A sábia imprudência

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"Lembre-se que grandes realizações e grandes amores envolvem grandes riscos." - Provérbio Chinês


Se a Sabedoria se apaixonou pela Imprudência, por que a Luz não amaria a Escuridão, sua companheira fiel? Se não existisse o imprudente, o ser sábio seria alguém comum. E, sem o meio termo, não existiria a harmonia.

Namjoon, o deus Erudito, a Sabedoria entre os homens, um dos soberanos responsáveis pelo Equilíbrio Universal – juntamente com Jinsil, a deusa da Verdade, e três outros que carregam consigo a esfera yin-yang – quebrou o acordo e se envolveu com um deus menor. Se Jin não tivesse visto com seus próprios olhos, jamais imaginaria tal relação. Um soberano deve somente copular com outro soberano, assim como a Verdade e a Ordem – que geraram os gêmeos –, mas ele se deixou encantar pelo tolo Hoseok, o deus Irresponsável, a Imprudência entre os homens, classificado no lado yin, mas o deus Luz figurou que ele pode estar na interseção, andando na linha tênue entre o bem e o mal, a origem e o destino. Volátil ao ponto de pender para um dos lados quando lhe convém, ao contrário dos deuses supremos que nunca devem ser extremos. Fenômeno raro, nunca avistado e que interessou a Namjoon, o único que questionou as ações do outro.

Depois de fugir do Palácio de Ouro, a notícia da impureza de Jin logo se espalhou pelo plano divino. Foi tratado como um exilado pela maioria, mas a Sabedoria correu até os irmãos para entender o motivo. Como o ser do conhecimento absoluto não compreende a razão dos dois? E a Imprudência já rondava seus pensamentos, pois ela que o fez buscar por respostas, talvez o caso dos gêmeos ajudasse. Porém não funcionou. Fazia sentido o Sol sucumbir ao reflexo da Lua. Ser vencido pela consequência de seu grande brilho. E Hoseok? O que o fazia ser inconstante? Jin se voluntariou a colaborar, mesmo com Sin dizendo o quão desnecessário aquilo era.

O deus menor é um completo mistério. Está além de mera insensatez, suas ações até parecem ter um padrão contraditório: não fazer o que esperam de si. Ele afunda de cabeça com suas falas quaisquer, gestos e atitudes aleatórias. É como estar preso em um labirinto onde todas as rotas te levam a um beco sem saída. Jin , com o tempo, desistiu, só continuou a apoiar e ouvir as teorias de Namjoon.

Um período oito luas se passou, o impuro aos olhos de todos e o profano foram convidados para uma pequena assembleia das divindades menores. Seria discutido se os integrariam ao Conselho Divino Menor para estabilizar o vazio no Conjunto Universal que deixou de ter a luz e as – pouco creditadas – trevas. Hoseok estava ali, agindo de forma espevitada e irritando muitos dos presentes.

Ao final, nenhuma decisão foi tomada e Jin fica mais interessado no imprudente saindo apressado do que em sua situação. Segue-o, Sin fica para trás, falando sobre não querer saber o que já era óbvio e indo provocar alguns deuses que o temem.

Hoseok vai para o plano humano. Adentra em uma floresta de mata densa e segue ao encontro de uma figura formosa de vestes prateadas, sentada em um tronco caído na pequena clareira iluminada pelos raios de sol que escapam das folhas das altas árvores.

– Que lugar para me chamar – anda lentamente até o deus de cabelos muito castanhos. – A que devo a honra, Oh Grande Sabedoria?

– Não zombe – é censurado pelos olhos tempestuosos.

– Não gosto de ser perseguido – a Imprudência engrossa a voz. Seu rosto, antes divertido na assembleia, agora, está rígido. – Quando vamos parar com essas brincadeiras? Está perdendo a graça.

– Estou sério, Hoseok – o deus Supremo responde calmo, sem o encarar nos olhos.

– Eu não ligo – o Impulsivo se senta desleixado a seu lado.

O pecado do ouroOnde histórias criam vida. Descubra agora