12. Descompensada

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Ela havia encontrado um vestido preto com estampa floral em um tecido quase translúcido. Carina girou rodando a saia evasê do vestido. Sua barriga não marcava e ela continuava se sentindo sexy. O que era algo maravilhoso, porque ela não estava conseguindo se sentir bem consigo mesma naquele momento. A gravidez não havia lhe feito aquele bem que todas as mulheres falavam, na verdade ela não tinha o brilho da gestação em seus olhos ou a áurea do amor materno. Longe disso, Carina se sentia exausta e constantemente acabada.

-É esse? - Alegria indagou. Ela estava jogada na poltrona já irritada com toda aquela "cena". - Por favor me diga que sim, nem eu demorei tanto para achar o meu vestido.

-Claro que não. Apenas seis meses. - murmurou ironicamente. - Mas sim. É esse. Pelo menos sei que até a cerimônia minha barriga não vai crescer tanto.

-Então, já sabe o que vai ser? Menino ou menina? - Gisele indagou folheando a revista de moda. Carina se virou para o espelho do provador acariciando a barriga.

-Ainda não fizemos outro exame. Mas sei que é menino. - disse com confiança.

-Por quê?

-Eu não sei, apenas sei. - deu de ombros entrando no provador e fechando a cortina.

-Instinto materno. - Alegria sugeriu. Carina balançou a cabeça, mas então disse em voz alta.

-Não. Isso não é pra mim.

-O quê não é mais para você?

Carina puxou a cortina e colocou a cabeça para fora.

-Ser mãe. Isso não é pra mim.

-Você não pode dizer isso antes de ter um bebê no colo, aí você vai saber que isso é para você. Toda mulher tem um instinto materno dentro de si. - Alegria disse. Carina se segurou para não revirar os olhos e então voltou para o provador. - É tudo uma questão de tempo.

Carina soltou uma gargalhada irônica e começou a retirar o vestido. Os segundos seguintes foram em silêncio até que ela ouviu passos se aproximando e uma doce voz familiar dizer.

-Olá garotas.

Carina espiou pela cortina vendo Fabíola sorrir para Alegria e Gisele. Sentiu seu corpo reter de tensão. Fechou a cortina lentamente fazendo o máximo de silêncio que conseguia.

-Fabíola, o que faz por aqui? - Alegria indagou em um tom de voz mais alto do que o normal. Carina sabia que ela estava tentando lhe avisar.

-Vim comprar meu vestido para seu casamento. E vocês?

-Apenas andando por aí. - Gisele disse. - Mas já achou seu vestido?

-Ainda não. Acharam algo bonito nessa loja?

-Sim. Vem comigo que eu te mostro.

Carina ouviu os passos se afastarem então se apressou para se trocar. Pegou o vestido e saiu do provador.

-Vamos sair daqui antes que ela volte. - murmurou correndo em direção ao caixa, mas parando quando Fabíola pareceu se virar em sua direção, ela então se escondeu atrás de uma arara.

-Qual o problema de Fabíola te ver? - Alegria indagou olhando para ela um tanto perplexa.

-Eu ainda não falei com ela desde que sai correndo da casa de campo. E depois Vitor contou para ela sobre o bebê e agora eu não sei em que pé estamos. - balbuciou enquanto se arrastava pela arara.

-Ah, entendi. Você está com medo dela.

-Claro que não. - retrucou irritada.

-E isso aqui é o quê?

-Uma saída estratégica. - murmurou e então empurrou o vestido para ela e o cartão de crédito. - Você sabe a senha, agora vá pagar que eu te espero lá fora.

Alegria abriu a boca para revidar, mas Carina rapidamente saiu correndo para fora da loja tentando não chamar muita atenção.

Ela correu para a loja mais próxima, que ironicamente era um loja infantil. Havia uma clima estranho naquele lugar, como tudo fosse feliz demais. Colorido demais. Enjoativo demais. Carina começou a caminhar entre os corredores observando os ursos e brinquedos infantis. Pegou na prateleira um pequeno sapatinho de tecido que se assemelhava a um all star de cano curto, eram tão fofinho e pequeno que Carina se perguntava se haveria alguém com o pé tão minúsculo para caber dentro dele.

Ele sorriu colocando o sapatinho na palma da mão aberta, ele não media mais do que dez centímetros, era vermelhos com cadarços brancos. Em sua mente surgiu a imagem de um bebê calçando-o. Seu bebê.

-Eles são fofos, mas inúteis. Depois de duas semanas já não servem mais. - Carina se virou dando de cara com Beatriz.

-Isso está virando perseguição. - murmurou devolvendo o sapatinho para a prateleira.

-Esta é minha loja favorita e eu estou terminando a decoração do quarto de Tomás. Mas eu pensei que você não fosse esse tipo de mãe que vem comprar a decoração antes de saber o sexo.

-E eu não sou. Apenas estou de passagem, minhas amigas estão fazendo compras e eu decidi entrar aqui. - mentiu tentando soar convincente.

-Ah, então isso não tem nada haver com a loira muito bonita na loja ao lado, que eu tenho quase certeza que é noiva do seu "amigo". - Beatriz segurou uma manta verde e sorriu para ela. Carina entreabriu a boca surpresa. - Devo ter me enganado.

-Como você sabe?

-Eu vi você saindo correndo da loja depois que a loira entrou. E também ouvi você discutindo com sua amiga, Alegria não é?

-Sim. Você não tem nada melhor para fazer não, Beatriz? Tenho certeza que você não é o tipo que fofoca sobre a vida dos outros.

-Primeiramente, me chame apenas de Bea. E depois, não é fofoca se as coisas acontecem na minha frente. - ela deu de ombros e pegou um par de sapatinhos lilases. - Você tem um vida um pouco mais agitada do que o normal. É como uma novela mexicana, é meio difícil não se sentir atraída pelo seu drama.

Carina franziu a testa e balançou a cabeça se sentindo confusa. Bea sorriu para ela enquanto passava para outro corredor. Carina mordeu o lábio, já podia sentir a pele sensível devido as inúmeras vezes que seus dentes encontravam a carne de seus lábios, ela então o soltou e sem pensar pegou o par de sapatinhos all star, caminhou decidida até o caixa sem pensar em mais nada.

Bea estava certa, sua vida era uma novela mexicana, mas ela não queria que terminasse em tragédia.

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Carina deixou a sacola em cima da cama, pegou a bolsa e retirou os sapatinhos. Ela os observou com um certo carinho. Carina não conseguia se imaginar segurando um bebê, o amamentando e acalentando-o. Ela não sabia se conseguiria dar o amor que ele precisava. Aquele pensamento deu um nó em seu estômago, seus olhos lacrimejaram e ela sentiu as lágrimas escorrerem pelo seu rosto.

Ela não chorava há muito tempo. Era estranho porque ela sentia que havia esquecido como se chorava, as lágrimas rolando, aquela sensação de sufocamento apertando seu peito, o jeito como os soluções saiam pela sua boca, estes quais ela não sabia controlar. Carina estava se odiando naquele momento. Ela havia se mantido forte quando recebera a notícia da gravidez e da demissão, seu quase aborto e a revelação. Ela não havia chorado pois sabia que não havia lágrimas para isso, porém naquele momento, ela já não podia segurar aquela angústia que lhe remoía o peito.

-Ok. Eu posso fazer isso. - sussurrou limpando as lágrimas do rosto. - Eu posso. Eu tenho que fazer isso. Não se preocupe. Estamos bem.

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