A impossibilidade justa

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"Enquanto alguns avançam, o resto se retira. Enquanto alguns inspiram, outros respiram. Enquanto alguns são fracos, o resto é forte. Enquanto alguns ficam parados, o resto vai em frente." - Provérbio chinês


A Justiça é literalmente cega. Não vê as formas dos seres, mas sim a energia interior de cada um. Não faz distinção categórica. Todos são iguais a seu entendimento; todos tem direitos e deveres na Terra, seja humano ou deus. Porque a Justiça segue os mandamentos da Temperança e é parceira da Ordem. Esta é a função de Jimin. O deus soberano justo que só compreende as causas e os efeitos, os atos e as consequências, a dívida e o pagamento. E é injusta a forma como já o cobraram para ir além.

Quando Jinsil – a Verdade – e Sunseo – a Ordem – se unirão para conceber um deus que melhorasse o modo de existência dos seres, sugeriram – autoritários – que a Justiça fizesse o mesmo com a Sabedoria. A Ordem foi a que mais o exigiu, considerando que poderia segregar mais a vida e que isto era o melhor. Ela estabeleceu o modo de reprodução, os órgãos sexuais, as hierarquias e ignorou a liberdade do ser. Esqueceu que nascera neutra como qualquer um e optou por discriminar tudo. Odeia o fato de Jimin e Namjoon se manterem sem gênero, somente respeita a Temperança por ser a manifestação do Universo para as suas criaturas.

Foi estranho saber que o plano de gerar um semelhante deu errado em parte. A Verdade se afligiu ao saber que sua cria perfeita teria um diren e, mais tarde, ele ser seu gêmeo. O Justo ponderou a situação e encontrou sentido. Não há como existir tanta luz e nenhuma sombra. Mas lhe era curiosa a maneira da deusa de se importar com um e detestar o outro. Por que não os tratar como iguais já que são seus filhos? Sunseo gostou de conseguir estabelecer o bem e o mal, assim, o mundo fica mais organizado a seu ver. No entanto, Jimin ainda não entendia Jinsil. Ela deveria aceitar os fatos e engolir seu orgulho. Tem de ser uma deusa da Verdade autêntica.

Um dia, uma presença singular surgiu. Nunca sentiu algo com tal impacto antes. Não era divina ou humana. A Justiça se conteve de contar para a Ordem, sabia que ela caçaria até no inferno para descobrir quem fugia de seu padrão formado. Decidiu, então, buscar resposta por si só.

A presença voltou a aparecer e logo quando estava diante de Jiezhi – a Temperança. A Soberana parecia saber, porém preferiu o silêncio, o que irritou Jimin. Afinal, o que é este ser?

Fora visitado novamente em seu palácio de mármore e dessa vez ela se comunicou. Amigável e divertida, não perguntou nada pessoal e nem o tratou como um deus supremo. Falou aleatoriedades e ouviu da mesma forma. Era interessante como atiçou a curiosidade do divino.

Os encontros se tornaram constantes e, em um deles, lhe foi dito seu nome: Taehyung. Cântico para os ouvidos do deus de cabelos prateados, assim como sua voz. As histórias que contava, as risadas que soltava, seja manhã, tarde, noite ou madrugada, sempre descrevia o céu com formosura e poesia. Antes de partir, tocava as mãos da Justiça como se fossem o instrumento mais delicado e precioso.

A surpresa veio, após uma reunião entre os Supremos, quando Namjoon lhe perguntou sobre Hoseok, o Impulsivo. Não soube responder, só tinha conhecimento de que a Verdade escondia algo a cerca disso. Ela já estava passando dos limites com o descaso em sua função primordial. As visitas de Taehyung se tornaram menos frequentes. Nisso, a Luz se corrompeu com as Trevas e sua presença desapareceu por completo. A Verdade quase surtou e a Ordem tentou manter a calma, mas Jimin também estava desesperado. Fora abandonado pelo ser que ganhou demasiada importância para si. A Sabedoria, sua amiga mais chegada, também largou tudo e foi-se com a Imprudência. Jinsil sucumbiu e Sunseo enlouqueceu. Para eles, não havia mais esperança, era o fim dos deuses e da humanidade. A Justiça discordava, afinal, todos os ensinamentos divinos já estavam estabelecidos e os homens os praticam de praxe.

O pecado do ouroOnde histórias criam vida. Descubra agora