contar, Vitor. Mas ela veio fazer uma surpresa e acabou adormecendo devido a longa viagem, não é, querida?
Carina assentiu agradecendo a Virginia apenas com o olhar.
-Você está de férias? - Alegria indagou.
-Podemos dizer que sim. - disse meio incerta. Suas férias seriam por um tempo indeterminado. - O que posso fazer se já estava com saudades dos meus amigos?
Mário foi o primeiro a caminhar até ela e abraçá-la. Carina o abraçou com força. Ela realmente estava com saudades deles, mas isso não seria motivo suficiente para fazê-la desistir de seu lindo apartamento em Paris.
-Que sorte você chegar justo hoje. - Alegria disse e então quando estava abraçando-a sussurrou. - Esse casamento não dura nem um mês.
Carina riu baixinho fingindo concordar. Ela sabia que quando contasse sobre a gravidez, ele não duraria nem uma noite. Para Carina o que se seguiu foi uma série de abraços que não pareceu ter fim.
-Rina, quero apresentar a você a minha noiva. - Vitor disse a segurando pela mão e levando-a até Fabiola. Carina respirou fundo e pôs seu melhor sorriso no rosto antes de abraçar a mulher loira.
-Vitor fala muito sobre você. - Fabíola falou embora seu tom não fosse de raiva ou inveja, Carina não pôde deixar de notar o incômodo naquela frase.
-Tenho que dizer o mesmo. - mentiu. Vitor nunca havia lhe falado sobre Fabiola em nenhum momento nos últimos meses e aquilo a irritou demais. Carina odiava ser a última a saber de algo. - Ele só não me falou no que você trabalhava.
-Sou policial. - Fabiola disse e Carina sorriu novamente. - E você é advogada, não é?
-Sim. Sim. - Carina afirmou pensando que até um dia atrás ainda era.
-Carina, querida, você poderia me ajudar com o peixe? - Virginia indagou, indicando a cozinha com um aceno.
-Claro. - ela afirmou e sorriu para Fabíola. - Com licença.
Carina se apressou para seguir Virgínia para a cozinha. Somente quando entrou no cômodo deixou o ar escapar de seus pulmões.
-Pegue um pouco de água, querida. - Virginia estendeu o copo para ela, Carina aceitou vendo sua mão tremer. - Eu também não sabia que ele faria isso, foi uma surpresa para mim. Carina, isso não muda nada.
-Muda, Virginia. Vitor vai se casar, mesmo que eu ache que isso não dure mais do que um mês, ele está com outra.
-E lhe incomoda ele estar com outra? - Virginia indagou, Carina a encarou pelo canto do olho. Aquela pergunta era uma armadilha que ela com certeza não iria cair.
-Ele é o meu melhor amigo e eu só quero o seu bem, eu não conheço Fabíola e não sei como ela irá reagir quando souber que ele vai ter um filho com outra pessoa. Eu não quero vê-lo com o coração partido. - disse com calma e serenidade. Virginia abriu a boca para retrucar, mas então o bip do alarme tocou indicando para tirar o peixe do forno.
Carina respirou um pouco aliviada de estar mudando de assunto.
-Eu sempre achei que vocês dois se davam bem demais para não serem um casal. - Virgínia comentou colocando a assadeira com o peixe sobre o fogão.
-Acredite, Virginia. Já tentamos isso e percebemos que não damos certo como um casal. Eu e Vitor pensamos diferente quando se trata de certos assuntos.
-Que tipos de assuntos?
-Você sabe como ele é quando se trata do amor. Ele se entrega sem olhar ou hesitar. Ele quer uma família. Um final feliz de conto de fadas.
-E o que você quer?
-Eu? Não tenho a menor ideia, mas eu não me importava, estava apenas vivendo minha vida da maneira que achava mais apropriada. Eu não me preocupava com o tempo, mas agora... - ela colocou a mão sobre a barriga. - Eu tenho que ter um plano.
Virginia suspirou, retirou as luvas térmicas e caminhou até ela. Carina não hesitou em devolver o abraço dela.
-Você tem nove meses para se planejar e não estará sozinha. - Virginia assegurou, Carina sorriu. - Agora volte para sala e expulse todos para o quintal. O jantar logo vai ser servido. - Carina assentiu rindo baixinho. - Sei que pode soar clichê, mas a maternidade irá te transformar. Você verá.
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As gargalhadas ecoavam altas pelo quintal. Carina bebeu um pouco do seu suco de morango, Virginia havia feito especialmente para ela. Carina se questionou quanto tempo levaria até enjoar da doçura de Virginia, diziam que mulheres grávidas enjoavam fácil, mas ela não queria enjoar dela.
-Tínhamos aquele lugar que íamos nos finais de período. Carina, para onde era mesmo? - Vitor indagou chamando sua atenção. - Aquela sua casa perto do lago. Qual era mesmo o nome do lago?
Carina mordeu o lábio. Vitor sabia muito bem que a casa do lago era o refúgio dela, Carina não conseguia entender porque ele estava falando aquilo se sabia o que a casa significava para ela.
-Você nunca disse que tinha uma casa no lago. - Alegria disse. - Por que não passamos o final de semana lá? - ela sugeriu e todos concordaram. Carina tentou manter o sorriso, mas vacilou.
-É a casa da minha mãe. Eu tenho que falar com ela e pedir a chave. - disse tentando impedir aquela conversa de prosseguir. - Eu nem sei onde ela está. Vai ser difícil pegar a chave se ela estiver em Londres ou Barcelona.
-Heloise está na cidade, ligue para ela. - Vitor sugeriu.
-Minha mãe está na cidade? Eu não sabia disso.
-Tio Jay veio para uma reunião e Heloise o acompanhou. Ligue para ela, tenho certeza que Heloise ficará feliz quando souber que você está aqui.
Carina franziu a testa para Vitor. Ela odiava quando as coisas não cooperaram ao seu favor.
-Ok. Vou ligar pra ela. - se levantou da cadeira onde estava e seguiu para dentro da casa.
-Pela sua cara algo não está certo. - Virgínia comentou enquanto Carina se jogava na cadeira da mesa.
-Eles querem passar o final de semana na casa do lago, eu tenho que pedir a chave da casa para mamãe. Você poderia fazer isso por mim, Virginia? - ela pediu olhando suplicante para a mulher. - E evitar dizer que eu estou aqui.
-Carina! Sua mãe precisa saber que você está aqui.
-Eu sei. Mas estou tentando evitar o confronto sobre meu emprego. Por favor Virginia, diga que eu cedi a casa para Vitor e que só precisa da chave. Eu juro que conto tudo para ela quando voltar. - prometeu juntando as mãos à frente do corpo. Virginia hesitou, mas assentiu.
-Por que você está com tanto medo dela?
-Mamãe é um pouco exagerada de vez enquanto. Você a conhece, Virgínia. Sabe como ela vai fazer uma tempestade no copo d'água.
-Ela apenas quer o seu bem. Toda a mãe apenas quer o bem do filho. Não culpe Heloise por ser tão protetora. Ela apenas não quer que você passe pelo mesmo que ela passou quando seu pai deixou vocês. - Virginia se aproximou dela e se sentou a sua frente. - Sua mãe quer que você tenha sua própria vida e não dependa dos outros.
-Eu sei, Virginia. Eu sempre tive esse pensamento e ainda tenho. Eu quero ter o meu bebê, mas não quero precisar de ninguém, mas para isso tinha que ter o meu emprego, coisa que não tenho mais! - Carina grunhiu jogando as mãos para cima. Virginia riu de seu desespero.
-Não se preocupe, querida. O pior ainda estar por vir.
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Coisa Linda
ChickLitCarina Monte e Vitor Noce são melhores amigos... na verdade eles são péssimos amigos. A base do relacionamento deles é a completa falta de tempo que um tem para o outro. Eles são amigos há mais de uma década compartilhando seus melhores e piores m...